Alphonse van Worden - 1750 AD
Áticos irmãos d’armas:
Gostaria de vos falar hoje a respeito de um dos líderes revolucionários mais insignes e importantes da última centúria: o Ayatollah Sayyid Ruhollah Musavi Khomeini (1902 - 1989), líder espiritual e político da Revolução Islâmica iraniana de 1979.
Figura controvertida, cujo legado histórico é sistemática e continuamente vilipendiado pela mídia mainstream no Ocidente, é mister que possamos, antes de qualquer coisa, compreender as profundas motivações que levaram Khomeini a se engajar no universo da política, bem como as profundas implicações do processo revolucionário islâmico para a nação persa. Tal é o móvel, vale dizer, das breves considerações que se seguem.
A meu juízo, a Revolução Islâmica salvou o Irã não apenas da tenebrosa ditadura de Reza Pahlevi, mas, sobretudo, d'algo infinitamente pior: o mergulho no báratro da desagregação espiritual e cultural d'uma civilização milenar. Pahlevi estava simplesmente DESTRUINDO a própria essência primordial da nação iraniana, assim como antes, por exemplo, Kemal Atatürk arrasara séculos de tradição otomana na Turquia; destarte, a Revolução Islâmica não apenas 'resgatou' política e socialmente o Irã, mas efetivamente RESSUSCITOU a alma de toda uma nação.
Sobre o exercício do governo pelos ayatollahs, há que ter em mente algo crucial: mesmo no âmbito do xiismo, onde o clero sempre teve uma atuação pública mais significativa que entre os sunitas, o modelo de governo consagrado pela tradição não preconiza que a administração fique DIRETAMENTE a cargo dos clérigos. Não obstante, Khomeini teve o descortino, a ousadia e, o que é mais importante, o DESPRENDIMENTO em compreender que, no contexto que o país atravessava, era necessário romper com a ortodoxia.
Assim sendo, em lugar de permanecer alheio às buliçosas lides do mundo, como sempre fora de seu talante desde a mocidade, consagrado a uma contemplativa existência de estudo e meditação, Khomeini teve a coragem e a generosidade de engajar-se no terrível universo da luta política para salvar sua pátria, logrando ainda convencer outros clérigos de que chegara o momento da renúncia, da abnegação, da santa resignação, enfim, em tomar parte das vicissitudes e sacrifícios envolvidos na conturbada esfera da ação política.
Há também que salientar que tão somente a inquestionável liderança de Khomeini poderia ser capaz de galvanizar as massas para a implementação do ousado e ambicioso programa revolucionário, que envolve toda uma nova concepção de democracia, tal como podemos perceber através de uma das mais significativas passagens da obra do venerável Marja al-taqlid:
O excerto em tela envolve, a meu ver, três questões de cunho fundamental:
Em primeiro lugar, o facto de que o modelo implementado pela República Islâmica do Irã representa uma alternativa soberana e democrática para toda a região. Afinal, conquanto não seja uma ‘democracia representativa’ tout court, vale dizer, meramente em termos de formalismo jurídico-institucional, o Irã é uma legítima democracia de massas, onde as instituições e instâncias governantes emanam da religião professada pela quase totalidade de seus cidadãos, que subscrevem amplamente um sistema político, social e econômico derivado das formulações legais da Shariah. E hoje, 30 anos após o triunfo da Revolução Islâmica, o legado de Khomeini permanece incólume: o sábio Ayatollah Khamenei, bem como os demais clérigos do Conselho dos Guardiães e da Assembléia dos Estudiosos, governam o país plenamente imbuídos do mesmos ideais acalentados por Khomeini.
A passagem supracitada também ilustra, de maneira cabal, que um homem plena e visceralmente convicto da Verdade suprema das Leis Eternas, não se importa com o vozerio fátuo e volúvel das multidões, pois ele detém o Caminho, enquanto todos os demais, de orgulhosa insensatez e falsas 'certezas' prenhes, em verdade vagueiam perdidos por um orco de trevas; trata-se d'um modo de pensar que não se faz presente apenas no universo islâmico, mas que também reverbera n'outras formações culturais, tal como nos relembra a esplêndida máxima lavrada por Santo Atanásio (295 - 373|, bispo de Alexandria reverenciado como santo tanto por católicos quanto ortodoxos: “Se o mundo estiver contra a verdade, então Atanásio estará contra o mundo!”
