sábado, junho 26, 2010

Tributo a La CELESTE!




"(...) Quita Míguez para apoyar a Schiaffino; frente a él se defiende Bigode. La resta al centro de la cancha donde va a tomar Gambetta. Se corre Gambetta. Cruza la pelota en dirección a Julio Pérez. Julio Pérez arremete de frente a Danilo. Lleva la pelota Pérez. Le traba la pelota Danilo. Con todo la vuelve a tomar Pérez. Se repliega. Elude a Bauer. Apoya a Obdulio Varela. Varela al puntero Ghiggia. Avanza Ghiggia perseguido por Bigode. Lo anula Ghiggia a Bigode. Se corre al arco. Coloca el centro. Toma Schiaffino. Tira. Goool, goool uruguayo! Gol de Schiaffino! Schiaffino a los 21 minutos!(...) Uruguay 1 Brasil 1! (...)"


"(...) Se va delante Julio Pérez con la pelota esperando que se cruce Ghiggia. Julio Pérez sigue atacando. Pérez a Ghiggia. Ghiggia a Pérez. Pérez avanza, le cruza la pelota a Ghiggia. Ghiggia se le escapa a Bigode. Avanza el veloz puntero derecho uruguayo. Va a tirar. Tira. Goool, goool, goooool, goooooool uruguayo!!! Ghiggia tiró violentamente y la pelota escapó al contralor de Barboza! A los 34 minutos, anotando el segundo tanto para el equipo uruguayo. Ya decíamos que el gran puntero derecho del conjunto oriental estaba resultando la mejor figura de los uruguayos! (...) Uruguay 2 Brasil 1!!!(...)"



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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

terça-feira, junho 01, 2010

A propósito de Orson Welles




Atrevo-me a suspeitar, no entanto, que Citizen Kane perdurará como “perduram” certos filmes de Griffith ou de Pudovkin, cujo valor histórico ninguém nega, mas que ninguém se resigna a rever. Padece de gigantismo, de pedantismo, de tédio. Não é inteligente, é genial... no sentido mais sombrio e mais germânico dessa má palavra.

Jorge Luis Borges (Sur - nº 83, Agosto de 1941)
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Eis o desfecho da resenha escrita por Borges a propósito do grande clássico do opus wellesiano (de resto brilhante, como, aliás, qualquer coisa urdida pelo mestre argentino, é claro). É possível afirmar, todavia, sem incorrer em heresia, que o grande escritor argentino equivocou-se parcialmente em seu vaticínio: Citizen Kane (assim como os filmes de Griffith e Pudovkin, naturalmente), de facto perdura, na história do cinema, mas não como mera relíquia histórica, e sim como obra sempre viva. Ademais, discordo enfaticamente que a fita sofra “de gigantismo, de pedantismo, de tédio”; muito pelo contrário, diga-se de passagem: irradia energia vital e excitação febril.

Borges, todavia, não poderia ter sido mais exato em sua observação final: ambos, criatura e criador, pertencem, com efeito, à rarefeita esfera da genialidade, e precisamente “no sentido mais sombrio e mais germânico” do termo. Welles incorporou a substância vital do expressionismo alemão, todo aquele pendor para contrastes violentos, os pesadelos, a noite indistinta, a névoa sinistra, e guindou todo esse universo a um patamar de excelência formal que não possui paralelo até hoje.

Em qualquer obra de Orson Welles, por menor que seja, há algo de fenomenal, de estratosférico, de assombroso, pois a sofisticação estética, o poder de sugestão atmosférica e o virtuosismo técnico do cineasta norte-americano assumem um caráter positivamente sobrenatural. Assim sendo, nem mesmo há necessidade, no intuito de fundamentar a relevância de seu cinema, de recorrermos aos mais notórios cavalos de batalha do diretor.

Considere-se, por exemplo, um filme como The Lady of Shangai (1947): o roteiro praticamente inexiste; ou, na melhor das hipóteses, poderia ser qualificado como um tremendo disparate. Não obstante, basta a extraordinária sequência final, com seu estupefaciente caleidoscópio de espelhos e personagens interseccionando-se infinitamente no espaço, labirinto hipercinético de formas complexas, multifacetadas e polimórficas, para transformá-lo numa obra-prima de primeiríssima grandeza; Macbeth (1948), por seu turno, mesmo rodado em condições absolutamente inviáveis, com uma verba de produção d’uma pobreza franciscana (há, inclusive, cenários de papelão, como o rochedo das bruxas e as muralhas do castelo), conjura uma atmosfera de tal modo espectral, ominosa e fantasmagórica, vera “emanação de sopros glaciais do além” (Bela Balázs), que a precariedade da produção torna-se de todo irrelevante; e poderíamos prosseguir com outros exemplos, tendo em vista que observações análogas poderiam ser feitas a propósito de todos os filmes do cineasta.

