segunda-feira, outubro 01, 2007

The march of the chromed insanity




Eles já foram descritos por um crítico norte-americano como "Can tocando covers de Stooges no Hospício Central de um Estado totalitário intergaláctico"; e muito embora também possamos mencionar referências como Faust, Silver Apples e Hawkwind, penso que a supracitada definição não poderia ser mais exata: ao lado de outros nomes fundamentais como Père Ubu, Electric Eels e Suicide, os californianos do Chrome foram sem dúvida uma das formações mais inovadoras do underground estadunidense nos anos 70, levando a efeito uma fusão extremamente criativa e perturbadora entre psicodelia eletrônica minimal em curto circuito, hard rock sideral de Alpha Centauri, sci fi apocalíptica, paranóia junkie e o nascente punk rock; ou seja, uma alquimia cyberpunk, na mais legítima acepção do termo, conjurando atmosferas pejadas duma estranhíssima e decididamente alienígena lisergia.

Em Half Machine Lip Moves, que é o terceiro trabalho dos caras, o desarvorado mix proposto pela banda atinge sua melhor e mais radical formulação, em rajadas sucessivas de vozes espectrais eletronicamente reprocessadas, tapes surreais, guitarras distorcidas e synths alucinógenos, tudo ancorado numa seção rítmica agressiva e metronômica. O aspecto mais fascinante do álbum é justamente a simbiose entre a virulência punk e a lisergia space; assim sendo, TV as Eyes, Zombie Warfare (Can’t Let You Down) e You’ve Been Duplicated soam como geniais aberrações 'cromossônicas', entes blasfemos urdidos por um Dr. Moreau movido a anfetamina, hipnose motorik e rock'n'roll mutante de garagem; por outro lado, em peças como Mondo Anthem, a faixa-título e Critical Mass, a banda tira o pé do acelerador para investir pesadamente, via hábil assemblage de efeitos de estúdio e found sounds, na construção de texturas ominosas e paisagens entorpecidas, evidenciando, destarte, a faceta mais experimental desta singular formação norte-americana.

Em suma, meus egrégios confrades: Half Machine Lip Moves é não apenas uma das grandes obras-primas da história do avant rock, mas também um 'elo perdido' crucial para os que pretendam mapear as origens do que há de melhor no rock contemporâneo.



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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

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