sexta-feira, setembro 01, 2006

Searching for Soultrane

Alphonse van Worden - 1750 AD





The Olatunji Concert: The Last Live Recording sem sombra de dúvida integra, ao lado de Machine Gun (Peter Brötzmann) e Spiritual Unity (Albert Ayler), a trinca dos mais DEVASTADORES e GENIAIS discos de jazz que este vosso escriba já teve a oportunidade de conhecer até hoje. É decerto um registro mal gravado, com muitas oscilações de volume e até mesmo alguns drop outs na fita master; a meu ver, contudo, tal característica contribui decisivamente, por incrível que pareça, para a aura de inaudita e sobrenatural intensidade cósmica que emana do álbum, uma vez que o mergulho sem volta nos mais abscônditos báratros da Arcana Coelestia almejado por Coltrane não poderia ser traduzido, creio eu, por uma sonoridade harmônica, cristalina, mas tão somente pela própria materialização sonora do caos primordial dos páramos deíficos; destarte, me parece de sobejo razoável asseverar que se Coltrane alguma vez conseguiu transfigurar em termos estéticos sua a um só tempo extática e agônica demanda por transcendência espiritual, tal intento foi logrado com pleno e assustador êxito pelo Olatunji Concert, vero dérèglement absolu de tous les sens nos píncaros do SAGRADO.

Ogunde é a encarnação estética de um ritual de magia arcana no imo do mais recôndito heart of darkness africano: irracionalista, brutal, incontrolável, selvagem, obscura, um avassalador tornado de solos e ritmos veramente indescritíveis de tão intensos e arrebatadores; e a propósito de My Favorite Things.... bem, o que dizer de tamanho colosso....? A versão presente em Live in Japan (1966) pode ter 23 minutos a mais e, de certa maneira, ser até mais intrincada, mas em termos de puro desvario, de obliteração sônica in extremis de tudo aquilo que o senso comum classificaria como 'música', de blasfema conjuração de miríades de Supernovas explodindo nos vórtices mais remotos do espaço sideral, simplesmente empalidece diante de sua co-irmã de 1967: de facto, trata-se de algo tão inacreditável e estratosfericamente visceral, tão esmagador em sua vulcânica energia vital, que é capaz de mergulhar o ouvinte num estado de profunda desorientação mental, beirando mesmo a mais obnubilante ataraxia de todos os sentidos. O maelstron 'transjazzístico' tem início de forma aparentemente despretensiosa e contida, com um envolvente solo de baixo urdido pelo saudoso Jimmy Garrison; ao fim e ao cabo de quase 8 minutos de hipnose, faz-se anunciar, ameaçador, o primeiro uivo espectral do sax de Coltrane, e então hell breaks loose num dos mais walpúrgicos sabbaths supersônicos que já escutei. O que temos aqui não são meros músicos, mas sim ciclópicas deidades lovecraftianas, Coltrane convertido em Surtr; Sanders em Kali; Rashied Ali em Ahriman; e assim sucessivamente, todos de súbito convertidos em titânicos espíritos de aniquilação / recriação do kháos transmutado em kósmos e da cosmogonia desintegrada em inefável kháosmosis, trovejante polifonia de clarins descomunais vertendo catadupas de magma incandescente e AAAAAAAAAAAAHHHHH!!!!!!!!!...


2 comentários:

Anónimo disse...

meu favorito.
arthur

Alphonse van Worden disse...

Realmente um álbum ÚNICO.