Alphonse van Worden - 1750 AD
- Visto não podermos prever a totalidade das conseqüências de nossos ações, bem como a impossibilidade de controlarmos inteiramente o curso de nossos iniciativas, um inexorável componente de aleatoriedade estará fatalmente presente em QUALQUER empreendimento humano; trata-se, com efeito, da inequívoca presença d'algo que não pode ser previsto, mensurado ou calculado, e que não raro exerce uma influência decisiva em determinados circunstâncias, mormente quando da prevalência da ação individual ou de um grupo restrito de indivíduos, tal como, por exemplo, num atentado terrorista.
- Tomando aqui em consideração a hipótese do atentado político, se determinado disparo falha o alvo por um milímetro que seja, isto ocorre de forma aleatória, independente de nossa vontade, pois desejávamos que o alvo em tela fosse atingido; destarte, o facto de, por exemplo, o Papa João Paulo II não ter sido assassinado por Mehmet Ali Agca em 1981, não se deve a qualquer arranjo de estruturas históricas em movimento, mas ao simples evento aleatório de o disparo ter acertado, em lugar do coração de Sua Santidade, uma medalha que ele portava ao peito. Escusado dizer que a morte de JP II naquele momento histórico, e em circunstância tão peculiar e violenta, teria conseqüências de considerável envergadura não apenas para a Igreja, mas para a geopolítica mundial.
- A possibilidade de erro, inerente às lides humanas, implica que variáveis aleatórias sempre estarão presentes no imo de qualquer ação que possamos levar a cabo. Continuando com o exemplo da tentativa de assassinato do Papa: Ali Agca visa alvejar o coração do Sumo Pontífice; situa-se à melhor distância possível do alvo; tenta calcular o melhor ângulo para fazer o disparo; estica o braço; e, enfim, faz o disparo.
- Congelemos agora o curso dos acontecimentos no exato momento em que o projétil emerge da arma de Agca: até o instante que ora isolamos na dinâmica espaço-temporal em tela, o concurso do elemento aleatório foi desprezível, malgrado não de todo ausente, conforme verificaremos. Destarte, fatores como a decisão de Agca em assassinar João Paulo II; a determinação das organizações (a KGB soviética / a NSS búlgara / a Stasi alemã-oriental / todas em conjunto, isto agora não importa) que eventualmente contrataram Agca para levar a cabo o atentado; as circunstâncias históricas, conjunturais e estruturais, de ordem estratégica e ideológica, que levaram tais agentes sociopolíticos à tentativa de eliminar a vida do Papa, são obviamente elementos de cunho objetivo, racionalmente deliberados, planejados, calculados, executados.
- Não obstante, há pelo menos um componente de jaez fortuito ocorrendo antes do átimo fatal que isolamos no fluxo do espaço-tempo: a posição de Agca no momento do disparo, se pensarmos no 'empurra-empurra' e em todos os incidentes que soem ocorrer em meio a aglomerações humanas, decerto não poderia ser estabelecida previamente com precisão, envolvendo, pelo contrário, um fortíssimo componente contingencial.
- Voltemos agora ao instante infinitesimal em que o balázio sai da arma de Agca. Muito bem: deste momento em diante, até a instante em que o projétil, após descrever uma dada trajetória, se aloja no corpo do Papa, a presença de fatores de ordem aleatória passa a ser precípua. Senão vejamos: a possibilidade de algum circunstante perturbar o equilíbrio de Agca, ou pelo menos de desviar, por um milímetro que seja, o braço que sopesa a arma; a eventualidade de Wojtyla desviar-se (para cima ou para baixo; para a esquerda ou para a direita; para frente ou para trás), mesmo que infimamente, da posição original em que estava no instante exato em que Agca assesta a pistola e faz pontaria; a circunstância de alguém (um guarda-costas, um cardeal, alguma outra autoridade presente) se posicionar à frente de JP II no hora do disparo; as condições atmosféricas (velocidade do vento, densidade do ar, etc.); etc, etc, etc., são alguns exemplos de fatores de âmbito rigorosamente aleatório que certamente interfiram, e de maneira decisiva, no decurso da efeméride que estamos aqui a considerar.
