Alphonse van Worden - 1750 AD
- O Teatro pode ser compreendido como a manifestação concreta de dois problemas centrais da Filosofia: IDENTIDADE e REPRESENTAÇÃO.
- A identidade de uma determinada coisa é o que ela simplesmente É. Tal relação, não obstante, nem sempre se estabelece de forma unívoca: a molécula de oxigênio, por exemplo, é sempre idêntica a si mesma, sob qualquer circunstância ou contexto espaço-temporal. Todavia, conceitos como ‘sociedade’ ou ‘justiça’ apresentam uma identidade muito mais problemática, uma vez que se revestem de caráter equívoco e multidimensional. Analogamente, é sumamente difícil determinar a 'identidade', no sentido unívoco do termo, de um indivíduo, já que em cada um de nós converge um feixe multiforme de idéias, sensações, impulsos e sentimentos não raro contraditórios e contrastantes.
- No teatro, esta tragédia da identidade é exercitada de forma exemplar pelo ator, pois este encarna a identidade de uma personagem sem, no entanto, ser ‘idêntico’ a ele, já que sua própria identidade continua presente em cena; forma-se então uma terceira identidade, distinta das anteriores: a do ‘ator enquanto veículo da personagem’. Forja-se destarte todo um jogo triangular de espelhos que se refletem e se deformam mútua e continuamente.
- O problema da representação, por seu turno, envolve os diferentes modos com que a linguagem, através de diversos arranjos de símbolos e palavras, é capaz de descrever / significar um determinado objeto ou evento. A representação, por mais acurada que seja, jamais será idêntica à realidade que tenciona descrever, o que vige até mesmo no rigoroso universo das teorias científicas; analogamente, ao considerarmos o universo da linguagem, constatamos a presença d’uma distinção substancial entre entidades linguísticas e entidades reais, entre os elementos do discurso e os elementos da realidade. William of Ockham, por exemplo, notável filósofo medieval inglês, afirma não se deve atribuir aos signos (isto é, qualquer sinal gráfico, fonético, etc. criado para representar algum ente real), necessários para descrever e comunicar, nenhuma outra função senão a de representação ou símbolo, cujo significado está em assinalar ou indicar realidades diversas dele.
- O teatro, portanto, também se constitui como tragédia da representação, já que é a tentativa de representar, da forma mais exata possível, contextos e atmosferas, de transfigurar universos conceituais e existenciais, sem que tal intento possa ser levado a efeito em caráter definitivo.
- Com efeito, o dramaturgo, no processo de transcrever para o papel a trama que sua imaginação criou, já está recorrendo a um processo de representação, uma vez que a supracitada trama, organizada e dividida em cenas e atos, não corresponde exatamente ao que antes existia apenas em sua mente. Da mesma maneira, o diretor, ao encenar uma peça, está igualmente levando a efeito um processo de representação, de transposição do texto que tem em mãos para o espaço cênico, envolvendo iluminação, marcações, cenários, trilha sonora, etc. Os atores, por fim, inseridos na concepção que o diretor adota para a montagem de um texto teatral (concepção essa, relembremos, que é apenas uma representação do texto, o qual, por seu turno, é a transcrição do processo mental do dramaturgo), interpretarão / representarão as personagens que lhes forem designadas.
- Trata-se, enfim, d’uma dinâmica em si mesma tão complexa e fascinante que uma figura do porte de Paul Valéry, se calhar o mais importante pensador francês do século XX, sustentava que a observação sistemática dos mecanismos operacionais de sua inteligência era, por si só, mais interessante que o resultado final do próprio processo de criação / representação, até mesmo no que se refere à sua obra poética.
- O Teatro pode ser compreendido como a manifestação concreta de dois problemas centrais da Filosofia: IDENTIDADE e REPRESENTAÇÃO.
- A identidade de uma determinada coisa é o que ela simplesmente É. Tal relação, não obstante, nem sempre se estabelece de forma unívoca: a molécula de oxigênio, por exemplo, é sempre idêntica a si mesma, sob qualquer circunstância ou contexto espaço-temporal. Todavia, conceitos como ‘sociedade’ ou ‘justiça’ apresentam uma identidade muito mais problemática, uma vez que se revestem de caráter equívoco e multidimensional. Analogamente, é sumamente difícil determinar a 'identidade', no sentido unívoco do termo, de um indivíduo, já que em cada um de nós converge um feixe multiforme de idéias, sensações, impulsos e sentimentos não raro contraditórios e contrastantes.
- No teatro, esta tragédia da identidade é exercitada de forma exemplar pelo ator, pois este encarna a identidade de uma personagem sem, no entanto, ser ‘idêntico’ a ele, já que sua própria identidade continua presente em cena; forma-se então uma terceira identidade, distinta das anteriores: a do ‘ator enquanto veículo da personagem’. Forja-se destarte todo um jogo triangular de espelhos que se refletem e se deformam mútua e continuamente.
- O problema da representação, por seu turno, envolve os diferentes modos com que a linguagem, através de diversos arranjos de símbolos e palavras, é capaz de descrever / significar um determinado objeto ou evento. A representação, por mais acurada que seja, jamais será idêntica à realidade que tenciona descrever, o que vige até mesmo no rigoroso universo das teorias científicas; analogamente, ao considerarmos o universo da linguagem, constatamos a presença d’uma distinção substancial entre entidades linguísticas e entidades reais, entre os elementos do discurso e os elementos da realidade. William of Ockham, por exemplo, notável filósofo medieval inglês, afirma não se deve atribuir aos signos (isto é, qualquer sinal gráfico, fonético, etc. criado para representar algum ente real), necessários para descrever e comunicar, nenhuma outra função senão a de representação ou símbolo, cujo significado está em assinalar ou indicar realidades diversas dele.
- O teatro, portanto, também se constitui como tragédia da representação, já que é a tentativa de representar, da forma mais exata possível, contextos e atmosferas, de transfigurar universos conceituais e existenciais, sem que tal intento possa ser levado a efeito em caráter definitivo.
- Com efeito, o dramaturgo, no processo de transcrever para o papel a trama que sua imaginação criou, já está recorrendo a um processo de representação, uma vez que a supracitada trama, organizada e dividida em cenas e atos, não corresponde exatamente ao que antes existia apenas em sua mente. Da mesma maneira, o diretor, ao encenar uma peça, está igualmente levando a efeito um processo de representação, de transposição do texto que tem em mãos para o espaço cênico, envolvendo iluminação, marcações, cenários, trilha sonora, etc. Os atores, por fim, inseridos na concepção que o diretor adota para a montagem de um texto teatral (concepção essa, relembremos, que é apenas uma representação do texto, o qual, por seu turno, é a transcrição do processo mental do dramaturgo), interpretarão / representarão as personagens que lhes forem designadas.
- Trata-se, enfim, d’uma dinâmica em si mesma tão complexa e fascinante que uma figura do porte de Paul Valéry, se calhar o mais importante pensador francês do século XX, sustentava que a observação sistemática dos mecanismos operacionais de sua inteligência era, por si só, mais interessante que o resultado final do próprio processo de criação / representação, até mesmo no que se refere à sua obra poética.
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