- Não existem, nunca existiram e tampouco existirão quaisquer parâmetros OBJETIVOS, isto é, lógico-demonstrativos ou verdadeiros por definição, tal como as tautologias da razão pura, para o balizamento crítico do fenômeno estético. Critérios como 'afinação', 'técnica' e outros ainda mais imprecisos e etéreos como 'criatividade', 'inovação', etc. não possuem, jamais possuíram ou virão a possuir qualquer valor de demonstração objetiva, uma vez que não envolvem relações intrinsecamente necessárias, cujo sentido permanece o mesmo sob diferentes arranjos de palavras ou símbolos; são pois critérios mormente históricos, eminentemente variáveis e cambiantes, e que fatalmente irão expressar valores conflitantes ao longo do tempo.
- Isto posto, uma obra de arte tão somente pode ser avaliada em função de nossa subjetividade e não em função de sua pretensa importância 'histórica' ou de qualquer código de valores técnicos, éticos, políticos ou comportamentais pretensamente 'objetivos'. Em termos puramente objetivos, portanto, qualquer Tiririca tem o mesmo valor de Bach, assim como um pintor de feira hippie o mesmo valor de Velásquez: a atribuição de um valor menor ou maior a cada um deles é e sempre será uma função de nossa subjetividade, a despeito de critérios pseudo-objetivos como 'importância histórica', 'técnica', 'criatividade' e que tais.
- Não obstante, as pessoas querem porque querem que suas preferências tenham um valor OBJETIVO capaz de distinguir-lhes como 'superiores', o que constitui uma vã e impossível pretensão.
- Destarte, reitero a pergunta feita por certo professor de estética a um atoleimado discente que insistia na existência de parâmetros objetivos de avaliação estética: "em que Bach é objetivamente superior a Tiririca"? Decerto em 'complexidade', 'refinamento', 'importância histórica', 'criatividade', 'sofisticação técnica', etc,; não obstante, Tiririca é mais 'engraçado' e 'alegre'. Muito bem: por que cargas d'água critérios tais como 'complexidade', 'refinamento', 'importância histórica', 'criatividade', 'sofisticação técnica' seriam mais 'objetivos' que 'graça' e alegria', ou então axiologicamente superiores? Com efeito, a importância que eventualmente atribuiremos a cada um deles fatalmente será de ordem subjetiva. Isto não significa, claro está, que não possamos levar a cabo taxonomias e escalas de comparação, desde que tenhamos plena consciência do caráter inelutavelmente SUBJETIVO que as consubstancia.
- Repetindo: todo e qualquer juízo estético é inelutavelmente, por sua própria estrutura intrínseca de formulação, um juízo de valor e, como tal, de natureza mormente subjetiva; não há portanto nenhum elemento essencialmente OBJETIVO quer permita estabelecer que um determinado ato estético é 'melhor' do que outro. Isto posto, não há como estabelecer uma hierarquia de preferências estéticas, de modo que gostar de Yes, Marilion, Univers Zero, Menudo, Schönberg ou Nélson Ned possui exatamente o mesmo valor objetivo: ZERO. Quaisquer parâmetros que possam ser elencados - consenso histórico, 'técnica', etc - estão embutidos por elementos subjetivos, que determinam inclusive sua posição mais ou menos relevante no quadro valorativo.
Ten. Giovanni Drogo
Forte Bastiani
Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros
2 comentários:
Hmmmm, discussão interessante.
Acho que existe um critério objetivo em que Bach supera Tiririca, embora esta objetividade seja... subjetiva.
É o seguinte: mais gente acha que Bach é ojetivamente melhor. Quem acha Bach mais legal, acha também que Bach é melhor. Quem acha Tiririca mais legal, acaba reconhecendo que Bach é melhor.
Um estudioso de música pode dizer que Bach é melhor ou que não há critérios ojetivos para definir quem é o melhor. Se disser que Tiririca é objetivamente melhor, ele não será levado a sério. E existe um critério objetivo para determinar quem é levado a sério: o número de citações.
A própria escolha de exemplo sua evidenciou a possibilidade de haver meios objetivos de comparar arte. Você poderia ter colocado Bach e Beethoven. Mas escolheu Bach e Tiririca, assumindo que seu leitor perceberia o primeiro como superior ao segundo.
Hmmmm... reconheço estar bem observado o que disseste.
Isto posto, não concordo particularmente com duas passagens:
"E existe um critério objetivo para determinar quem é levado a sério: o número de citações."
Penso que tal ponto de vista não escapa ao círculo vicioso da subjetividade, pois se o parâmetro 'número de citações' é objetivo em si mesmo, torna-se subjetivo quando convertido em fundamento para um juízo de valor. Repara bem: Shakespeare, por exemplo, é muito mais citado que, digamos, Calderón de La Barca, ou mesmo que Dante Alighieri. Isto significa que o bardo inglês deve ser levado 'mais a sério' que Calderón ou Dante? Penso que não há como sustentar isso.
"A própria escolha de exemplo sua evidenciou a possibilidade de haver meios objetivos de comparar arte. Você poderia ter colocado Bach e Beethoven. Mas escolheu Bach e Tiririca, assumindo que seu leitor perceberia o primeiro como superior ao segundo."
Muito pelo contrário, amigo: se optei por um paralelo evidentemente 'absurdo' (Bach / Tiririca) foi justamente para demonstrar que, mesmo num contexto extremo, não há como estabelecer objetivamente a 'superioridade' do primeiro em relação ao segundo.
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