Alphonse van Worden - 1750 AD
Vivre ? Non. — Notre existence est remplie, — et sa coupe déborde ! — Quel sablier comptera les heures de cette nuit ! L’avenir ?… Sara, crois en cette parole : nous venons de l’épuiser. Toutes les réalités, demain, que seraient-elles, en comparaison des mirages que nous venons de vivre ? À quoi bon monnayer, à l’exemple des lâches humains, nos anciens frères, cette drachme d’or à l’effigie du rêve, — obole du Styx — qui scintille entre nos mains triomphales !
La qualité de notre espoir ne nous permet plus la terre. Que demander, sinon de pâles reflets de tels instants, à cette misérable étoile, où s’attarde notre mélancolie ? La Terre, dis-tu ? Qu’a-t-elle donc jamais réalisé, cette goutte de fange glacée, dont l’Heure ne sait que mentir au milieu du ciel ? C’est elle, ne le vois-tu pas, qui est devenue l’Illusion ! Reconnais-le, Sara : nous avons détruit, dans nos étranges cœurs, l’amour de la vie — et c’est bien en réalité que nous sommes devenus nos âmes ! Accepter, désormais, de vivre ne serait plus qu’un sacrilège envers nous-mêmes. Vivre ? les serviteurs feront cela pour nous.
*
"Viver? Não. - Nossa existência está consumada, e sua taça transborda! - Que ampulheta contará as horas desta noite! O futuro? Crê em minha palavra, Sara: acabamos de esgotá-lo. Todas as realidades do amanhã, que seriam em comparação com as miragens que acabamos de experimentar? Qual o sentido de comprar, a exemplo dos timoratos, nossos velhos irmãos, este dracma dourado com a efígie do sonho - óbolo do Estige - que brilha em nossas mãos triunfais?!
A qualidade de nossa esperança já não nos faculta a Terra. O que demandar a esta estrela miserável, onde persiste nossa melancolia, senão pálidos reflexos de tais instantes? A Terra, dizes tu? O que ela alguma vez levou a cabo, aquela gota congelada de lama, cuja Hora tão somente logra mentir no meio do firmamento? É ela, tu não compreendes isso, que se transformou em ilusão! Admite, Sara: destruímos, em nossos corações estranhos, o amor à vida - e de fato nos convertemos em nossas almas! Aceitar viver, doravante, não seria mais do que um sacrilégio para nós mesmos. Viver? Os criados farão isso por nós."
Axël (1890) - Jean-Marie-Mathias-Philippe-Auguste de Villiers de L'Isle-Adam
*
Eis o píncaro do ápice do auge do apogeu, o vero PEAK OF THE SACRED do evasionismo místico da gnose romântica, enfim, o matrimônio entre o conde Axël de Auersperg e a princesa Sarah de Maupers, na necrópole subterrânea do castelo dos Auersperg em Baden-Württemberg.
Sabia o casal, não obstante, que o grosseiro mundo material jamais estaria à altura dos deíficos desígnios que excelsamente acalentavam.
Destarte, percebendo que o caráter sublime e preternatural de seus sonhos fatalmente pereceria em contato com a realidade, os noivos decidem suicidar-se, elevando-se dos báratros do mundo material às esferas da Arcana Coelestia, para que a beleza, para que o inefável milagre da beleza imaterial, não se dissipe; matam-se, pois, num vórtice rutilante de êxtase cósmico, e despedem-se com a seguinte sentença, emblema máximo da Aristocracia do Espírito:
Vivre? Les serviteurs feront cela pour nous.
*
O alcance dessa obra tão somente pode ser compreendido por aqueles cujo coração é d'algum modo arrebatado pelo imperativo da revolta gnóstica contra a 'Realidade', mesmo que em caráter exclusivamente mitopoético; os demais, faltos de metafísica e sensibilidade poética, chafurdam em charcos obscuros.
Vivre ? Non. — Notre existence est remplie, — et sa coupe déborde ! — Quel sablier comptera les heures de cette nuit ! L’avenir ?… Sara, crois en cette parole : nous venons de l’épuiser. Toutes les réalités, demain, que seraient-elles, en comparaison des mirages que nous venons de vivre ? À quoi bon monnayer, à l’exemple des lâches humains, nos anciens frères, cette drachme d’or à l’effigie du rêve, — obole du Styx — qui scintille entre nos mains triomphales !
La qualité de notre espoir ne nous permet plus la terre. Que demander, sinon de pâles reflets de tels instants, à cette misérable étoile, où s’attarde notre mélancolie ? La Terre, dis-tu ? Qu’a-t-elle donc jamais réalisé, cette goutte de fange glacée, dont l’Heure ne sait que mentir au milieu du ciel ? C’est elle, ne le vois-tu pas, qui est devenue l’Illusion ! Reconnais-le, Sara : nous avons détruit, dans nos étranges cœurs, l’amour de la vie — et c’est bien en réalité que nous sommes devenus nos âmes ! Accepter, désormais, de vivre ne serait plus qu’un sacrilège envers nous-mêmes. Vivre ? les serviteurs feront cela pour nous.
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"Viver? Não. - Nossa existência está consumada, e sua taça transborda! - Que ampulheta contará as horas desta noite! O futuro? Crê em minha palavra, Sara: acabamos de esgotá-lo. Todas as realidades do amanhã, que seriam em comparação com as miragens que acabamos de experimentar? Qual o sentido de comprar, a exemplo dos timoratos, nossos velhos irmãos, este dracma dourado com a efígie do sonho - óbolo do Estige - que brilha em nossas mãos triunfais?!
A qualidade de nossa esperança já não nos faculta a Terra. O que demandar a esta estrela miserável, onde persiste nossa melancolia, senão pálidos reflexos de tais instantes? A Terra, dizes tu? O que ela alguma vez levou a cabo, aquela gota congelada de lama, cuja Hora tão somente logra mentir no meio do firmamento? É ela, tu não compreendes isso, que se transformou em ilusão! Admite, Sara: destruímos, em nossos corações estranhos, o amor à vida - e de fato nos convertemos em nossas almas! Aceitar viver, doravante, não seria mais do que um sacrilégio para nós mesmos. Viver? Os criados farão isso por nós."
Axël (1890) - Jean-Marie-Mathias-Philippe-Auguste de Villiers de L'Isle-Adam
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Eis o píncaro do ápice do auge do apogeu, o vero PEAK OF THE SACRED do evasionismo místico da gnose romântica, enfim, o matrimônio entre o conde Axël de Auersperg e a princesa Sarah de Maupers, na necrópole subterrânea do castelo dos Auersperg em Baden-Württemberg.
Sabia o casal, não obstante, que o grosseiro mundo material jamais estaria à altura dos deíficos desígnios que excelsamente acalentavam.
Destarte, percebendo que o caráter sublime e preternatural de seus sonhos fatalmente pereceria em contato com a realidade, os noivos decidem suicidar-se, elevando-se dos báratros do mundo material às esferas da Arcana Coelestia, para que a beleza, para que o inefável milagre da beleza imaterial, não se dissipe; matam-se, pois, num vórtice rutilante de êxtase cósmico, e despedem-se com a seguinte sentença, emblema máximo da Aristocracia do Espírito:
Vivre? Les serviteurs feront cela pour nous.
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O alcance dessa obra tão somente pode ser compreendido por aqueles cujo coração é d'algum modo arrebatado pelo imperativo da revolta gnóstica contra a 'Realidade', mesmo que em caráter exclusivamente mitopoético; os demais, faltos de metafísica e sensibilidade poética, chafurdam em charcos obscuros.
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