Alphonse van Worden - 1750 AD
Hans Reichenbach (1891-1953), lógico e filósofo alemão, abordou inicialmente o problema da inferência indutiva no ensaio Ziele und Wege der physikalische Erkenntnis ("Objetivos e Métodos do Conhecimento Fisico" - 1929), tendo em vista, sobretudo, a investigação de questões de metodologia científica.
Verificamos, assinala Reichenbach, a vigência de uma regularidade presente nas percepções que já experimentamos e, portanto, logo afirmamos que eventuais percepções futuras irão necessariamente apresentar os mesmos padrões de regularidade. Nas palavras do filósofo alemão:
Trata-se de uma conclusão de caráter imediato, denominada conclusão indutiva. Através dela se introduz o conceito de probabilidade no conhecimento da natureza, uma vez que semelhante afirmação não pode expressar-se senão por intermédio da probabilidade. A conclusão indutiva é também denominada, por esta razão, conclusão de probabilidade.
Reichenbach, a seguir, sintetiza em três proposições a maior parte das concepções filosóficas anteriores:
1° - A conclusão de probabilidade não pode ser fundamentada
logicamente, porque caminha de casos já observados para
casos ainda não observados, sob os quais nada se pode saber.
2° - A conclusão de probabilidade não é empiricamente
demonstrável, já que não é possível afirmarmos sua
validade pelo fato de que atenhamos comprovado muitas
vezes, pois esta constatação já seria, por si mesma, uma
conclusão de probabilidade.
3° - A conclusão de probabilidade é imprescindível para o conhecimento natural.
Conforme Reichenbach nos relembra, Hume foi o primeiro a formular rigorosamente as duas primeiras propriedades da conclusão de probabilidade; também mencionou a terceira, salienta o autor alemão, mas não logrou conceber o papel fundamental que o raciocínio indutivo possui nos processos cognitivos. Hume acredita poder explicar os processos indutivos como um hábito desprovido de fundamento lógico-racional, concepção que, observa Reichenbach, não se revela um caminho profícuo para a resolução do problema.
O filósofo alemão estabelece, então, o procedimento que irá nortear suas investigações e conclusões a respeito do papel desempenhado pelas inferências indutivo-probabilistas no conhecimento científico. Reichenbach introduz, em primeiro lugar, a noção de probabilidade como conceito lógico essencial, presumindo que seu significado nos é fornecido axiomaticamente; estipula, para tanto, as seguintes suposições axiomáticas:
1° Faz sentido e é lícito extrair , com probabilidade, de um
número finito de ocorrências, todas as demais.
2° Faz sentido e é lícito afirmar, com probabilidade, da probabilidade de um fenômeno sua correspondente ocorrência em um número finito de casos.
Tendo, pois, definido a perspectiva em que sua análise iria se delinear, Reichenbach concentrou-se em examinar a natureza da inferência indutiva no âmbito do conhecimento científico. O filósofo alemão, devemos ter em mente, encarava a epistemologia não como um saber meramente descritivo, mas sim como um exercício crítico e criativo, capaz de descortinar novas perspectivas para o pensamento científico: sua função mais importante era elaborar uma reconstrução racional do que seria o modo de pensar de uma ciência ideal, que deveria ser sempre cotejado com os processos utilizados pela ciência real.
O objetivo de tal comparação seria o abandono de todas as formas de pensamento que não respeitassem os dois critérios mínimos de aceitabilidade racional: 1) conformação compatível com o restante da estrutura previamente admitida como essencial e 2) certo caráter de diagnóstico ou parecer, isto é, de contribuição distinta e original para a supracitada estrutura. Os objetivos de Reichenbach em seu projeto de reelaboração racional da Filosofia da Ciência eram, sublinhemos, semelhantes aos de seus confrades austríacos do Círculo de Viena, tais como Rudolf Carnap (1891-1970) e Möritz Schlick (1862-1936); todavia, uma discrepância fundamental separava-os: a reiterada convicção de Reichenbach na validade das inferências indutivo-probabilistas no processo do conhecimento científico.
Para o filósofo alemão, uma proposição só possui significado se for possível determinar-lhe um grau definido de probabilidade; além disso, duas proposições têm o mesmo significado se demonstramos que são dotadas do mesmo grau de probabilidade. As experiências passadas proporcionam um suporte para as expectativas referentes a eventos futuros, na medida em que nos permitam estimar a probabilidade de sua ocorrência; tais eventos devem ser considerados como elementos de conjuntos, devendo ser também mais ou menos reincidentes, ainda que estejam em pauta eventos únicos, como quando, por exemplo, um médico constata, baseado em sua experiência passada com outros casos semelhantes, que um determinado paciente provavelmente faleceu em virtude de câncer. Assim sendo, ao lado do raciocínio indutivo, Reichenbach introduziu um elemento de pragmatismo em seu positivismo lógico, uma vez que o significado de uma proposição ou enunciado é determinado em função dos resultados e procedimentos empiricamente observados.
_____
[1] A supracitada discrepância, no que diz respeito a Carnap, se refere mais precisamente às concepções esposadas pelo filósofo austríaco em sua primeira fase; mais tarde, as posições de Carnap sobre a questão se aproximariam bastante das idéias de Reichenbach, o que podemos constatar, por exemplo, em obras do autor austríaco tais como Logical Foundations of Probability (1950) ou An Introduction to the Philosophy of Science (1966), dentre outras.
Hans Reichenbach (1891-1953), lógico e filósofo alemão, abordou inicialmente o problema da inferência indutiva no ensaio Ziele und Wege der physikalische Erkenntnis ("Objetivos e Métodos do Conhecimento Fisico" - 1929), tendo em vista, sobretudo, a investigação de questões de metodologia científica.
Verificamos, assinala Reichenbach, a vigência de uma regularidade presente nas percepções que já experimentamos e, portanto, logo afirmamos que eventuais percepções futuras irão necessariamente apresentar os mesmos padrões de regularidade. Nas palavras do filósofo alemão:
Trata-se de uma conclusão de caráter imediato, denominada conclusão
Reichenbach, a seguir, sintetiza em três proposições a maior parte das concepções filosóficas anteriores:
1° - A conclusão de probabilidade não pode ser fundamentada
logicamente, porque caminha de casos já observados para
casos ainda não observados, sob os quais nada se pode saber.
2° - A conclusão de probabilidade não é empiricamente
demonstrável, já que não é possível afirmarmos sua
validade pelo fato de que atenhamos comprovado muitas
vezes, pois esta constatação já seria, por si mesma, uma
conclusão de probabilidade.
3° - A conclusão de probabilidade é imprescindível para o
Conforme Reichenbach nos relembra, Hume foi o primeiro a formular rigorosamente as duas primeiras propriedades da conclusão de probabilidade; também mencionou a terceira, salienta o autor alemão, mas não logrou conceber o papel fundamental que o raciocínio indutivo possui nos processos cognitivos. Hume acredita poder explicar os processos indutivos como um hábito desprovido de fundamento lógico-racional, concepção que, observa Reichenbach, não se revela um caminho profícuo para a resolução do problema.
O filósofo alemão estabelece, então, o procedimento que irá nortear suas investigações e conclusões a respeito do papel desempenhado pelas inferências indutivo-probabilistas no conhecimento científico. Reichenbach introduz, em primeiro lugar, a noção de probabilidade como conceito lógico essencial, presumindo que seu significado nos é fornecido axiomaticamente; estipula, para tanto, as seguintes suposições axiomáticas:
número finito de ocorrências, todas as demais.
2° Faz sentido e é lícito afirmar, com probabilidade, da
O objetivo de tal comparação seria o abandono de todas as formas de pensamento que não respeitassem os dois critérios mínimos de aceitabilidade racional: 1) conformação compatível com o restante da estrutura previamente admitida como essencial e 2) certo caráter de diagnóstico ou parecer, isto é, de contribuição distinta e original para a supracitada estrutura. Os objetivos de Reichenbach em seu projeto de reelaboração racional da Filosofia da Ciência eram, sublinhemos, semelhantes aos de seus confrades austríacos do Círculo de Viena, tais como Rudolf Carnap (1891-1970) e Möritz Schlick (1862-1936); todavia, uma discrepância fundamental separava-os: a reiterada convicção de Reichenbach na validade das inferências indutivo-probabilistas no processo do conhecimento científico.
Para o filósofo alemão, uma proposição só possui significado se for possível determinar-lhe um grau definido de probabilidade; além disso, duas proposições têm o mesmo significado se demonstramos que são dotadas do mesmo grau de probabilidade. As experiências passadas proporcionam um suporte para as expectativas referentes a eventos futuros, na medida em que nos permitam estimar a probabilidade de sua ocorrência; tais eventos devem ser considerados como elementos de conjuntos, devendo ser também mais ou menos reincidentes, ainda que estejam em pauta eventos únicos, como quando, por exemplo, um médico constata, baseado em sua experiência passada com outros casos semelhantes, que um determinado paciente provavelmente faleceu em virtude de câncer. Assim sendo, ao lado do raciocínio indutivo, Reichenbach introduziu um elemento de pragmatismo em seu positivismo lógico, uma vez que o significado de uma proposição ou enunciado é determinado em função dos resultados e procedimentos empiricamente observados.
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[1] A supracitada discrepância, no que diz respeito a Carnap, se refere mais precisamente às concepções esposadas pelo filósofo austríaco em sua primeira fase; mais tarde, as posições de Carnap sobre a questão se aproximariam bastante das idéias de Reichenbach, o que podemos constatar, por exemplo, em obras do autor austríaco tais como Logical Foundations of Probability (1950) ou An Introduction to the Philosophy of Science (1966), dentre outras.
2 comentários:
olá, interessantes suas reflexões. poderia informar sua formação acadêmica? cheers
Bacharel em filosofia e comunicação social.
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