domingo, abril 03, 2011

A propósito do caráter não-científico do marxismo - parte II

Alphonse van Worden - 1750 AD














b) Objeto de estudo bem definido e de natureza empírica; delimitação e descrição objetiva e eficiente de realidade empiricamente observável, isto é, daquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar por meio de métodos empíricos. 


Os objetos precípuos do marxismo - o 'Processo Histórico' e o 'Trabalho' - não podem ser de forma alguma definidos empiricamente, isto é, a partir da observação direta dos dados concretos fornecidos pela realidade; são, ao contrário, objetos socialmente construídos, cuja constituição decorre da subjetividade humana. Tampouco é possível uma descrição empírica de tais objetos, uma vez que sua consideração pressupõe a participação subjetiva do estudioso, que também participa da construção de tais objetos. O materialismo dialético é, em última instância, apenas uma manifestação particular do idealismo, já que confere um estatuto ontológico de realidade a um construto conceitual, a idéia de matéria. Marx, por conseguinte, ao formular o materialismo dialético, estabelece tão somente mais uma variante filosófica do idealismo, pois não há como escapar deste traço estrutural do materialismo, a saber, o de ser um epifenômeno do idealismo. Assim sendo, categorias exclusivamente conceituais como 'modo de produção', 'forças produtivas', 'luta de classes', etc. são tomadas como instâncias ontologicamente existentes. Em outras palavras: o marxismo fatalmente se insere no quadro das filosofias estéreis que acreditam na realidade de Universais. Ora, a crença na realidade ontológica dos Universais, que existem tão somente como construtos conceituais no processo de sistematização de conhecimentos adquiridos, arruína  qualquer possibilidade de elaboração de um método analítico-científico preciso e consistente.


c) Propósito de conhecer a realidade tal como ela se apresenta, procurando evitar a interferência de pressupostos ideológicos, valores, opiniões ou preconceitos do pesquisador. 


Por mais que os marxistas pretendam ser observadores isentos da realidade que estudam, isto é refutado pelo próprio desígnio formulado por Marx como objetivo central de sua visão de mundo: "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo", tal como lemos na décima primeira tese sobre Feuerbach (1845). Ou seja: a pretensão de transformar a realidade forçosamente implica a participação do sujeito cognoscente no processo, o que, como não poderia deixar de ser, envolve de maneira inescapável os valores ideológicos, preconceitos e opiniões do mesmo. Podemos mesmo afirmar que o marxismo não faz qualquer sentido se não for encarado como praxis transformadora do mundo, isto é, como guia revolucionário para a ação, talantes completamente avessos à natureza da atividade científica, que se dedica a elaborar uma representação racional do mundo. 


d) Observação controlada dos fenômenos: preocupação em controlar a qualidade do dado e o processo utilizado para sua obtenção. 


Como controlar a observação de fenômenos que transcendem o escopo de vida do observador? Como um pesquisador pode ter controle sobre algo como a 'luta de classes', que escapa a qualquer determinação espaço-temporal precisa e circunscrita ao âmbito do sujeito que a observa? Em suma: os fenômenos abordados pelo marxismo não podem ser verificados empiricamente, uma vez que escapam à própria natureza da observação sistemática, metódica e controlada dos fenômenos, para a formulação de enunciados científicos consistentes.

Significativa parcela dos marxistas comete grave erro, portanto, ao reivindicar para o marxismo a condição de teoria científica. O pensamento marxista é absolutamente brilhante como teoria política da ação revolucionária, como guia revolucionário para a ação, mas sobremaneira precário como visão científica do mundo; ao postular, pois, tal estatuto, seus adeptos tão somente logram expor-lhe os flancos, abrir a guarda para seu aspecto mais frágil e problemático. há que se ressaltar, vale dizer, que um aspecto fundamental do marxismo é tolamente ignorado por seus teóricos 'oficiais': o marxismo não apenas como teoria, mas também como TEOLOGIA política, já que é mister salientar o caráter inequivocamente MESSIÂNICO inerente a todo processo revolucionário.

Na sequência deste ensaio, analisaremos com mais vagar as considerações acima esboçadas, com especial atenção a aspectos de índole epistemológica.

3 comentários:

Anónimo disse...

uma observação: pelo que li de Raymnond Aron, Marx jamais empregou o termo "materialismo dialético", esse termo seria de Engeles apenas. E como existem certas diferenças entre o pensamento pretensamente cientifico de engels com a visão de Marx, talvez seja preferível nao empregá-lo.

abs
Paulo

Alphonse van Worden disse...

Tens razão, confrade. Agradeço imenso pela pertinente observação.

Saudações eurasianas,
AVW

Anónimo disse...

a desppeito de minha disposição em achar chifre em cabeça de cavalo, o texto está mto interessante... aguardo seus desenvolvimentos

um ponto q tornaria td ainda melhor seria incluir citaçóes do barbudo bobão e cia., embora certamente isso acabará tornando td + trabalhoso

parabens pelo texto

Paulo