sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Jawohl, Tivol!




A sulfurosa garage hermétique do arquipélago do Sol Nascente é a matriz inconteste do que há de mais cauterizante em termos de full mode on mindmelting lysergic mindblowin’ avant cosmic rock’n’roll, certo? Hmmm... sim, pode-se dizer que sim... com efeito, não há muito como enfrentar a colossal fuzilaria dos obuses psicosônicos japoneses, o multidudinário arsenal de esmerilhação sonora dos AMT’s, High Rise’s, Mainliner’s e tutti quanti.

Não obstante, quiçá não seja de todo desarrazoado afirmar que, às plúmbeas margens do Báltico, sob a espectral refulgência do ‘Sol da meia-noite’ nas solitárias planícies de gelo, começa a emergir na Finlândia um cenário capaz de fazer frente à armada nipônica. Nomes como Pharoah Overlord, Avarus, Uton, Islaja, Es, Kiila, Dead Reptile Shrine, Anaksimandros e Kemialliset Ystavat indubitavelmente são capazes de conjurar os mais estratosféricos astrais do estraçalhamento psych, das opiáceas ondulações do acid drone folk à implacável devastação ultimate fuzz noise ear splitting destruction; e neste último mister, até agora ninguém logrou superar os páramos de brutalismo sonoro alcançados por um abstruso quarteto chamado Tivol.

Aparentemente na ativa desde 1995, a banda parece cultuar obsessivamente os arcanos da obscuridade: não possuem site próprio ou página no MySpace, e são identificados meramente por prenomes em seus álbuns (Askola, Ihanamäki, Kettunen e Nevalainen, sem maiores especificações ‘técnicas’). No último biênio, contudo, dois lançamentos internacionais brotaram das sombrias florestas finlandesas: Early Teeth (2005) e Interstellar Overbike (2006).

Compilado e remasterizado pela veneranda Holy Mountain a partir de dois CD-R’s (Cyclobean Ways e Breathtaking Sounds of Tivol) praticamente artesanais editados em 2002, Early Teeth é sem dúvida o que de melhor o Tivol produziu até agora, transfigurando, em grau máximo de desorientação hellraiser, a fusão entre desvario psych e hipnose kraut que os camaradas levam a efeito, algo como 'Mainliner meets Neu! in the unholy land of Cosmic Inferno', ou então Leif Eriksson, Loki, Volstagg e Surt, alucinados por doses elefantinas de hidromel, encenando o ragnarock psicodélico na espaçonave de Makoto Kawabata.

A banda abre os trabalhos em grande estilo com a sensacional Vihaan vitusti kaikkea mitä kulutusyhteiskunnan aikaansaama pinnallinen alkoholiin perustuva sosiaalinen käyttäytymiskulttuuri edustaa (melhor título de música 'EVÁÁÁÁÁÁÁÁ', PQP!!!), incontrolável maremoto magmático emergindo das espectrais cavernas do próprio Niflheim para entrar em combustão espontânea sob os titânicos golpes de um Mjolnir sônico. Há sobretudo que destacar os inacreditáveis vocais, que talvez possam ser vagamente descritos como um lancinante feixe de uivos agônicos eletronicamente distorcidos no limite da inextricabilidade sonora.

Prosseguimos então com Läskipäisyyden kultainen suihku, onde a banda tira o pé do acelerador para mergulhar num mefistofélico oceano de radiações eletromagnéticas, que se torna cada vez mais denso e claustrofóbico, até desaguar nas insondáveis profundezas de um abismo de microfonia terminal assombrado por imprecações banshee; a terceira faixa, Viha, kateus, katkeruus ja muut loistofiilikset, acena com um tênue reflexo de ‘normalidade’ hard psych em seu início, para logo dar ensejo, contudo, a uma tonitruante cavalgada elétrica dos blasfemos filhos de Muspell em direção ao derradeiro grimoire do alheamento transmental; Jawohl, Tivol!, por fim, traz a anarquia dos caras para uma galáxia garage punk envolta em espirais esquizóides de distorção purple haze.

Acautelai-vos, portanto, ó altaneiros samurais psych: a transpsicodélica frota viking está a caminho!!!





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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

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