Alphonse van Worden - 1750 AD
À exemplo de tópico anterior, quando vos indaguei a propósito de vossos modelos de conduta intelectual, perguntos-vos desta feita, ó ínclitos confrades, os pensadores que apontaríeis como determinantes em vossa formação política.
Eis os meus:
José Carlos Mariátegui - É de longe o pensador político que mais me influenciou, ao demonstrar que a Revolução não é um fenômeno que se possa interpretar mediante uma analítica científica, uma vez que não pode ser analisado partir dos pressupostos epistemológicos e metodológicos da razão lógico-demonstrativa, afigurando-se, ao contrário, muito mais como fenômeno de cunho mítico-religioso, impermeável a abordagens racionalistas.
Carl Schmitt - A meu ver, o célebre constitucionalista percebeu, como ninguém antes, a verdadeira natureza do fenômeno político, isto é, a esfera da política como terreno privilegiado da contraposição, da disjuntiva 'amigo/inimigo', sem apelo a quaisquer injunções de cunho ético ou racional; ademais, suas reflexões no âmbito da teologia política são também impressionantes, extremamente atuais, tendo em vista, por exemplo, as teologias messiânicas da ação revolucionária em voga no mundo islâmico.
Louis Antoine Léon de Saint-Just e Maximilien Marie Isidore de Robespierre - Pela vigorosa e convincente apologética do terror revolucionário como instrumento de regeneração política e moral, passível de alquebrar o ânimo do antigo regime e instruir o povo no rigor e firmeza necessários à constituição de uma república igualitária.
Ayatullah Ruhollah Khomeini e Sayyid Qutb - Por terem ilustrado e implementado à perfeição o processo de transformação da política em teologia messiânica da ação revolucionária e vice-versa, ou seja, a conversão do arcabouço teológico tradicional em agir político revolucionário.
Robert Kurz - Em virtude de suas percucientes análises a propósito das metamorfoses hodiernas do sistema produtor de mercadorias, mormente no que tange à implosão tendencial do setor terciário sob a égide do esgotamento da 'Terceira Onda'.
Guy Debord - Por ter demonstrado cabalmente que a política se converteu em espetáculo, esfera de trocas e demandas onde o raio de ação do simbolismo tornou-se fundamental.
Donoso Cortés - Importante por demonstrar, de forma audaz e radical, que a legitimidade de um regime não está lastreada por relações de hereditariedade ou na representação social, mas sim em sua capacidade de exercer ação repressiva; neste sentido, importa menos QUEM exercerá o poder do que COMO este será exercido.
Aleksandr Dugin - Estou tão somente começando a conhecer sua obra, mas à partida já me impressionou sobremaneira a capacidade de Duguin em sintetizar dinamicamente todas a tradições gnóstico- românticas, tanto à 'esquerda' quanto à 'direita', da revolta contra a 'Realidade'.
3 comentários:
Ainda que não tenha lido todos os ilustres autores citados, acrescentaria ao rol o nome de Walter Benjamin, sobretudo quando teria sido este autor, segundo nos diz Michael Löwy, um dos primeiros a entrever a ligação entre política e teologia, que, salvo engano de minha parte, parece ter sido a conexão primal a atar os tão diferentes autores por ti elencados, confrade.
Os renovados elogios de sempre a tuas Notas, confrade, que espero ver publicadas um dia!
Prezado Fernando:
Mais uma vez só tenho a agradecer-te pela manifestação de apreço, confrade.
De facto, Benjamin é um autor de grande importância, posto representar uma perspectiva original e inventiva no seio do marxismo.
Abs,
Alfredo
Bem lembrado por Fernado o Michael Löwy: trata-se de uma das principais figuras no cenário franco-brasileiro que estuda o marxismo. Acrescentaria nomes como Gramsci; Weber; Elias; Dahrenddorf, entre tantos outros que não necessariamente vão para a mesma linha de pensamento e abordagem.
No caso brasileiro, ocuparia de citar Celso Furtado; Florestan Fernandes; Sérgio Buarque de Holanda; Caio Prado Jr. Nomes esses que, a rigor, são essenciais para um análise sobre a realidade sócio-histórico brasileira.
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