quinta-feira, abril 01, 2010

A propósito das idéias políticas de Ruhollah Khomeini

Alphonse van Worden - 1750 AD






Áticos irmãos d’armas:

Gostaria de vos falar hoje a respeito de um dos líderes revolucionários mais insignes e importantes da última centúria: o Ayatollah Sayyid Ruhollah Musavi Khomeini (1902 - 1989), líder espiritual e político da Revolução Islâmica iraniana de 1979.

Figura controvertida, cujo legado histórico é sistemática e continuamente vilipendiado pela mídia mainstream no Ocidente, é mister que possamos, antes de qualquer coisa, compreender as profundas motivações que levaram Khomeini a se engajar no universo da política, bem como as profundas implicações do processo revolucionário islâmico para a nação persa. Tal é o móvel, vale dizer, das breves considerações que se seguem.

A meu juízo, a Revolução Islâmica salvou o Irã não apenas da tenebrosa ditadura de Reza Pahlevi, mas, sobretudo, d'algo infinitamente pior: o mergulho no báratro da desagregação espiritual e cultural d'uma civilização milenar. Pahlevi estava simplesmente DESTRUINDO a própria essência primordial da nação iraniana, assim como antes, por exemplo, Kemal Atatürk arrasara séculos de tradição otomana na Turquia; destarte, a Revolução Islâmica não apenas 'resgatou' política e socialmente o Irã, mas efetivamente RESSUSCITOU a alma de toda uma nação.

Sobre o exercício do governo pelos ayatollahs, há que ter em mente algo crucial: mesmo no âmbito do xiismo, onde o clero sempre teve uma atuação pública mais significativa que entre os sunitas, o modelo de governo consagrado pela tradição não preconiza que a administração fique DIRETAMENTE a cargo dos clérigos. Não obstante, Khomeini teve o descortino, a ousadia e, o que é mais importante, o DESPRENDIMENTO em compreender que, no contexto que o país atravessava, era necessário romper com a ortodoxia.

Assim sendo, em lugar de permanecer alheio às buliçosas lides do mundo, como sempre fora de seu talante desde a mocidade, consagrado a uma contemplativa existência de estudo e meditação, Khomeini teve a coragem e a generosidade de engajar-se no terrível universo da luta política para salvar sua pátria, logrando ainda convencer outros clérigos de que chegara o momento da renúncia, da abnegação, da santa resignação, enfim, em tomar parte das vicissitudes e sacrifícios envolvidos na conturbada esfera da ação política.

Há também que salientar que tão somente a inquestionável liderança de Khomeini poderia ser capaz de galvanizar as massas para a implementação do ousado e ambicioso programa revolucionário, que envolve toda uma nova concepção de democracia, tal como podemos perceber através de uma das mais significativas passagens da obra do venerável Marja al-taqlid:


“Um governo islâmico não pode ser totalitário ou despótico, mas sim de natureza democrática e constitucional. Todavia, no modelo de democracia em tela, as leis não são formuladas a partir da vontade popular, mas sim a partir dos princípios do Qu’ran e da Sunnah. Destarte, a constituição, bem como o código civil e o criminal, devem ser tão somente inspirados pelas leis islâmicas presentes no Q’uran e transcritas pelo Profeta. O regime islâmico é o governo do direito divino, e suas leis não podem ser modificadas ou contestadas. (...)“Em qualquer governo islâmico legítimo, os poderes legislativo, executivo e judiciário são substituídos por um Conselho Religioso de Planejamento. O Conselho mantém cada órgão administrativo informado a propósito das leis islâmicas que lhe concernem, garantindo que as políticas públicas a serem implementadas estejam de acordo com a lei religiosa; e a partir da totalidade de tais iniciativas, é estabelecida a orientação política geral para todo o país.” (...) “O governo islâmico, portanto, está submetido às leis do Islã, que não são provenientes nem do povo nem tampouco de representantes, mas diretamente de Allah e Sua vontade divina. A legislação corânica, que nada mais é que a própria lei divina, constitui a essência primordial de qualquer regime islâmico, a autoridade suprema que governa todos os cidadãos sob sua jurisdição. O Profeta, os Califas e toda a ummah devem obediência absoluta às leis eternas do Todo-Poderoso, que permanecem inalteráveis até o final dos Tempos, e são transmitidas aos mortais por intermédio do Qu’ran e do Profeta.”


O excerto em tela envolve, a meu ver, três questões de cunho fundamental:

Em primeiro lugar, o facto de que o modelo implementado pela República Islâmica do Irã representa uma alternativa soberana e democrática para toda a região. Afinal, conquanto não seja uma ‘democracia representativa’ tout court, vale dizer, meramente em termos de formalismo jurídico-institucional, o Irã é uma legítima democracia de massas, onde as instituições e instâncias governantes emanam da religião professada pela quase totalidade de seus cidadãos, que subscrevem amplamente um sistema político, social e econômico derivado das formulações legais da Shariah. E hoje, 30 anos após o triunfo da Revolução Islâmica, o legado de Khomeini permanece incólume: o sábio Ayatollah Khamenei, bem como os demais clérigos do Conselho dos Guardiães e da Assembléia dos Estudiosos, governam o país plenamente imbuídos do mesmos ideais acalentados por Khomeini.

A passagem supracitada também ilustra, de maneira cabal, que um homem plena e visceralmente convicto da Verdade suprema das Leis Eternas, não se importa com o vozerio fátuo e volúvel das multidões, pois ele detém o Caminho, enquanto todos os demais, de orgulhosa insensatez e falsas 'certezas' prenhes, em verdade vagueiam perdidos por um orco de trevas; trata-se d'um modo de pensar que não se faz presente apenas no universo islâmico, mas que também reverbera n'outras formações culturais, tal como nos relembra a esplêndida máxima lavrada por Santo Atanásio (295 - 373|, bispo de Alexandria reverenciado como santo tanto por católicos quanto ortodoxos: “Se o mundo estiver contra a verdade, então Atanásio estará contra o mundo!”

Por fim, o ínclito patriarca da Revolução Islâmica demonstra à perfeição que nós, militantes Terza Posizione, devemos buscar um agir político que emerja do próprio imo da consciência religiosa; ou, melhor dizendo, um impulso de transformação social, cultural e espiritual que nasça não da razão política, mas dos postulados transcendentes da fé, que faça da religião um agir político, e do agir político uma religião. Portanto, a despeito de quaisquer dissensões de âmbito doutrinário (que são múltiplas e inexoráveis, seria uma estultícia negá-lo), creio, por exemplo, que a Igreja deveria estudar atentamente o eloqüente exemplo da Revolução Islâmica iraniana: com efeito, a liderança de Khomeini, a um só tempo demonstrando extrema sagacidade e fidelidade aos cânones de sua religião, não somente canalizou politicamente o Islã para fazer a revolução iraniana, ou seja, fez uso da religião para agir politicamente, mas outrossim lançou mão da política para atuar religiosamente em prol da regeneração espiritual e moral de seu país.

Pensamentos de William Faulkner



Sobre a arte do escritor

Um escritor é uma criatura arrastada por demônios. Não sabe por que o escolheram, e normalmente está ocupado demais para se perguntar isso. É totalmente amoral, pois irá roubar, mendigar, pedir emprestado ou furtar de quem quer que seja para ver seu trabalho realizado. A única responsabilidade do escritor é para com sua arte. Será inteiramente desapiedado se for um bom escritor. Tem um sonho. Isso o angustia tanto que ele tem que se livrar dele. Não tem paz até então. O resto vai por água abaixo: honra, orgulho, decência, segurança, felicidade, tudo. Para que o livro seja escrito. Se um escritor tiver que roubar a sua mãe, não hesitará; a “Ode a uma urna grega” (John Keats) vale mais do que qualquer punhado de velhas.


Sobre o melhor ambiente / emprego para um escritor

O melhor emprego que já me foi oferecido foi o de zelador de um bordel. Na minha opinião, é o ambiente perfeito para um artista trabalhar; (...) tem um teto seguro e nada para fazer, senão cuidar de umas poucas contas e ir uma vez por mês pagar à polícia local. O lugar é quieto de manhã, que é a melhor hora para se trabalhar. Há bastante vida social à noite, se ele quiser participar para não se aborrecer; (...) todos os moradores da casa são mulheres, que o acatariam e o chamariam de ‘doutor’. Todos os contrabandistas de bebida da região também o chamariam de ‘doutor’. E ele poderia tratar os policiais pelo primeiro nome.


Sobre o trabalho

Na minha opinião é uma vergonha que haja tanto trabalho no mundo. Uma das coisas mais tristes é que a única coisa que um homem pode fazer oito horas por dia, dia após dia, é trabalhar. Não se pode comer oito horas por dia, nem beber oito horas por dia, nem fazer amor oito horas por dia – tudo o que se pode fazer durante oito horas é trabalhar. É esse o motivo pelo qual o homem torna, a si e a todos os demais, infelizes e miseráveis.


Sobre a subvenção oficial à cultura

Eu nunca soube que algo bom em literatura tivesse se originado da aceitação de uma oferta gratuita em dinheiro. O bom escritor nunca pede auxílio a uma instituição cultural. Está ocupado demais escrevendo alguma coisa. Se não é um escritor de primeira classe, ilude-se dizendo que não tem tempo ou liberdade econômica. Pode surgir arte boa de assaltantes, contrabandistas ou ladrões de cavalo. As pessoas na verdade têm medo de descobrir que podem suportar muita adversidade e pobreza. Têm medo de descobrir que são mais resistentes do que pensam. Nada pode destruir o bom escritor. (...) Se um homem não é um escritor de primeira classe, então não há nada que possa ajudá-lo muito, porque aí já vendeu sua alma por uma piscina.


Sobre o sucesso

O sucesso é feminino, é como uma mulher; se você se curva diante dela, ela passa por cima de você. Então o jeito de tratá-la é dar-lhe as costas da mão. Aí, talvez, ela venha a rastejar.


Sobre a relação crítica literária / escritor

O artista está um degrau acima do crítico, pois está escrevendo alguma coisa que porá o crítico em movimento. O crítico está escrevendo alguma coisa que porá todo o mundo em movimento, menos o artista.


Sobre a psicanálise

Todo mundo falava de Freud quando eu vivia em Nova Orleans, mas nunca o li. Nem Shakespeare o leu. Duvido que Melville o tenha lido, e tenho certeza de que Moby Dick não o fez.


Sobre a questão racial nos EUA (especificamente a partir do célebre ‘caso Emmet Till’)

Se nós, americanos, sobrevivermos, será porque escolhemos, elegemos e defendemos ser antes de tudo americanos; apresentar ao mundo uma frente homogênea e inquebrantável, seja de americanos brancos ou negros, roxos, azuis ou verdes. Talvez a finalidade desse triste e trágico erro, cometido por dois brancos adultos contra uma sofrida criança negra, seja provar se merecemos ou não sobreviver. Porque se nós, na América, chegamos ao ponto, na nossa desesperada cultura, de assassinar crianças, seja por qual razão ou cor, não merecemos sobreviver, e provavelmente não sobreviveremos.


Sobre pessoas que alegam não entender seus livros, mesmo após os lerem duas ou três vezes

Que leiam quatro vezes.


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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros