segunda-feira, setembro 11, 2006

LUX AETERNA





















Ó áticos confrades d'armas: é transcorrido um lustro desde a conspícua jornada em que derribadas foram as ominosas Torres Negras, de Moloch e Baal, ímpias deidades, néfario totem; e hoje, excelsos mujahideen, de supino gáudio pejam-se nossos corações, uma vez que o inolvidável sucesso foi de Amir al-Mu'minin , ingente Sustentáculo do Universo e Senescal dos Arcanos Transfinitos, a rutilante signa para o exórdio da deífica Guerra Cósmica contra os do fero SATÃ imanes hostes!


Allahu Akbar...Allahu Akbar...Allahu Akbar!!!






Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

sexta-feira, setembro 01, 2006

Searching for Soultrane

Alphonse van Worden - 1750 AD





The Olatunji Concert: The Last Live Recording sem sombra de dúvida integra, ao lado de Machine Gun (Peter Brötzmann) e Spiritual Unity (Albert Ayler), a trinca dos mais DEVASTADORES e GENIAIS discos de jazz que este vosso escriba já teve a oportunidade de conhecer até hoje. É decerto um registro mal gravado, com muitas oscilações de volume e até mesmo alguns drop outs na fita master; a meu ver, contudo, tal característica contribui decisivamente, por incrível que pareça, para a aura de inaudita e sobrenatural intensidade cósmica que emana do álbum, uma vez que o mergulho sem volta nos mais abscônditos báratros da Arcana Coelestia almejado por Coltrane não poderia ser traduzido, creio eu, por uma sonoridade harmônica, cristalina, mas tão somente pela própria materialização sonora do caos primordial dos páramos deíficos; destarte, me parece de sobejo razoável asseverar que se Coltrane alguma vez conseguiu transfigurar em termos estéticos sua a um só tempo extática e agônica demanda por transcendência espiritual, tal intento foi logrado com pleno e assustador êxito pelo Olatunji Concert, vero dérèglement absolu de tous les sens nos píncaros do SAGRADO.

Ogunde é a encarnação estética de um ritual de magia arcana no imo do mais recôndito heart of darkness africano: irracionalista, brutal, incontrolável, selvagem, obscura, um avassalador tornado de solos e ritmos veramente indescritíveis de tão intensos e arrebatadores; e a propósito de My Favorite Things.... bem, o que dizer de tamanho colosso....? A versão presente em Live in Japan (1966) pode ter 23 minutos a mais e, de certa maneira, ser até mais intrincada, mas em termos de puro desvario, de obliteração sônica in extremis de tudo aquilo que o senso comum classificaria como 'música', de blasfema conjuração de miríades de Supernovas explodindo nos vórtices mais remotos do espaço sideral, simplesmente empalidece diante de sua co-irmã de 1967: de facto, trata-se de algo tão inacreditável e estratosfericamente visceral, tão esmagador em sua vulcânica energia vital, que é capaz de mergulhar o ouvinte num estado de profunda desorientação mental, beirando mesmo a mais obnubilante ataraxia de todos os sentidos. O maelstron 'transjazzístico' tem início de forma aparentemente despretensiosa e contida, com um envolvente solo de baixo urdido pelo saudoso Jimmy Garrison; ao fim e ao cabo de quase 8 minutos de hipnose, faz-se anunciar, ameaçador, o primeiro uivo espectral do sax de Coltrane, e então hell breaks loose num dos mais walpúrgicos sabbaths supersônicos que já escutei. O que temos aqui não são meros músicos, mas sim ciclópicas deidades lovecraftianas, Coltrane convertido em Surtr; Sanders em Kali; Rashied Ali em Ahriman; e assim sucessivamente, todos de súbito convertidos em titânicos espíritos de aniquilação / recriação do kháos transmutado em kósmos e da cosmogonia desintegrada em inefável kháosmosis, trovejante polifonia de clarins descomunais vertendo catadupas de magma incandescente e AAAAAAAAAAAAHHHHH!!!!!!!!!...


As mais belas mortes - III

Moritz Schlick (1882-1936)






































E aqui chegamos a um dos relatos mais lôbregos desta nossa ainda tão núpera série.

O filósofo, lógico e matémático germânico Moritz Schlick (1882-1936) é um dos ídolos deste vosso humílimo escriba. Ao lado de Carnap, Feigl, Nëurath e Hahn, foi um dos fundadores do célebre Círculo de Viena, assim como um dos mais destacados proponentes do positivismo lógico; seus trabalhos em tópicos como epistemologia, lógica matemática e filosofia da linguagem são de incomensurável relevância, sempre caracterizados por grande originalidade, suprema perspicácia e assombrosa capacidade analítica.

Prossigamos contudo, sem mais delongas, com nosso doloroso mister, por mais horribile dictu que nos seja: com o ascenso do nacional-socialismo na Alemanha e na Áustria, boa parte dos integrantes do Círculo emigrou para Inglaterra e EUA; Shlick, entretanto, decidiu permanecer em seu posto na Universidade de Viena, muito embora condenasse a ideologia nazi nos termos mais severos. Tal atitude converteu o eminente filósofo em persona non grata para os círculos nazistas, levando ao hórrido desenlace que agora relataremos: no dia 22 de junho de 1936, Schlick, que subia as escadarias da Universidade para ministrar uma aula, foi abordado por um antigo aluno, então convertido ao nazismo. Transtornado, o sicofanta protestou a propósito de um trabalho que havia sido recusado pelo mestre; Schlick ripostou-lhe categoricamente as alegações, ao que o ínvio sacripanta sacou uma pistola e desferiu um balázio letal no peito do egrégio professor.


Post-Scriptum:

O horrífero sequaz nacional-socialista foi detido e setenciado, mas logo transformou-se em figura popular entre os extremistas de direita, sendo retratado pela imprensa reaccionária como 'herói nacional' em luta contra a filosofia pretensamente 'judaica' e 'anti-ariana' do Círculo de Viena; pouco depois da nefasta ocisão, o celerado recebeu liberdade condicional; e em 1938, com o advento do Anschluss, tornou-se um destacado membro do Partido Nazista Austríaco.

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Nikos Poulantzas (1936-1979)

























Mortes violentas e/ou espalhafatosas não são de modo algum, como os fidalgos leitores desta comunidade já devem ter advertido, apanágio de rockstars e outros seres extravagantes; já pudemos aqui abordar, com bem lembrais, o horrífero atentado que subtraiu a vida do lógico austríaco Moritz Schlick. Hoje, todavia, falaremos da defunção do filósofo marxista grego Nikos Poulantzas (1936-1979) (va benne, estava mais para um filosofante 'marxóide', mas tal maledicência não vem ao caso no momento...).

Poulantzas formou-se em direito na cidade de Atenas, e depois prosseguiu seus estudos em França e Alemanha, especializando-se na questão do Estado moderno. Em Paris tornou-se o discípulo favorito de outro notório detraqué, o estruturalista Louis Althusser (sobre o qual ulteriormente falaremos n'outro tópico). No dia 3 de outubro de 1979, agarrado a vários livros, Poulantzas arrojou-se do décimo-primeiro andar de um edifício popular nos arrabaldades de Paris (13 arrondissement). No bilhete de despedida pelo filosófo legado encontrou-se a seguinte observação, sobremaneira lúgubre e severa: "eu não suportava mais ser um escombro ideológico".

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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros