quarta-feira, novembro 01, 2006

"We're all frankies..."



É com prazer que vos apresento hoje, preclaríssimos confrades, a inesquecível e impagável peça de agit prop sônico, terrorismo contracultural anárquico e neurastenia 'drogoléptica' chamada 23 Minutes Over Brussels (1978 - Red Star / Bronze Records), do duo novaiorquino Suicide, álbum lançado originalmente como flexi-disc encartado num zine, em edição limitada de 1000 cópias. O disco em si é genial, claro, mas a história que o envolve é ainda mais, de modo que merece ser narrada. No dia 16 de junho de 1978, Alan Vega e Martin Rev encontravam-se na aristocrática capital da Bélgica, mais precisamente no clube Ancienne Belgique, para abrir um concerto de Elvis Costello; como quem conhece a banda pode bem imaginar, a sinistra e morbidamente irônica fusão entre eletrônica primitiva e 'rockabilly mutante de Alpha Centauri com Síndrome de Down' dos caras não era, por assim dizer, a coisa mais compatível com o punk / folk comparativamente 'normal' de Mr. Costello à época. Pois muito bem: com Rev a cargo de seu insólito arsenal de traquitanas eletrônicas (um VCS3 e uma drum machine arcaicos, ambos emprestados, e via de regra avariados!), e Vega soltando sua voz de 'deidade lovecraftiana in a bad mood lendo recitativos de Antonin Artaud numa estação de rádio extraterrestre fora de sintonia', as sublimes litanias do grupo sobre o apocalipse industrial da pós-modernidade começaram a ser despejadas implacavelmente sobre a platéia, pérolas do inferno como Ghost Rider, Rocket USA, Cheree, Dance; o público, a princípio estupefacto, começou depois a apupar a apresentação com enfática e crescente indignação. Alheios a tudo, no entanto, Vega e Rev deram início então ao verdadeiro ritual eletro-industrial de ódio e danação denominado Frankie Teardrop, em versão particularmente neurótica e furiosa. O que até aquele momento era tão somente rejeição estética transformou-se em fúria absoluta, e membros mais exaltados da audiência começaram a subir ao palco para agredir o duo. Nossos heróis conseguiram segurar um pouco as pontas, mas logo multiplicaram ao infinito o caos com uma boutade de todo genial: Vega perguntou ao público se eles queriam ver logo a atração principal, obtendo como resposta urros coletivos de "Elvis, Elvis, Elvis!!!". O insano performer começou então a entoar Frankie Teardrop no compasso da célebre Love Me Tender (um dos clássicos absolutos de uma certa figura chamada Elvis Presley... ) com uma voz absolutamente macabra e aterradora, enquanto Rev mimetizava, de forma esquizofrênica, o ritmo da canção em suas engenhocas. Não é preciso ser uma pitonisa para adivinhar que a abstrusa 'cover' obviamente deu início a um furdunço de vastas proporções, com a turba detonando tudo à sua frente. Todavia, Howard Thompson, amigo da banda, lá estava com um gravador, registrando o inolvidável evento para gáudio geral per saecula saeculorum de todos nós da nação freak! No mais, conforme Alan Vega, umas poucas horas depois do show, definiria de forma lapidar, "We're all frankies, except some belgians...

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Ten. Giovanni Drogo 

 Forte Bastiani 

 Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

2 comentários:

Rodrigo Xavier disse...

Olá,

Cheguei via Nariz Gelado. Muita surpresa uma nota sobre o Suicide. Achei que só uma dúzia de brasileiros gostassem. Creio você estar neste seleto grupo.

A primeira audição destes malucos me contaminou imediatamente. A voz soturna, o clima decadente... Tudo contribuíra para eu adorar a banda.

Abraços.

Alphonse van Worden disse...

Obrigado, cara.

Em tempo: esses blogs coligados, como isso funciona?