domingo, fevereiro 11, 2018

L'Apogée du Sacré

Alphonse van Worden - 1750 AD


Vivre ? Non. — Notre existence est remplie, — et sa coupe déborde ! — Quel sablier comptera les heures de cette nuit ! L’avenir ?… Sara, crois en cette parole : nous venons de l’épuiser. Toutes les réalités, demain, que seraient-elles, en comparaison des mirages que nous venons de vivre ? À quoi bon monnayer, à l’exemple des lâches humains, nos anciens frères, cette drachme d’or à l’effigie du rêve, — obole du Styx — qui scintille entre nos mains triomphales !

La qualité de notre espoir ne nous permet plus la terre. Que demander, sinon de pâles reflets de tels instants, à cette misérable étoile, où s’attarde notre mélancolie ? La Terre, dis-tu ? Qu’a-t-elle donc jamais réalisé, cette goutte de fange glacée, dont l’Heure ne sait que mentir au milieu du ciel ? C’est elle, ne le vois-tu pas, qui est devenue l’Illusion ! Reconnais-le, Sara : nous avons détruit, dans nos étranges cœurs, l’amour de la vie — et c’est bien en réalité que nous sommes devenus nos âmes ! Accepter, désormais, de vivre ne serait plus qu’un sacrilège envers nous-mêmes. Vivre ? les serviteurs feront cela pour nous.


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"Viver? Não. - Nossa existência está consumada, e sua taça transborda! - Que ampulheta contará as horas desta noite! O futuro? Crê em minha palavra, Sara: acabamos de esgotá-lo. Todas as realidades do amanhã, que seriam em comparação com as miragens que acabamos de experimentar? Qual o sentido de comprar, a exemplo dos timoratos, nossos velhos irmãos, este dracma dourado com a efígie do sonho - óbolo do Estige - que brilha em nossas mãos triunfais?!

A qualidade de nossa esperança já não nos faculta a Terra. O que demandar a esta estrela miserável, onde persiste nossa melancolia, senão pálidos reflexos de tais instantes? A Terra, dizes tu? O que ela alguma vez levou a cabo, aquela gota congelada de lama, cuja Hora tão somente logra mentir no meio do firmamento? É ela, tu não compreendes isso, que se transformou em ilusão! Admite, Sara: destruímos, em nossos corações estranhos, o amor à vida - e de fato nos convertemos em nossas almas! Aceitar viver, doravante, não seria mais do que um sacrilégio para nós mesmos. Viver? Os criados farão isso por nós."

Axël (1890) - Jean-Marie-Mathias-Philippe-Auguste de Villiers de L'Isle-Adam

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Eis o píncaro do ápice do auge do apogeu, o vero PEAK OF THE SACRED do evasionismo místico da gnose romântica, enfim, o matrimônio entre o conde Axël de Auersperg e a princesa Sarah de Maupers, na necrópole subterrânea do castelo dos Auersperg em Baden-Württemberg.

Sabia o casal, não obstante, que o grosseiro mundo material jamais estaria à altura dos deíficos desígnios que excelsamente acalentavam.

Destarte, percebendo que o caráter sublime e preternatural de seus sonhos fatalmente pereceria em contato com a realidade, os noivos decidem suicidar-se, elevando-se dos báratros do mundo material às esferas da Arcana Coelestia, para que a beleza, para que o inefável milagre da beleza imaterial, não se dissipe; matam-se, pois, num vórtice rutilante de êxtase cósmico, e despedem-se com a seguinte sentença, emblema máximo da Aristocracia do Espírito:

Vivre? Les serviteurs feront cela pour nous.

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O alcance dessa obra tão somente pode ser compreendido por aqueles cujo coração é d'algum modo arrebatado pelo imperativo da revolta gnóstica contra a 'Realidade', mesmo que em caráter exclusivamente mitopoético; os demais, faltos de metafísica e sensibilidade poética, chafurdam em charcos obscuros.


domingo, fevereiro 04, 2018

Mark E. Smith (1957 - 2018): um herói (possível) de nosso tempo


Nostalgia. É emblemático constatar ser precisamente este o sentimento recorrente nos melhores necrológios publicados na imprensa britânica a propósito de Mark E. Smith.

Nostalgia sem dúvida inspirada pelo ethos, pelos sentimentos, temáticas e sensibilidades estéticas cultivados pela banda do falecido cantor e letrista, que sempre evocou o que a Inglaterra tinha de mais singular e original, sem poupar seus compatriotas da mais corrosiva ironia, e talvez por isso mesmo outrossim celebrando suas melhores virtudes.

Entre outras coisas, era o reino inconteste do understatement; dos olhares sublimados; de gestos discretos, quase imperceptíveis, mas tão significativos em sua complexa geometria de silêncios... Um país, pois, caracterizado por uma miríade de fascinantes e surpreendentes sutilezas, com sua plêiade de excentricidades sutis e discretas peculiaridades.

Desafortunadamente, contudo, esse país hoje existe apenas nos escritos de figuras como GK Chesterton, Evelyn Waugh e PG Wodehouse; nos filmes de Tony Richardson ou Jack Clayton; nas letras de música de cronistas como Ray Davies e nosso querido Mark. Está a ser paulatinamente substituído, num processo que vem se intensificando desde a década de 90 do século passado, pelo "death twilight kingdom" (TS Eliot) do horror multiculturalista e da barbárie globalista liberal, infestado por hordas de analfabrutos e animonstros que a náusea e o fastio não me permitem ora elencar (e que todos vós obviamente sabeis muito bem quem são...).

Insomma: quem conheceu, conheceu; quem não conheceu, um abraço. E fim de papo.

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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

Entre ruínas fumegantes e sombras ominosas, memórias crepusculares d'um país que já se foi - I

Alphonse van Worden - 1750 AD


Definitivamente alguma coisa se perdeu... se calhar em todo o planeta, mas com absoluta certeza em nosso país... algo de fundamental, algo de extraordinário, de assombroso, de transcendente, que se manifestava até mesmo em episódios e circunstâncias relativamente singelos. Os indícios e exemplos enxameiam, mencionemos um deles colhido hoje ao sabor do acaso. Leio numa crônica de Vinicius de Moraes que em 1942, por ocasião da passagem de Orson Welles pelo Brasil, o poeta brasileiro, desejoso de que o cineasta norte-americano travasse conhecimento com Limite (Mário Peixoto - 1931), após uma série de contratempos enfim conseguiu promover uma sessão da fita.

Pois bem: além, claro está, do maior cineasta de todos os tempos e d'um assaz respeitável homem de letras brasileiro, para essa exibição de um dos filmes mais enigmáticos e densamente poéticos da história da sétima arte estavam presentes, entre outros nomes menos ilustres, as seguintes figuras: a maior atriz da história do cinema (Renée Maria Falconetti); o melhor crítico literário e uma das inteligências mais fulgurantes que já andaram por este país (Otto Maria Carpeaux); um barítono inglês de fama internacional (Frederick Fuller).

Uma simples sessão de cinema... É, alguma coisa definitivamente se perdeu, não é possível...