sexta-feira, julho 15, 2011

Pela ressurreição da Sagrada Aliança

Alphonse van Worden - 1750 AD

Diletos irmãos d'armas: e com indizível gáudio que vos apresento este mirífico pedaço d'escrita, de lavra de meus áticos confrades ARRS e Gabriel Schmitt.


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Pelo ressurreição da Sagrada Aliança






A maioria das coisas que vemos são, em verdade, o reverso do que aparentam. O individuo movido por idéias nobres hoje é alvo de escárnio, jamais de louvor. O consumo desenfreado; a boçalidade coletiva deliberadamente planejada; o imperativo de saber cada vez mais sobre menos coisas: eis os três eixos da sociedade contemporânea.

Se todo o Universo coubesse num grão de ervilha, a mente do homem moderno seria uma molécula desse grão. O ‘funcionalismo’ que impera em nossos dias pode ser muito confortável; afinal, não pensar em nada é cômodo. É a era do escapismo em massa. O Século XXI constitui, sob todos os aspectos, o apogeu desse nefasto processo. A sociedade atual é uma eterna fuga de si mesma, porque não mais se reconhece.

Para aqueles que têm fome do absoluto entranhada em seu âmago, todavia, isso não é suficiente. Pois se a razão por vezes logra explicar processos e dinâmicas do Homem, é sempre um impulso inefável, inexorável e fatal que os engendra.

O reino crepuscular do ceticismo, toda a pompa e circunstancia tão característica da mentalidade cientificista do Ocidente contemporâneo, caminham na direção oposta de nossos mais caros anseios: o reencantamento do mundo sob a égide do Mito e da Mística.

Não obstante, a revolta contra os descaminhos da modernidade, os frutos da hidra iluminista é, nos dias que correm, pouco mais que a flébil luz d’uma vela num aposento escuro.

Mas este lume, confrades, é o archote que nos resta contra as trevas da modernidade, ‘inda que grande parte da Humanidade tenha optado pelas sendas da escuridão. Eis o mundo gestado pelo Iluminismo, a cosmovisão que pugnava pelo esclarecimento através dos ditames da razão, mas que, ao fim e ao cabo, conduziu-nos a um orco cinéreo, onde multidões vagueiam sem rumo ou propósito.

Alguns poucos, no entanto, tentam buscar janelas nesse ominoso aposento e, para sua grata surpresa, elas estavam ali todo o tempo. Pois além da masmorra descortina-se a fímbria do Sol no horizonte.

A razão científica descreve o Sol como ente natural, uma estrela que tem a função a de iluminar e aquecer nosso planeta, assim permitindo a manutenção da vida existente. Trata-se d’algo comprovado empiricamente.

O mito, contudo, vai além, pois não somente compreende, mas também ACREDITA no Sol como símbolo magno do Primo Mobile, Pater Omnis Telesmi, Gloriam Totius Mundi.

A razão questiona; a fé convicta, não obstante, está sempre um passo além de qualquer questionamento, por uma razão muito simples: ela não tem necessidade de formular a questão. Consoante sabiamente afirma Carl Schmitt:


“Não há cadeia de argumentação lógica capaz de resistir à força de imagens míticas, primordiais.”


Mito que tanto pode ser compreendido como potência divina quanto, recuperando aqui uma expressão de Georges Sorel, 'profecia auto-realizável', no sentido de não depender de fatores transcendentes para ser levado a efeito. Vale frisar, aliás, que um insigne pensador de orientação marxista como, por exemplo, o peruano José Carlos Mariátegui, não apenas subscreve a concepção soreliana, mas também acaba por conferir-lhe caráter ainda mais radical, enfatizando decisivamente a profunda emoção messiânica inerente a qualquer processo revolucionário.

Assim sendo, contemplamos hoje um planeta cindido entre duas cosmovisões antagônicas e irreconciliáveis: a Objetivista e a Messiânica. Uma é funcionalista e pragmática; a outra, mística e poética.