- Imbuídos quiçá d'uma vetusta e ultrapassada concepção determinista, poderíeis aqui avocar a presumida 'inevitabilidade' das leis da física. Pois bem: consoante sabemos hoje, através da mecânica quântica, um componente de indeterminação, de aleatoriedade mesmo, está presente na própria ontologia do objeto de conhecimento físico. Na mecânica clássica e relativística, o estado de qualquer sistema físico isolado, em um dado instante de tempo, fica precisa e completamente determinado pelo conhecimento, empiricamente adquirido, dos valores que correspondem à posição e ao momento linear de cada uma das partes desse sistema naquele instante de tempo; não há lugar, portanto, para valores probabilísticos. Não obstante, conforme a mecânica quântica demonstra, a interpretação de uma observação experimental de um sistema físico é algo mais complexo, envolvendo fatores de ordem contingencial. Poderá consistir de uma única leitura, cuja precisão terá de ser avaliada, ou então poderá consistir de um conjunto intrincado de dados, como no caso de uma fotografia de gotículas d'água na câmara de Wilson; em ambos os casos, o resultado só poderá ser expresso em termos de uma distribuição de probabilidades que diga respeito, por exemplo, à posição e ao momento linear das partículas do sistema. A teoria então poderá prever a distribuição de probabilidades para tempos futuros, mas não poderá ser experimentalmente verificada, em qualquer um desses instantes futuros, com base no resultado experimental segundo o qual os valores das posições, ou dos momentos lineares, estejam dentro dos limites preditos, em uma observação específica. A mesma experiência terá de ser realizada repetidas vezes, de maneira que os valores das posições e dos momentos lineares se distribuam de modo a configurar o esquema de probabilidades predito. A mecânica quântica introduz, por conseguinte, o conceito de probabilidade, e mesmo o de indeterminação ou aleatoriedade, na própria definição ontológica de estado físico.
- Em suma, caríssimos confrades: a única alternativa de que podeis dispor à patente constatação da presença do elemento aleatória em todas as empresas humanas, é a crença numa Inteligência Superior instaurando, desde a criação do Universo, uma predeterminação absoluta e fatal de todos os eventos per saecula saeculorum, até a consumação escatológica de todos os tempos; ou seja, uma perspectiva intelectualmente cabível, mas de todo avessa às evidências do pensamento científico.
- Visto não podermos prever a totalidade das conseqüências de nossos ações, bem como a impossibilidade de controlarmos inteiramente o curso de nossos iniciativas, um inexorável componente de aleatoriedade estará fatalmente presente em QUALQUER empreendimento humano; trata-se, com efeito, da inequívoca presença d'algo que não pode ser previsto, mensurado ou calculado, e que não raro exerce uma influência decisiva em determinados circunstâncias, mormente quando da prevalência da ação individual ou de um grupo restrito de indivíduos, tal como, por exemplo, num atentado terrorista.
- Tomando aqui em consideração a hipótese do atentado político, se determinado disparo falha o alvo por um milímetro que seja, isto ocorre de forma aleatória, independente de nossa vontade, pois desejávamos que o alvo em tela fosse atingido; destarte, o facto de, por exemplo, o Papa João Paulo II não ter sido assassinado por Mehmet Ali Agca em 1981, não se deve a qualquer arranjo de estruturas históricas em movimento, mas ao simples evento aleatório de o disparo ter acertado, em lugar do coração de Sua Santidade, uma medalha que ele portava ao peito. Escusado dizer que a morte de JP II naquele momento histórico, e em circunstância tão peculiar e violenta, teria conseqüências de considerável envergadura não apenas para a Igreja, mas para a geopolítica mundial.
- A possibilidade de erro, inerente às lides humanas, implica que variáveis aleatórias sempre estarão presentes no imo de qualquer ação que possamos levar a cabo. Continuando com o exemplo da tentativa de assassinato do Papa: Ali Agca visa alvejar o coração do Sumo Pontífice; situa-se à melhor distância possível do alvo; tenta calcular o melhor ângulo para fazer o disparo; estica o braço; e, enfim, faz o disparo.
