Alphonse van Worden - 1750 AD
Ao lado de autores como Carl Schmitt, Julius Evola e Georges Sorel, assoma também a figura do militar, pensador e escritor alemão Ernst Jünger (1895 - 1998) como um dos elementos centrais tanto na superação definitiva d’uma cosmovisão ideológica que hodiernamente já não faz mais qualquer sentido – isto é, a clássica dicotomia entre ‘esquerda’ / ‘direita’; quanto, sobretudo, na formatação filosófica e política d’uma nova síntese dinâmica entre, de um lado, os valores da Tradição (honra, senso de dever, disciplina, abnegação, coragem e ascetismo) e, de outro, a constelação de perspectivas ideológicas, à ‘esquerda’ e à ‘direita’, cujo eixo de gravidade se estabelece a partir da rejeição radical do Liberalismo e do Capitalismo.
Homem cujo pensamento não pode ser enquadrado em categorias estanques (consoante bem assinala Otto Maria Carpeaux, a ideologia jüngeriana poderia ser descrita como um amálgama de “nacionalismo e cosmopolitismo estético, heroísmo e tecnocracia, violência física e nobreza d’alma, aristocratismo e neobarbarismo.”); testemunha privilegiada da vertiginosa miríade de transformações ocorridas durante sua longeva existência; bem como autor criativo, ousado e polêmico, cujo legado multifário assume um escopo veramente ‘renascentista’ (com tomos abrangendo temas que vão de reflexões sobre a sociedade industrial à entomologia), não pretendemos traçar aqui um panorama abrangente do opus jüngeriano; tratar-se-ia, ademais, de empreitada para a qual ‘inda não estamos devidamente preparados, mas que, sem dúvida, tencionamos levar a cabo no futuro. Destarte, tão somente teceremos algumas considerações preliminares a propósito de uma das claves axiais do pensamento de Jünger: o extraordinário descortino que revelou ao perceber, já nos primeiros decênios do século XX, que a verdadeira subversão da ordem instaurada pelo Iluminismo tão somente poderia ser lograda pela convergência entre revolta romântica como fundamento espiritual, por um lado; e as conquistas tecnológicas da Modernidade como instrumento de ação, por outro.
Assim sendo, o escritor alemão advoga, a um só tempo, teses aparentemente ‘antitéticas’, tais como o primado d’uma ‘Aristocracia do Espírito’, que floresceria, em sua potência máxima de realização, encarnada nos arquétipos do Guerreiro, do Pensador e do Poeta; e a premente necessidade, de maneira a proteger a nação de qualquer ameaça externa, de um Estado de ‘Mobilização Total’ (Die Totale Mobilmachung - 1930) da sociedade industrial em prol de um esforço de guerra permanente.
A esse respeito, destaca-se, como emblemático exemplo inicial de sua capacidade de trabalhar a partir de diferentes linhas de fuga, na obra de Jünger o extraordinário In Stahlgewittern (Tempestades de Aço - primeira edição em 1920 / edição definitiva em 1961). O supracitado volume constitui tanto um relato de vigoroso e implacável realismo (e, ao mesmo tempo, pejado de êxtase delirante) sobre suas experiências como tenente do exército alemão na I Guerra Mundial, quanto um dionisíaco ensaio sobre a guerra como veículo de sublimação ascética e realização espiritual.
Jünger encara a experiência bélica, portanto, como derradeira oportunidade para o homem contemporâneo, ser avesso ao substrato mítico e religioso que lastreia seus alicerces históricos e culturais, livrar-se do pragmatismo medíocre e conformista, para então alçar-se à olímpica esfera das virtudes de um legítimo Kshatrya (o arquétipo védico do Guerreiro), para quem o combate tem sua recompensa em si mesmo, ainda que não seja coroado pela vitória; ou, em outras palavras: um homem para quem a guerra é uma esfera que vai muito além das causas e circunstâncias que condicionam cada conflagração em particular, estabelecendo-se, ao contrário, como dimensão cósmica que se projeta na ETERNIDADE, onde os autênticos kshatriya não podem ser derrotados pelos escravos do 'Reino da Quantidade' (Guenón), das sombras voláteis e fugidias do ‘Agora’, submetidos ao fluxo errático e transitório do TEMPO.
Para Jünger, portanto, mesmo que a vertiginosa evolução tecnológica da arte da guerra na modernidade acabe, ao fim e ao cabo, por minimizar a iniciativa individual do guerreiro, sua glória o projeta nos páramos da Eternidade. O mesmo acervo de idéias seria retomado mais tarde, vale dizer, n’outro texto do autor, o flamejante e exaltado ensaio Der Kampf Als Inneres Erlebnis (A Guerra como experiência interior - 1922), onde Jünger, à luz do Bhagavad Gita, reafirma sua concepção da guerra como transfiguração coletiva do conflito primordial entre o BEM e o MAL, dimensões presentes no espírito de cada ser humano e que, no âmbito em pauta, atingem seu mais elevado grau de depuração.
