terça-feira, setembro 02, 2008

Notas de reflexão crítica XIV - a propósito de filmes 'b', trash e underground



Amiúde podemos perceber, tanto nos meios de comunicação quanto entre os fãs, certa confusão conceitual entre as noções de filme 'b' , filme trash e filme underground; malgrado exista alguma similaridade estética entre esses três 'gêneros' e, num estágio ulterior (mormente a partir dos anos 70), certa convergência de propósitos, há originalmente uma nítida distinção conceitual entre vertentes em tela, sobretudo na esfera da intencionalidade.

Isto posto, gostaria de esboçar uma discussão a propósito de tais categorias tomando por base os 5 filmes que mais aprecio nesses gêneros:


Freaks (1932) - Tod Browning

Cat People (1942) - Jacques Tourneur

Mondo Trasho (1969) - John Waters

El Topo (1970) - Alejandro Jodorowsky

La Rouge aux Lévres (1971) - Harry Kümel


O filme 'b' se caracteriza, a princípio, como obra cinematográfica produzida nos marcos da indústria, não raro dirigida e / ou interpretada por profissionais de prestígio, com o intuito de atingir, assim como qualquer outra fita 'normal', o grande público, mas que em virtude de alguma contingência desventurada (valores de produção precários; temática polêmica; conflitos com o estúdio, etc.), acabava por ser relegada a circuitos secundários de divulgação e / ou exibição (cadeias de cinema regionais, salas suburbanas, etc.).

Destarte, dos filmes que citei à partida, tão somente Cat People e Freaks podem ser classificados como filmes 'b' strictu senso: ambos são dirigidos por cineastas com currículo prévio de sucessos (Tod Browning e Jacques Tourneur); contam com atores de renome à época (Wallace Ford, Olga Baclanova, Simone Simon: e até mesmo valores de produção bastante razoáveis para o período em que foram filmados. Todavia, a presença de elementos temáticos polêmicos e potencialmente escandalosos (bestialismo, zoofilia, fetichismo em Cat People / aberrações físicas e doenças mentais em Freaks) impediram que tais obras lograssem alcançar, no contexto sociocultural em que foram lançadas, o grande público.

Os filmes trash, por seu turno, são um fenômeno estético de caracterização sobremaneira mais difusa e problemática: a rigor, poderiam ser definidos como fitas de caráter deliberadamente 'rústico', 'precário', quase sempre com temáticas sensacionalistas, escatológicas ou fantasiosas, cujo talante primordial era atingir o público de áreas com menor acesso a bens culturais e, num momento ulterior, um público jovem e / ou alternativo, que encara tais obras como uma espécie de desconstrução paródica dos convencionalismos estéticos e conceituais do cinema mainstream.

O principal problema embutido na formulação de um conceito unívoco para o filme trash é o facto que ele via de regra se confunde com o que poderíamos chamar de cinema underground, isto é, um cinema também de cunho provocativo e subversivo, mas que almeja atingir certo nível de excelência artística, e que se propõe não como mero entretenimento, mas sim como obra experimental, de vanguarda.

Assim sendo, uma fita como Mondo Trasho, malgrado formalmente trash, apresenta um caráter de agressão e ultraje que não de modo algum meramente 'inocente' ou 'divertido', envolvendo, pelo contrário, um decisivo cariz de virulenta crítica social; por fim, El Topo e La Rouge Aux Lévres são filmes nitidamente inseridos no ethos conceitual e artístico underground, visto que sua eventual precariedade formal (mais evidente no filme de Jodorowski, há que sublinhar) não se deve de forma algum a um propósito de comicidade paródica, mas sim os problemas de produção inerentes a propostas artísticas que fogem aos parâmetros conservadores do mainstream cinematográfico.

Bem, espero ter contribuído para precisar um pouco a questão!




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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

Que pensadores políticos mais vos influenciaram?




Alphonse van Worden - 1750 AD 

À exemplo de tópico anterior, quando vos indaguei a propósito de vossos modelos de conduta intelectual, perguntos-vos desta feita, ó ínclitos confrades, os pensadores que apontaríeis como determinantes em vossa formação política. 

 Eis os meus: 

José Carlos Mariátegui - É de longe o pensador político que mais me influenciou, ao demonstrar que a Revolução não é um fenômeno que se possa interpretar mediante uma analítica científica, uma vez que não pode ser analisado partir dos pressupostos epistemológicos e metodológicos da razão lógico-demonstrativa, afigurando-se, ao contrário, muito mais como fenômeno de cunho mítico-religioso, impermeável a abordagens racionalistas. 

 Carl Schmitt - A meu ver, o célebre constitucionalista percebeu, como ninguém antes, a verdadeira natureza do fenômeno político, isto é, a esfera da política como terreno privilegiado da contraposição, da disjuntiva 'amigo/inimigo', sem apelo a quaisquer injunções de cunho ético ou racional; ademais, suas reflexões no âmbito da teologia política são também impressionantes, extremamente atuais, tendo em vista, por exemplo, as teologias messiânicas da ação revolucionária em voga no mundo islâmico. 

Louis Antoine Léon de Saint-Just e Maximilien Marie Isidore de Robespierre - Pela vigorosa e convincente apologética do terror revolucionário como instrumento de regeneração política e moral, passível de alquebrar o ânimo do antigo regime e instruir o povo no rigor e firmeza necessários à constituição de uma república igualitária. 

  Ayatullah Ruhollah Khomeini e Sayyid Qutb - Por terem ilustrado e implementado à perfeição o processo de transformação da política em teologia messiânica da ação revolucionária e vice-versa, ou seja, a conversão do arcabouço teológico tradicional em agir político revolucionário. 

 Robert Kurz - Em virtude de suas percucientes análises a propósito das metamorfoses hodiernas do sistema produtor de mercadorias, mormente no que tange à implosão tendencial do setor terciário sob a égide do esgotamento da 'Terceira Onda'. 

 Guy Debord - Por ter demonstrado cabalmente que a política se converteu em espetáculo, esfera de trocas e demandas onde o raio de ação do simbolismo tornou-se fundamental. 

 Donoso Cortés - Importante por demonstrar, de forma audaz e radical, que a legitimidade de um regime não está lastreada por relações de hereditariedade ou na representação social, mas sim em sua capacidade de exercer ação repressiva; neste sentido, importa menos QUEM exercerá o poder do que COMO este será exercido. 

Aleksandr Dugin - Estou tão somente começando a conhecer sua obra, mas à partida já me impressionou sobremaneira a capacidade de Duguin em sintetizar dinamicamente todas a tradições gnóstico- românticas, tanto à 'esquerda' quanto à 'direita', da revolta contra a 'Realidade'.