Ontem este vosso escriba estava a escutar o álbum Snailking , titânica obra-prima de psyched out heavy stoner space rock urdida pelos mestres piemonteses do Ufomammut, quando comecei a divagar sobre possíveis conexões estilísticas que poderiam ser estabelecidas fora d'um universo de referência mais óbvio (Electric Wizard, Yob, Neurosis, Kyuss).
Primeiramente vieram-me à mente os norte-americanos do Subarachnoid Space, e depois os suecos do Spacious Mind; não obstante, logo descartei tais hipóteses, pois ao grupo norte-americano falta o peso cataclísmico que caracteriza o Ufomammut e, aos suecos, a atmosfera de estupefaciente paranóia. Eis então que, de súbito, me ocorreu à mente a formação mexicana Frolic Froth, e ao revisitar seu disco de estréia, Eponymous (1996), confirmou-se minha intuição: se Ufomammut é 'Electric Wizard on acid meets a martian Neurosis in the 'no man's land' of sonic neverness' , Frolic Froth é a variante psych avant kraut de tal cópula bestial, estraçalhando cérebros desavisados com catadupas de lisergia guitarrística e avalanches de magma percussivo.
Por mais que a globalização tenha nos habituado a estes curiosos fenômenos de transposição de formas culturais exógenas para contextos tradicionalmente insuspeitos, confesso-vos que ainda me causa espécie constatar a existência de uma banda como o Frolic Froth: Raios partam, como é possível o México parir um petardo tão avassalador e transtornado de psychedelic avant metal como Eponymous?! Mas o facto é que o disco existe, e que tranquilamente se qualifica como um dos melhores do gênero já feitos na América Latina, se não for O melhor.
U.F.O.L.O.G.Y., faixa de abertura, é a pièce de résistance do álbum, um inolvidável maremoto de 22 minutos em sonic evisceration full mode ON, desde a espectral ambiência de sua introdução, à moda de um Black Sabbath from outer space, até a estupefaciente aterrissagem final em compasso de lisergia kraut, com imponentes sobretons de Guru Guru goes cosmic doom (sobretudo em se tratando das estupendas tramas de guitarra elétrica urdidas por Jorge Beltran), efeitos eletrônicos alucinógenos e tonitruantes explosões rítmicas.
Malgrado não sejam tão arrebatadoras, as duas faixas complementares não deixam a peteca cair: Loop Us soa como um implausível (mas fascinante) híbrido entre a obsessiva geometria sonora do math rock, assimetrias R.I.O , samples de violinos e o peso obnubilado do stoner doom; a hipnótica Moonmole, por fim, de fatura mais atmosférica e rarefeita, encerra o álbum numa nota de índole contemplativa, mas nem por isso menos poderosa.
Enfim, confrades: um excelente disco no âmbito da sempre estimulante fusão entre as fronteiras mais extremas da psicodelia e do metal, e que deixa no ar uma pergunta que não quer calar: por que cargas d'água não vemos bandas brasileiras desenvolvendo um trabalho da mesma qualidade e ousadia?
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Ten. Giovanni Drogo
Forte Bastiani
Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros
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