segunda-feira, julho 04, 2011

A propósito do caráter não-científico do marxismo - parte V


Alphonse van Worden - 1750 AD














Seria aparentemente plausível sustentar que a crítica da economia política, tal como exposta na obra do pensador alemão, vai ao encontro da necessidade de uma teoria fundada cientificamente.

Ocorre, não obstante, que a crítica da economia política é um saber social, cujo objeto é historicamente construído, submetido, portanto, às cambiantes injunções do agir coletivo humano. Um objeto de estudos como o oxigênio, por exemplo, sempre será, per saecula saeculorum, idêntico a si mesmo, ou seja, sempre será oxigênio; algo como a 'economia política', ao contrário, é uma realidade movediça, transitória, oscilante. Um 'objeto' com tais características, repito, não é capaz de gerar conhecimento científico, mas sim saberes de índole necessariamente pragmática, provisória e assistemática.

É mister sublinhar ainda que dentre os predicados necessários a uma teoria científica, está a capacidade de postular como um determinado conjunto de fenômenos irá proceder dadas certas condições pré-determinadas. Pois muito bem: como o 'cientista' social pode ser capaz de estabelecer, com rigor conceitual lastreado em observações empíricas, o comportamento do fenômeno 'revolução'? Como prever, sem extrapolar circunstancialmente o que dispõem os estritos pressupostos da teoria, a ocorrência de uma revolução? Teorias científicas são propostas especulativamente, e delas são deduzidas as muitas conseqüências a que dão lugar, a fim de que essas possam, indiretamente, ser confrontadas com os fatos experimentais. Como então confrontar as teorias propostas com o facto 'revolução'? Existe, pois,  uma irracionalidade inerente a todo processo revolucionário. Destarte, como então estabelecer de forma lógico-demonstrativa os parâmetros que nortearão uma revolução, visto ser sua dinâmica condutora algo irracional, imprevisível, inefável? Podemos afirmar que daqui a 54343322 anos a composição de uma molécula de água será H20... poderá o 'cientista' marxista asseverar como se dará um processo revolucionária na mesma escala temporal?

Todo esse acervo de considerações nos conduz, ao fim e ao cabo, à seguinte questão: por que Marx 'errou'? Justamente porque a sociologia e os demais saberes não possibilitam a formulação de predições científicas; Jamais poderíamos pretender que um pensador social determine com rigor científico qual será o procedimento de um evento social no futuro, uma vez que tais eventos estão submetidos ao fluxo aleatório, errante e imprevisível da ação humana.

Sempre haverá alguém  a alegar que os melhores sucessores de Marx corrigiram seus postulados equivocados, ao que replico: onde e em que circunstância verificou-se a comprovação empírica das ocorrências previstas pelos novos postulados? N'outros termos: as premissas do marxismo fatalmente implicavam uma determinada conclusão ou conjunto de conclusões. Novamente indago: tais conclusões se verificaram? Onde está a comprovação empírica do que havia sido especulativamente estabelecido como conseqüência causal da teoria 'científica' marxista? E que não se invoque a cláusula temporal: teorias científicas não podem ficar eternamente aguardando em berço esplêndido pela comprovação a posteriori de seus postulados.

Constatando que os fenômenos previstos pelo marxismo não se verificaram, amiúde seus entusiastas voltam insistir na realidade empírica dos construtos conceituais, tal como o o de 'mercadoria, por exemplo; eu, por meu turno, repito o que adrede : que é uma 'mercadoria'? Qualquer produto (matérias-primas, gêneros, artigos manufaturados etc.) suscetível de ser comprado ou vendido. Assim sendo, o que empiricamente existe são os objetos designados pelo conceito 'mercadoria', mas não o construto conceitual em si mesmo, que é uma generalização dedutiva. Destarte, o objeto-cadeira é uma realidade empírica (a 'cadeira' objeto singular no espaço-tempo, saliente-se bem, não o conceito 'cadeira'), mas a noção de 'cadeira' como objeto que pode ser comprado ou vendido já envolve uma série de generalizações conceituais dedutivas. Envolve, por exemplo, os conceitos de 'compra' e 'venda', que obviamente não são entes empíricos singulares no espaço-tempo, mas universais, no caso construtos conceituais elaborados pela razão humana para designar determinados procedimentos sociais. Em síntese: o conceito 'mercadoria' (e que, aliás, também envolve outros conceitos, como acabamos de ver) designa objetos reais como cadeiras, mas é em si mesmo tão somente um ‘nome’, uma instância cognitiva mental. O mesmo vale para uma noção como 'trabalho, outrossim: da mesma forma que ‘mercadoria’, a generalização conceitual a que damos o nome de ‘trabalho’ designa um dado conjunto de fenômenos empíricos, estes sim concretamente existentes.


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