Welles realmente paira no empíreo cinematográfico, e por essa razão sentencio sem pestanejar: o cinema é ELE e o resto. Carl Theodor Dreyer, por exemplo, com a densidade filosófica de seus severos exercícios visuais de teologia luterana, pode ser um cineasta mais profundo; Glauber Rocha criou uma obra de ressonâncias míticas e simbólicas bem mais amplas, assim como Jean-Luc Godard, por outro lado, se calhar logrou atingir o ápice do cinema em termos de sofisticação narrativa. Não obstante, em termos de pura arte cinematográfica, do ‘específico fílmico’, como diziam os escribas da Cahiers du Cinéma, enfim, da essência primordial da ‘sétima arte’ (que a meu ver deve fugir do modelo estrutural da literatura como o diabo da cruz!) como transfiguração cinética da pintura, arte de conceber geometrias móveis de texturas, sombras e volumes, Mr. Orson Welles é pura e simplesmente insuperável, projetando-se um milhão de anos-luz à frente da concorrência.





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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

O 'Problema da Indução' em Carl Gustav Hempel

Alphonse van Worden - 1750 AD





O filósofo e lógico alemão Carl Gustav Hempel (1905-1997), participante, assim como Reichenbach, do célebre Círculo de Viena, irá retomar, em obras como Aspects of scientific explanation and other essays in the philosophy of science (1965) e Philosophy of natural science (1966), a idéia de relacionar indução e probabilidade; Hempel considera, todavia, que a probabilidade em tela não é estatística: trata-se da probabilidade de enunciados, e não de classes de acontecimentos. Compreendendo a noção de probabilidade em termos de credibilidade racional (em outras palavras, de enunciados indutivos aos quais um conjunto de X experimentos conferiu, até o presente momento, um elevado grau de probabilidade), a proposta de Hempel, formulada no âmbito da Filosofia da Ciência, já não pretende afirmar que a tem uma crença justificada em b (CJab), mas tão somente que a tem uma crença racional em b (CRab). É importante salientar a distinção existente entre as duas proposições acima: CRab nos informa tão somente que a crença de a em b é racional, em outras palavras, é dotada de consistência probabilística; em CJab um passo à frente é dado: a crença em questão é não apenas racional, mas cientificamente justificada.

É possível constatar, no contexto de uma concepção como a de Hempel (e também na proposta de Russell), um amplo deslocamento conceitual em relação à proposta original de Hume, no sentido de passar da busca de uma justificação para a indução tout court para o projeto de uma justificação que permita o uso da indução em ciência e filosofia. Um problema fulcral, entretanto, permanece: que tipo de indução a filosofia e a ciência devem ou podem empregar?

O problema de associação entre indução e probabilidade, no âmbito do pensamento de Hempel, pode ser sintetizado da seguinte maneira: Se a probabilidade de que A ocorra é independente em cada ocasião, sua probabilidade não aumentará com obtenção do mesmo resultado em ocasiões futuras; sua probabilidade, ao contrário, continuará sendo a mesma em todas e em cada das ocasiões, como já nos foi possível constatar examinando os exemplos propostos por Russel. Se a possibilidade de que A ocorra é, portanto, explicável em termos probabilísticos tanto, estamos diante de uma probabilidade condicionada, e faz-se mister demonstrar se tal relação é estatística ou necessária; sendo estatística, sua demonstração envolve petitio principii, e sendo indutiva, é circular, conforme também já observamos em Russel.

