segunda-feira, outubro 08, 2007

Breve nota a propósito de abstruso lugar-comum


Não raro é possível observar, diletos irmãos d'armas, mormente no seio de certos risíveis conventículos de soi disant 'intelectuais de esquerda', a presença de ignaro preconceito contra as escolas filosóficas de orientação analítica, as quais soem identificar, de forma sobremaneira estapafúrdia e sem o menor fundamento, com posições políticas conservadoras. Vale lembrar, à título de ilustração, que o Círculo de Viena, ínclita tertúlia de filósofos analíticos germânicos, foi implacavelmente perseguido pelo establishment acadêmico nacional-socialista... bem ao contrário, vale dizer, de outros autores, tais como, por exemplo, o famigerado Heidegger. Aliás, é também mister recordar que o manifesto inaugural do Círculo (A concepção científica do mundo – O Círculo de Viena, publicado em 1929 e assinado por Carnap, Neurath e Hahn) cita alguns autores que exemplificariam e serviriam de inspiração para "concepção científica do mundo" ali advogada. Entre os mencionados estão, entre outros: Leibniz, Comte, Spencer, Russell e... Marx; vale dizer que a princípio não concordo com a inclusão deste último, mas é interessante mencionar o facto, de modo a desmistificar o tolo clichê que equaciona 'analíticos = conservadores'. Por fim, o supracitado Otto Neurath, que do ponto de vista 'organizacional' e militante era o líder do movimento, se dizia marxista na linha do austro-marxismo. Chegou, inclusive, a participar do governo revolucionário da Baviera em 1918. Moritz Schlick, por seu turno, também era um homem de esquerda, posição política que, aliás, chegou a lhe custar a própria vida, vítima que foi dos balázios de um sicofanta nazi. Reparai, portanto, diletos confrades, como são injustas, sordidamente inverídicas, certas avaliações apressadas: Nietzsche, por exemplo, um acerbo reaccionário, inequívoca fonte de inspiração para a ideologia nazi, é até hoje exaltado em prosa e verso por de 'libertários' de todas as latitudes, ao passo que homens da cepa de um Neurath, que militou no movimento comunista, ou de um Russell, grande humanista, sempre a postos contra toda forma de opressão, são absurdamente identificados com posições políticas direitistas. Curiosa inversão de perspectivas, não é mesmo? 


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Ten. Giovanni Drogo 

Forte Bastiani 

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

2 comentários:

Unknown disse...

Você leu o capítulo referente ao Bertrand Russell da obra do Paul Johnson intitulada "Os intelectuais"?

Alphonse van Worden disse...

Nunca li. Mas suspeito que Johnson desanque Russell, que é um de meus mentores.