Por fim, o ínclito patriarca da Revolução Islâmica demonstra à perfeição que nós, militantes Terza Posizione, devemos buscar um agir político que emerja do próprio imo da consciência religiosa; ou, melhor dizendo, um impulso de transformação social, cultural e espiritual que nasça não da razão política, mas dos postulados transcendentes da fé, que faça da religião um agir político, e do agir político uma religião. Portanto, a despeito de quaisquer dissensões de âmbito doutrinário (que são múltiplas e inexoráveis, seria uma estultícia negá-lo), creio, por exemplo, que a Igreja deveria estudar atentamente o eloqüente exemplo da Revolução Islâmica iraniana: com efeito, a liderança de Khomeini, a um só tempo demonstrando extrema sagacidade e fidelidade aos cânones de sua religião, não somente canalizou politicamente o Islã para fazer a revolução iraniana, ou seja, fez uso da religião para agir politicamente, mas outrossim lançou mão da política para atuar religiosamente em prol da regeneração espiritual e moral de seu país.
Áticos irmãos d’armas:
Gostaria de vos falar hoje a respeito de um dos líderes revolucionários mais insignes e importantes da última centúria: o Ayatollah Sayyid Ruhollah Musavi Khomeini (1902 - 1989), líder espiritual e político da Revolução Islâmica iraniana de 1979.
Figura controvertida, cujo legado histórico é sistemática e continuamente vilipendiado pela mídia mainstream no Ocidente, é mister que possamos, antes de qualquer coisa, compreender as profundas motivações que levaram Khomeini a se engajar no universo da política, bem como as profundas implicações do processo revolucionário islâmico para a nação persa. Tal é o móvel, vale dizer, das breves considerações que se seguem.
A meu juízo, a Revolução Islâmica salvou o Irã não apenas da tenebrosa ditadura de Reza Pahlevi, mas, sobretudo, d'algo infinitamente pior: o mergulho no báratro da desagregação espiritual e cultural d'uma civilização milenar. Pahlevi estava simplesmente DESTRUINDO a própria essência primordial da nação iraniana, assim como antes, por exemplo, Kemal Atatürk arrasara séculos de tradição otomana na Turquia; destarte, a Revolução Islâmica não apenas 'resgatou' política e socialmente o Irã, mas efetivamente RESSUSCITOU a alma de toda uma nação.
Sobre o exercício do governo pelos ayatollahs, há que ter em mente algo crucial: mesmo no âmbito do xiismo, onde o clero sempre teve uma atuação pública mais significativa que entre os sunitas, o modelo de governo consagrado pela tradição não preconiza que a administração fique DIRETAMENTE a cargo dos clérigos. Não obstante, Khomeini teve o descortino, a ousadia e, o que é mais importante, o DESPRENDIMENTO em compreender que, no contexto que o país atravessava, era necessário romper com a ortodoxia.
Assim sendo, em lugar de permanecer alheio às buliçosas lides do mundo, como sempre fora de seu talante desde a mocidade, consagrado a uma contemplativa existência de estudo e meditação, Khomeini teve a coragem e a generosidade de engajar-se no terrível universo da luta política para salvar sua pátria, logrando ainda convencer outros clérigos de que chegara o momento da renúncia, da abnegação, da santa resignação, enfim, em tomar parte das vicissitudes e sacrifícios envolvidos na conturbada esfera da ação política.