No supracitado Aspects of scientific explanation and other essays in the philosophy of science (1965), C. G. Hempel nos apresenta o seguinte exemplo, bastante ilustrativo em sua análise da natureza das inferências indutivas; consideremos, pois, as proposições abaixo:


1) A é F

2) a proporção de F que é G é q

3) Logo, considerando-se q, A é G


O enunciado (2) estabelece que uma determinada proporção q de F é G, o que necessariamente implica que o valor de q é finito, assim como o conjunto F pode ser considerado igualmente finito; contudo, na análise da freqüência de um determinado fator no âmbito de uma dada comunidade humana, como no exemplo de Hempel em tela, é forçoso considerarmos não apenas a eventualidade de um índice de erros x aleatoriamente ocorridos, bem como a imprecisão no próprio universo de amostragem pré-determinado, de modo que a amostra escolhida possa revelar-se inadequada em virtude de questões meramente aleatórias, e não em função de princípios metodológicos prévios; isto significa que, numa série de n ocorrências do conjunto F, temos de considerar uma série m, tal que m < n, de ocorrências aleatoriamente escolhidas. Em outros termos: apenas um subconjunto do conjunto de observações realizadas intervém na análise estatística, e tal subconjunto é constituído por elementos escolhidos ao acaso; e por sua vez, tendo em vista a lei dos números cardinais, a freqüência-limite teórica exige que o número de elementos do conjunto seja infinito.

Em Provisoes: A Problem Concerning the Inferential Function of Scientific Theories, artigo publicado em 1988, Hempel trabalha a questão da inferência indutiva ao criticar um aspecto característico da teoria da ciência do positivismo lógico: a natureza dedutiva das teorias científicas. O autor procura demonstrar a impossibilidade de deduzirmos quaisquer assertivas de uma teoria científica: por exemplo, a teoria newtoniana da gravitação não pode determinar a posição dos planetas mesmo que as condições iniciais sejam conhecidas, pois trata da força gravitacional e, portanto, não pode prever as influências exercidas por outros tipos de força. Em outras palavras: a teoria de Newton requer um enunciado inequívoco – ou uma condição, na terminologia de Hempel – afirmando que os planetas estão sujeitos apenas à força da gravidade; sem essa hipótese, portanto, é impossível aplicar a referida teoria ao estudo dos movimentos planetários. Mas tal hipótese, salienta o filósofo alemão, não é parte constitutiva da teoria e, desse modo, a posição dos planetas não é determinada pela teoria, mas sim inferida pela teoria em associação com as conjeturas pertinentes.

Da mesma forma, assim como as proposições investigativas não estão vinculadas à teoria, também não existem elos dedutivos entre as asserções investigativas; conclui-se, pois, que é impossível o resultado de uma investigação ser conseqüência lógica de uma teoria (a não ser que a afirmação seja logicamente verdadeira).

A supracitada constatação tem conseqüências sobremaneira importantes. Uma delas, por exemplo, assevera a não existência de conteúdo empírico em uma teoria. Os neopositivistas tradicionalmente definem esse conteúdo como o conjunto de proposições investigativas implicadas por uma teoria; mas este conjunto, argumenta Hempel, seria um conjunto vazio. Outro corolário relevante nos diz que os termos 'teoréticos' não podem ser eliminados de uma teoria científica. Os métodos empregados para levar a cabo esse objetivo asseguram que, para cada teoria T, é possível encontrar uma teoria T’ desprovida de termos teoréticos, de modo que um enunciado investigativo E seja uma conseqüência de T’, se e somente se, for uma conseqüência de T; assim sendo, seria possível retirar os termos teoréticos de T sem ocasionar perda de seu poder dedutivo. Todavia, assevera Hempel, nenhuma conclusão de um enunciado investigativo E é derivável de T, de modo que a T’ faltaria, portanto, conseqüência empírica. Suponhamos, propõe o filósofo alemão, que T seja uma teoria falsificável; logo há uma proposição investigativa I de modo que ~I → ~T. Devemos então conclui que T → ~ I; T impõe, pois, uma proposição investigativa ~ I. Contudo, nenhuma conclusão investigativa é uma conseqüência de T e, assim sendo, a teoria T não é falsificável: a conseqüência, segundo Hempel, é que as teorias científicas não são falsificáveis em termos de sua estrutura formal, mas apenas em suas aplicações empíricas a posteriori.

Finalmente, segundo Hempel, a interpretação da ciência fruto de uma concepção instrumentalista não é defensável. De acordo com tal concepção, as teorias científicas operam como modalidades de regras de inferência, isto é, preceitos dos quais derivam-se as conclusões investigativas. A análise de Hempel mostra que essas supostas regras de inferência são efetivamente inconsistentes e até mesmo nulas.