Outro aspecto que merece atenção nesse contexto é a simplicidade e a modéstia dos líderes do Hamas e de suas principais personalidades. Essas virtudes sempre proporcionaram uma grande popularidade ao grupo. Seus líderes mais conceituados ainda vivem lado a lado com as pessoas pobres e comuns. O xeque Ahmed Yassin viveu e posteriormente foi assassinado no mesmo campo de refugiados onde sua família foi forçada a se estabelecer quando ele era uma criança em 1948. (...) Mesmo Ismail Haniyeh, o primeiro-ministro do governo do Hamas, recusou-se a deixar sua modesta casa de classe baixa e se mudar para a residência confortável de primeiro-ministro. Na primeira reunião do gabinete do governo do Hamas, que durou seis horas, em 5 de abril de 2006, Haniyeh e seus ministros tiveram no almoço sanduíches bem simples de homous e falafel comprados em um estabelecimento local." "O gabinete declarou que reduziria pela metade os salários de todos os ministros e membros do parlamento, e que só os pagaria quando todos os outros palestinos tivessem recebido seus salários. Aziz Duwaik, o presidente do parlamento, outra personalidade do Hamas, recusou-se a receber um carro especial com segurança a proteção. Segundo ele, seu desejo era “nunca custar um centavo a mais ao orçamento do governo”. (...) Os palestinos comparam esse comportamento simples e próximo do comportamento do povo, com o estilo de vida esbanjador e arrogância da alta liderança do derrotado movimento Fatah e antigos membros da autoridade palestina.
Hamas: Um Guia para Iniciantes - Khaled Hroub (Difel, 2008)
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As passagens acima, de autoria d'um jornalista palestino adepto do secularismo e insuspeito de qualquer facciosismo em relação ao HAMAS, demonstram à perfeição a significativa diferença existente entre os movimentos políticos de orientação islâmica e os partidos políticos ‘convencionais’, árabes ou não: vale dizer, o profundo idealismo, insofismável probidade e inquebrantável firmeza de propósitos que caracterizam os militantes e líderes de organizações como Hamas, Hizbollah, Jaish al Mahdi, etc., em flagrante oposição ao desencanto, oportunismo e improbidade que são hoje as marcas registradas do processo político vigente nas grandes ‘democracias’. Reparai, áticos irmãos d'armas, a título de ilustração, a que ponto veramente estarrecedor pode chegar a inversão de valores no âmago do Ocidente:
"É preciso, sobretudo, entender como funciona a cabeça de um homem de costumes tão toscos, que diz tantos disparates publicamente e que não age como os governantes em geral, sejam eles democratas ou ditadores” — contou ao GLOBO um funcionário do governo americano, sob condição de anonimato.
O Globo - Rio, 18 de janeiro de 2006.
Sabei vós quais seriam esses costumes tão 'toscos'? A própria reportagem responde em parágrafo ulterior:
"Ele continua vivendo num pequeno apartamento e, embora disponha de limusines, às vezes transita por Teerã, em especial nos fins de semana, ao volante de um carro iraniano que adquiriu 30 anos atrás. E, como fazia na época em que era prefeito de Teerã (eleito em 2003), em vez de almoçar num salão do palácio, alguns dias come em seu próprio gabinete um lanche que leva de casa, preparado por sua mulher."
Ou seja, Ahmadinejad é qualificado por um membro do establishment político norte-americano como homem 'tosco' por conservar seu estilo de vida probo, modesto e austero mesmo estando à testa da presidência da república. Destarte, "não age como os governantes em geral, sejam eles democratas ou ditadores", isto é, não é corrupto e venal, sendo por isso apodado como um homem 'tosco'...
Perante tão cabais e emblemáticas evidências, é mister acrescentar mais alguma coisa...?
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