Há também que salientar que tão somente a inquestionável liderança de Khomeini poderia ser capaz de galvanizar as massas para a implementação do ousado e ambicioso programa revolucionário, que envolve toda uma nova concepção de democracia, tal como podemos perceber através de uma das mais significativas passagens da obra do venerável Marja al-taqlid:
“Um governo islâmico não pode ser totalitário ou despótico, mas sim de natureza democrática e constitucional. Todavia, no modelo de democracia em tela, as leis não são formuladas a partir da vontade popular, mas sim a partir dos princípios do Qu’ran e da Sunnah. Destarte, a constituição, bem como o código civil e o criminal, devem ser tão somente inspirados pelas leis islâmicas presentes no Q’uran e transcritas pelo Profeta. O regime islâmico é o governo do direito divino, e suas leis não podem ser modificadas ou contestadas. (...)“Em qualquer governo islâmico legítimo, os poderes legislativo, executivo e judiciário são substituídos por um Conselho Religioso de Planejamento. O Conselho mantém cada órgão administrativo informado a propósito das leis islâmicas que lhe concernem, garantindo que as políticas públicas a serem implementadas estejam de acordo com a lei religiosa; e a partir da totalidade de tais iniciativas, é estabelecida a orientação política geral para todo o país.” (...) “O governo islâmico, portanto, está submetido às leis do Islã, que não são provenientes nem do povo nem tampouco de representantes, mas diretamente de Allah e Sua vontade divina. A legislação corânica, que nada mais é que a própria lei divina, constitui a essência primordial de qualquer regime islâmico, a autoridade suprema que governa todos os cidadãos sob sua jurisdição. O Profeta, os Califas e toda a ummah devem obediência absoluta às leis eternas do Todo-Poderoso, que permanecem inalteráveis até o final dos Tempos, e são transmitidas aos mortais por intermédio do Qu’ran e do Profeta.”
O excerto em tela envolve, a meu ver, três questões de cunho fundamental:
Em primeiro lugar, o facto de que o modelo implementado pela República Islâmica do Irã representa uma alternativa soberana e democrática para toda a região. Afinal, conquanto não seja uma ‘democracia representativa’ tout court, vale dizer, meramente em termos de formalismo jurídico-institucional, o Irã é uma legítima democracia de massas, onde as instituições e instâncias governantes emanam da religião professada pela quase totalidade de seus cidadãos, que subscrevem amplamente um sistema político, social e econômico derivado das formulações legais da Shariah. E hoje, 30 anos após o triunfo da Revolução Islâmica, o legado de Khomeini permanece incólume: o sábio Ayatollah Khamenei, bem como os demais clérigos do Conselho dos Guardiães e da Assembléia dos Estudiosos, governam o país plenamente imbuídos do mesmos ideais acalentados por Khomeini.
A passagem supracitada também ilustra, de maneira cabal, que um homem plena e visceralmente convicto da Verdade suprema das Leis Eternas, não se importa com o vozerio fátuo e volúvel das multidões, pois ele detém o Caminho, enquanto todos os demais, de orgulhosa insensatez e falsas 'certezas' prenhes, em verdade vagueiam perdidos por um orco de trevas; trata-se d'um modo de pensar que não se faz presente apenas no universo islâmico, mas que também reverbera n'outras formações culturais, tal como nos relembra a esplêndida máxima lavrada por Santo Atanásio (295 - 373|, bispo de Alexandria reverenciado como santo tanto por católicos quanto ortodoxos: “Se o mundo estiver contra a verdade, então Atanásio estará contra o mundo!”
Por fim, o ínclito patriarca da Revolução Islâmica demonstra à perfeição que nós, militantes Terza Posizione, devemos buscar um agir político que emerja do próprio imo da consciência religiosa; ou, melhor dizendo, um impulso de transformação social, cultural e espiritual que nasça não da razão política, mas dos postulados transcendentes da fé, que faça da religião um agir político, e do agir político uma religião. Portanto, a despeito de quaisquer dissensões de âmbito doutrinário (que são múltiplas e inexoráveis, seria uma estultícia negá-lo), creio, por exemplo, que a Igreja deveria estudar atentamente o eloqüente exemplo da Revolução Islâmica iraniana: com efeito, a liderança de Khomeini, a um só tempo demonstrando extrema sagacidade e fidelidade aos cânones de sua religião, não somente canalizou politicamente o Islã para fazer a revolução iraniana, ou seja, fez uso da religião para agir politicamente, mas outrossim lançou mão da política para atuar religiosamente em prol da regeneração espiritual e moral de seu país.
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