- Congelemos agora o curso dos acontecimentos no exato momento em que o projétil emerge da arma de Agca: até o instante que ora isolamos na dinâmica espaço-temporal em tela, o concurso do elemento aleatório foi desprezível, malgrado não de todo ausente, conforme verificaremos. Destarte, fatores como a decisão de Agca em assassinar João Paulo II; a determinação das organizações (a KGB soviética / a NSS búlgara / a Stasi alemã-oriental / todas em conjunto, isto agora não importa) que eventualmente contrataram Agca para levar a cabo o atentado; as circunstâncias históricas, conjunturais e estruturais, de ordem estratégica e ideológica, que levaram tais agentes sociopolíticos à tentativa de eliminar a vida do Papa, são obviamente elementos de cunho objetivo, racionalmente deliberados, planejados, calculados, executados.
- Não obstante, há pelo menos um componente de jaez fortuito ocorrendo antes do átimo fatal que isolamos no fluxo do espaço-tempo: a posição de Agca no momento do disparo, se pensarmos no 'empurra-empurra' e em todos os incidentes que soem ocorrer em meio a aglomerações humanas, decerto não poderia ser estabelecida previamente com precisão, envolvendo, pelo contrário, um fortíssimo componente contingencial.
- Voltemos agora ao instante infinitesimal em que o balázio sai da arma de Agca. Muito bem: deste momento em diante, até a instante em que o projétil, após descrever uma dada trajetória, se aloja no corpo do Papa, a presença de fatores de ordem aleatória passa a ser precípua. Senão vejamos: a possibilidade de algum circunstante perturbar o equilíbrio de Agca, ou pelo menos de desviar, por um milímetro que seja, o braço que sopesa a arma; a eventualidade de Wojtyla desviar-se (para cima ou para baixo; para a esquerda ou para a direita; para frente ou para trás), mesmo que infimamente, da posição original em que estava no instante exato em que Agca assesta a pistola e faz pontaria; a circunstância de alguém (um guarda-costas, um cardeal, alguma outra autoridade presente) se posicionar à frente de JP II no hora do disparo; as condições atmosféricas (velocidade do vento, densidade do ar, etc.); etc, etc, etc., são alguns exemplos de fatores de âmbito rigorosamente aleatório que certamente interfiram, e de maneira decisiva, no decurso da efeméride que estamos aqui a considerar.
- Imbuídos quiçá d'uma vetusta e ultrapassada concepção determinista, poderíeis aqui avocar a presumida 'inevitabilidade' das leis da física. Pois bem: consoante sabemos hoje, através da mecânica quântica, um componente de indeterminação, de aleatoriedade mesmo, está presente na própria ontologia do objeto de conhecimento físico. Na mecânica clássica e relativística, o estado de qualquer sistema físico isolado, em um dado instante de tempo, fica precisa e completamente determinado pelo conhecimento, empiricamente adquirido, dos valores que correspondem à posição e ao momento linear de cada uma das partes desse sistema naquele instante de tempo; não há lugar, portanto, para valores probabilísticos. Não obstante, conforme a mecânica quântica demonstra, a interpretação de uma observação experimental de um sistema físico é algo mais complexo, envolvendo fatores de ordem contingencial. Poderá consistir de uma única leitura, cuja precisão terá de ser avaliada, ou então poderá consistir de um conjunto intrincado de dados, como no caso de uma fotografia de gotículas d'água na câmara de Wilson; em ambos os casos, o resultado só poderá ser expresso em termos de uma distribuição de probabilidades que diga respeito, por exemplo, à posição e ao momento linear das partículas do sistema. A teoria então poderá prever a distribuição de probabilidades para tempos futuros, mas não poderá ser experimentalmente verificada, em qualquer um desses instantes futuros, com base no resultado experimental segundo o qual os valores das posições, ou dos momentos lineares, estejam dentro dos limites preditos, em uma observação específica. A mesma experiência terá de ser realizada repetidas vezes, de maneira que os valores das posições e dos momentos lineares se distribuam de modo a configurar o esquema de probabilidades predito. A mecânica quântica introduz, por conseguinte, o conceito de probabilidade, e mesmo o de indeterminação ou aleatoriedade, na própria definição ontológica de estado físico.
- Em suma, caríssimos confrades: a única alternativa de que podeis dispor à patente constatação da presença do elemento aleatória em todas as empresas humanas, é a crença numa Inteligência Superior instaurando, desde a criação do Universo, uma predeterminação absoluta e fatal de todos os eventos per saecula saeculorum, até a consumação escatológica de todos os tempos; ou seja, uma perspectiva intelectualmente cabível, mas de todo avessa às evidências do pensamento científico.
Sem comentários:
Enviar um comentário