Alphonse van Worden - 1750 AD
No esteio da proposta adrede iniciada n'outro sítio pelo irmão Daher, postarei aqui algumas considerações a propósito do ínclito frade dominicano Girolamo Maria Francesco Matteo Savonarola (1452 - 1498), um dos grandes próceres da teologia messiânica da ação revolucionária.
Desnecessário nos determos nos episódios da acidentada gesta biográfica de fra Girolamo, de sobejo conhecidos por todos os interessados em História medieval e filosofia política; concentremo-nos, pois, em seu significado para uma perspectiva Terza Posizione.
De Savonarola li alguns sermões, textos deveras impressionantes não só em virtude da intensidade flamejante de sua fé, mas também pela beleza rutilante de suas imagens literárias e, claro está, pelo ousado caráter de suas idéias políticas. Com efeito, não seria irrazoável afirmar que Savonarola foi um dos grandes pioneiros da teologia político-messiânica da ação revolucionária, convertendo a fé cristã em arma de libertação do povo contra a tirania dos poderosos, sem no entanto indulgir, tal como a tragicamente equivocada 'Teologia da Libertação', em qualquer hipótese de relaxamento moral e lassidão dos costumes, pois o excelso dominicano propugnava o mais rigoroso ascetismo moral como norma de conduta pessoal e social. Politicamente advogou uma maior participação do povo nas questões de Estado, por intermédio do "Grande Conselho", bem como a adoção d'um regime constitucional de caráter republicano, tudo isto sem no entanto abdicar, o que é de fundamental importância, da crença de que qualquer forma de poder ou organização social tão somente pode ser definida como LEGÍTIMA caso desfrute de lastro teológico.
Seu Trattato circa il Reggimento di Firenze é, se calhar, o que de mais importante escreveu em termos de reflexão política. É uma obra de leitura sumamente interessante, pois transfigura a perspectiva não d'uma teoria abstrata, mas d'um programa político de ação concreta sob a luz da Teologia. Não se trata, é mister salientar, d'um pensamento a predicar a mera instrumentalização política da religião para fins 'operacionais', mas sim d'uma reflexão que emerge do próprio imo da consciência religiosa ou, melhor dizendo, d'um impulso de transformação social que nasce não da razão política, mas dos postulados transcendentes da fé, convertendo a religião em agir político, e não o contrário. Portanto, não se pode, por exemplo, afirmar que Savonarola tenha canalizado politicamente a fé católica para defender seu programa de reformas, ou seja, que tenha feito uso da religião para agir politicamente, mas sim que fez uso da política para atuar religiosamente; e o mesmo poderia ser dito, aliás, a respeito de Khomeini no bojo da Revolução Iraniana, ou de Antônio Conselheiro na Revolta de Canudos, etc.
Enfim, preclaros irmãos d'armas: Savonarola sem dúvida figura em nosso panteão de grandes próceres, e seu legado não pode jamais ser olvidado.
No esteio da proposta adrede iniciada n'outro sítio pelo irmão Daher, postarei aqui algumas considerações a propósito do ínclito frade dominicano Girolamo Maria Francesco Matteo Savonarola (1452 - 1498), um dos grandes próceres da teologia messiânica da ação revolucionária.
Desnecessário nos determos nos episódios da acidentada gesta biográfica de fra Girolamo, de sobejo conhecidos por todos os interessados em História medieval e filosofia política; concentremo-nos, pois, em seu significado para uma perspectiva Terza Posizione.
De Savonarola li alguns sermões, textos deveras impressionantes não só em virtude da intensidade flamejante de sua fé, mas também pela beleza rutilante de suas imagens literárias e, claro está, pelo ousado caráter de suas idéias políticas. Com efeito, não seria irrazoável afirmar que Savonarola foi um dos grandes pioneiros da teologia político-messiânica da ação revolucionária, convertendo a fé cristã em arma de libertação do povo contra a tirania dos poderosos, sem no entanto indulgir, tal como a tragicamente equivocada 'Teologia da Libertação', em qualquer hipótese de relaxamento moral e lassidão dos costumes, pois o excelso dominicano propugnava o mais rigoroso ascetismo moral como norma de conduta pessoal e social. Politicamente advogou uma maior participação do povo nas questões de Estado, por intermédio do "Grande Conselho", bem como a adoção d'um regime constitucional de caráter republicano, tudo isto sem no entanto abdicar, o que é de fundamental importância, da crença de que qualquer forma de poder ou organização social tão somente pode ser definida como LEGÍTIMA caso desfrute de lastro teológico.
Seu Trattato circa il Reggimento di Firenze é, se calhar, o que de mais importante escreveu em termos de reflexão política. É uma obra de leitura sumamente interessante, pois transfigura a perspectiva não d'uma teoria abstrata, mas d'um programa político de ação concreta sob a luz da Teologia. Não se trata, é mister salientar, d'um pensamento a predicar a mera instrumentalização política da religião para fins 'operacionais', mas sim d'uma reflexão que emerge do próprio imo da consciência religiosa ou, melhor dizendo, d'um impulso de transformação social que nasce não da razão política, mas dos postulados transcendentes da fé, convertendo a religião em agir político, e não o contrário. Portanto, não se pode, por exemplo, afirmar que Savonarola tenha canalizado politicamente a fé católica para defender seu programa de reformas, ou seja, que tenha feito uso da religião para agir politicamente, mas sim que fez uso da política para atuar religiosamente; e o mesmo poderia ser dito, aliás, a respeito de Khomeini no bojo da Revolução Iraniana, ou de Antônio Conselheiro na Revolta de Canudos, etc.
Enfim, preclaros irmãos d'armas: Savonarola sem dúvida figura em nosso panteão de grandes próceres, e seu legado não pode jamais ser olvidado.
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