Amiúde podemos perceber, tanto nos meios de comunicação quanto entre os fãs, certa confusão conceitual entre as noções de filme 'b' , filme trash e filme underground; malgrado exista alguma similaridade estética entre esses três 'gêneros' e, num estágio ulterior (mormente a partir dos anos 70), certa convergência de propósitos, há originalmente uma nítida distinção conceitual entre vertentes em tela, sobretudo na esfera da intencionalidade.
Isto posto, gostaria de esboçar uma discussão a propósito de tais categorias tomando por base os 5 filmes que mais aprecio nesses gêneros:
Freaks (1932) - Tod Browning
Cat People (1942) - Jacques Tourneur
Mondo Trasho (1969) - John Waters
El Topo (1970) - Alejandro Jodorowsky
La Rouge aux Lévres (1971) - Harry Kümel
O filme 'b' se caracteriza, a princípio, como obra cinematográfica produzida nos marcos da indústria, não raro dirigida e / ou interpretada por profissionais de prestígio, com o intuito de atingir, assim como qualquer outra fita 'normal', o grande público, mas que em virtude de alguma contingência desventurada (valores de produção precários; temática polêmica; conflitos com o estúdio, etc.), acabava por ser relegada a circuitos secundários de divulgação e / ou exibição (cadeias de cinema regionais, salas suburbanas, etc.).
Destarte, dos filmes que citei à partida, tão somente Cat People e Freaks podem ser classificados como filmes 'b' strictu senso: ambos são dirigidos por cineastas com currículo prévio de sucessos (Tod Browning e Jacques Tourneur); contam com atores de renome à época (Wallace Ford, Olga Baclanova, Simone Simon: e até mesmo valores de produção bastante razoáveis para o período em que foram filmados. Todavia, a presença de elementos temáticos polêmicos e potencialmente escandalosos (bestialismo, zoofilia, fetichismo em Cat People / aberrações físicas e doenças mentais em Freaks) impediram que tais obras lograssem alcançar, no contexto sociocultural em que foram lançadas, o grande público.
Os filmes trash, por seu turno, são um fenômeno estético de caracterização sobremaneira mais difusa e problemática: a rigor, poderiam ser definidos como fitas de caráter deliberadamente 'rústico', 'precário', quase sempre com temáticas sensacionalistas, escatológicas ou fantasiosas, cujo talante primordial era atingir o público de áreas com menor acesso a bens culturais e, num momento ulterior, um público jovem e / ou alternativo, que encara tais obras como uma espécie de desconstrução paródica dos convencionalismos estéticos e conceituais do cinema mainstream.
O principal problema embutido na formulação de um conceito unívoco para o filme trash é o facto que ele via de regra se confunde com o que poderíamos chamar de cinema underground, isto é, um cinema também de cunho provocativo e subversivo, mas que almeja atingir certo nível de excelência artística, e que se propõe não como mero entretenimento, mas sim como obra experimental, de vanguarda.
Assim sendo, uma fita como Mondo Trasho, malgrado formalmente trash, apresenta um caráter de agressão e ultraje que não de modo algum meramente 'inocente' ou 'divertido', envolvendo, pelo contrário, um decisivo cariz de virulenta crítica social; por fim, El Topo e La Rouge Aux Lévres são filmes nitidamente inseridos no ethos conceitual e artístico underground, visto que sua eventual precariedade formal (mais evidente no filme de Jodorowski, há que sublinhar) não se deve de forma algum a um propósito de comicidade paródica, mas sim os problemas de produção inerentes a propostas artísticas que fogem aos parâmetros conservadores do mainstream cinematográfico.
Bem, espero ter contribuído para precisar um pouco a questão!
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Ten. Giovanni Drogo
Forte Bastiani
Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros
4 comentários:
Certo!
Precisas as definições.
El Topo é verdadeiramente uma obra-prima, na minha opinião.
O Cat People originou ainda não assisti. Sempre me passava pela mão mas ficava para um momento posterior. Agora, com sua indicação, certamente remediarei isto.
* original
Não deixe de assistir, Abelardo, é um filmaço.
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