O Objetivista, mesmerizado pelo dimensão contábil e pelo horizonte do visível, ou atenta somente para a esfera de seus interesses, perdendo, destarte, a visão do conjunto; ou então, agrilhoado à rigidez dos processos lógicos, compreende os Meios, mas nunca os Fins.

O Messiânico, por sua vez, não carece de evidências ou relações de causa / efeito para sustentar suas crenças, pois vive sob o império de convicções lastreadas por tradições milenares e não há, como salientamos antes, argumento que não possa ser desacreditado pela força da Fé, e muito menos alegações racionais capazes de obliterar o poder do Mito.

Não somos contra o avanço da humanidade, mas sim contra o avanço cego, hipnotizado pela miragem do ‘Reino da Quantidade’; afinal, já sublinhava Roger Bacon, o excelso Doctor Mirabilis:


“O plano divino passará um dia para a ciência das máquinas, que é magia natural e santa.” 


Devemos, não obstante, permanecer atentos às perigosas ilusões do credo positivista: aquilo que amiúde nos é apontado como ‘progresso’ nada mais é que retrocesso.

Não marcharemos, portanto, de olhos vendados em direção ao abismo. O progresso material do ser humano é tão somente um instrumento, jamais um fim em si mesmo; analogamente, que é a argumentação racional senão uma casca vazia quando destituída de convicção? O valor maior deve subjugar o valor menor. Sem a presença ativa, heurística, das tradições espirituais como centros de gravidade da vida social, não há esperança para a humanidade.

Somos, pois, pensadores, revolucionários, poetas, místicos e guerreiros que não se prosternarão parente o deus Mammon, tampouco à tribulação febril da Modernidade. O homem carece de Mito e Mística, de impulso criativo, de arrebatamento lírico e fervor messiânico frente à tirania da razão. Os parâmetros da sociedade contemporânea não atendem a nossos desígnios. É nosso dever resgatar a Humanidade do pesadelo iluminista, romper com a ‘Sociedade Aberta’, retomar as tradições da comunidade orgânica e integrada.

A instrumentalização mercantil das relações humanas; a busca desenfreada pelo progresso material; o primado do saber desvinculado de elevação espiritual, eis os grandes males que enfermam o mundo. Como frisa Novalis:


“O ódio à Religião (...) transforma a música do universo, infinita e criadora, em um matraquear uniforme de um moinho monstruoso que é impulsionado pela tempestade do acaso e, nadando sobre ela, é um moinho em si, sem arquiteto ou moleiro, e na verdade um autêntico perpetuum mobile, um moinho que mói a si mesmo.”


Peregrinando solenemente pela alvorada dos milagres cruéis no campo de batalha, noite adentro celebrando Mitos e Tradições no altar da Fé, pugnaremos pela harmonia perdida da Societas Christiana, capaz de assegurar a reconciliação do Homem decaído com seu destino transcendente. Para tanto, há que restaurar a sagrada aliança entre o Poder Temporal e o Espiritual Por isso temos como insígnia a CRUZ – a lux perpetua da autoridade espiritual, sob o ínclito concento dos Eleitos - e a ESPADA – a ingente força do poder temporal, encarnado na figura daquele cuja ação é iluminada pelo Altíssimo.

Trata-se, enfim, da indissolúvel unidade entre o Espírito de Deus e o Poder do Soberano:


“Nada havendo de maior sobre a Terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes para governar os outros homens, é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem desacata seu príncipe soberano, ofende a Deus, de Quem ele é a imagem na Terra.”
(Jean Bodin).


Entrelaçadas, a CRUZ e a ESPADA forjam a sacrossanta e inabalável aliança entre ECCLESIA et IMPERIUM. O povo, prenhe de inquietação e angústia, clama aos céus pelo retorno dos ‘dois gládios’: a plena convicção da autoridade espiritual - a ECCLESIA -, depositária da sabedoria das Leis Eternas, e a força política da autoridade temporal - o IMPERIUM -, que, sob a égide do Soberano, propicia a seus súditos as bênçãos da segurança, do bem-estar social e da paz civil.



Alfredo RR de Sousa
Gabriel Schmitt

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