Ao lado de autores como Carl Schmitt, Julius Evola e Georges Sorel, assoma também a figura do militar, pensador e escritor alemão Ernst Jünger (1895 - 1998) como um dos elementos centrais tanto na superação definitiva d’uma cosmovisão ideológica que hodiernamente já não faz mais qualquer sentido – isto é, a clássica dicotomia entre ‘esquerda’ / ‘direita’; quanto, sobretudo, na formatação filosófica e política d’uma nova síntese dinâmica entre, de um lado, os valores da Tradição (honra, senso de dever, disciplina, abnegação, coragem e ascetismo) e, de outro, a constelação de perspectivas ideológicas, à ‘esquerda’ e à ‘direita’, cujo eixo de gravidade se estabelece a partir da rejeição radical do Liberalismo e do Capitalismo.
Homem cujo pensamento não pode ser enquadrado em categorias estanques (consoante bem assinala Otto Maria Carpeaux, a ideologia jüngeriana poderia ser descrita como um amálgama de “nacionalismo e cosmopolitismo estético, heroísmo e tecnocracia, violência física e nobreza d’alma, aristocratismo e neobarbarismo.”); testemunha privilegiada da vertiginosa miríade de transformações ocorridas durante sua longeva existência; bem como autor criativo, ousado e polêmico, cujo legado multifário assume um escopo veramente ‘renascentista’ (com tomos abrangendo temas que vão de reflexões sobre a sociedade industrial à entomologia), não pretendemos traçar aqui um panorama abrangente do opus jüngeriano; tratar-se-ia, ademais, de empreitada para a qual ‘inda não estamos devidamente preparados, mas que, sem dúvida, tencionamos levar a cabo no futuro. Destarte, tão somente teceremos algumas considerações preliminares a propósito de uma das claves axiais do pensamento de Jünger: o extraordinário descortino que revelou ao perceber, já nos primeiros decênios do século XX, que a verdadeira subversão da ordem instaurada pelo Iluminismo tão somente poderia ser lograda pela convergência entre revolta romântica como fundamento espiritual, por um lado; e as conquistas tecnológicas da Modernidade como instrumento de ação, por outro.
Assim sendo, o escritor alemão advoga, a um só tempo, teses aparentemente ‘antitéticas’, tais como o primado d’uma ‘Aristocracia do Espírito’, que floresceria, em sua potência máxima de realização, encarnada nos arquétipos do Guerreiro, do Pensador e do Poeta; e a premente necessidade, de maneira a proteger a nação de qualquer ameaça externa, de um Estado de ‘Mobilização Total’ (Die Totale Mobilmachung - 1930) da sociedade industrial em prol de um esforço de guerra permanente.
A esse respeito, destaca-se, como emblemático exemplo inicial de sua capacidade de trabalhar a partir de diferentes linhas de fuga, na obra de Jünger o extraordinário In Stahlgewittern (Tempestades de Aço - primeira edição em 1920 / edição definitiva em 1961). O supracitado volume constitui tanto um relato de vigoroso e implacável realismo (e, ao mesmo tempo, pejado de êxtase delirante) sobre suas experiências como tenente do exército alemão na I Guerra Mundial, quanto um dionisíaco ensaio sobre a guerra como veículo de sublimação ascética e realização espiritual.
Jünger encara a experiência bélica, portanto, como derradeira oportunidade para o homem contemporâneo, ser avesso ao substrato mítico e religioso que lastreia seus alicerces históricos e culturais, livrar-se do pragmatismo medíocre e conformista, para então alçar-se à olímpica esfera das virtudes de um legítimo Kshatrya (o arquétipo védico do Guerreiro), para quem o combate tem sua recompensa em si mesmo, ainda que não seja coroado pela vitória; ou, em outras palavras: um homem para quem a guerra é uma esfera que vai muito além das causas e circunstâncias que condicionam cada conflagração em particular, estabelecendo-se, ao contrário, como dimensão cósmica que se projeta na ETERNIDADE, onde os autênticos kshatriya não podem ser derrotados pelos escravos do 'Reino da Quantidade' (Guenón), das sombras voláteis e fugidias do ‘Agora’, submetidos ao fluxo errático e transitório do TEMPO.
Para Jünger, portanto, mesmo que a vertiginosa evolução tecnológica da arte da guerra na modernidade acabe, ao fim e ao cabo, por minimizar a iniciativa individual do guerreiro, sua glória o projeta nos páramos da Eternidade. O mesmo acervo de idéias seria retomado mais tarde, vale dizer, n’outro texto do autor, o flamejante e exaltado ensaio Der Kampf Als Inneres Erlebnis (A Guerra como experiência interior - 1922), onde Jünger, à luz do Bhagavad Gita, reafirma sua concepção da guerra como transfiguração coletiva do conflito primordial entre o BEM e o MAL, dimensões presentes no espírito de cada ser humano e que, no âmbito em pauta, atingem seu mais elevado grau de depuração.
1 comentário:
Dileto confrade:
O servidor do FORO este com problemas durante alguns dias, mas o serviço já foi restabelecido; de todo modo, infelizmente alguns usuários só estão conseguindo conectar via proxy.
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