sexta-feira, março 18, 2022

Um clássico contemporâneo


Estimados irmãos d'armas y confrades: 

Não é sem certa dose de risco que se revisita na maturidade um livro dedicado pelo menos em princípio ao público infantojuvenil; especialmente, vale dizer, quando se está a falar d’uma obra que ocupa uma posição central no panorama de sua memória afetiva literária, uma obra que foi lida e relida com fervor e veneração justamente naqueles anos onde tudo parece se revestir das cores mais fatais e pungentes. 

E felizmente a aposta foi recompensada c/ todos os juros possíveis e concebíveis: Die Unendliche Geschichte (Michael Ende, publicado originalmente em 1979 na Alemanha Federal) exerceu sobre o calejado Alfredo de 2022 o mesmíssimo impacto que teve para o ansioso rapazinho que outrora fui em 1985. Aliás, exceção feita a alguns exageros de índole moralizante / pedagógica (todavia plenamente compreensíveis no contexto da trama), eu diria inclusive que hoje se apresenta como uma leitura até mais surpreendente, comovente e arrebatadora.  Pois em verdade vos digo, conforme já frisara à partida: c/ efeito, A História Sem Fim é tão somente em tese um livro escrito para jovens, pelo menos em se tratando da juventude atual. Claro está que o autor  tinha em mente a mocidade alemã dos anos 70 como ‘tipo ideal’ weberiano, e aí talvez fosse possível conceber um público-alvo entre 13 / 18 anos capaz de digerir  (ou no mínimo de não se perder inexoravelmente) um livro que definitivamente está bem longe de ser óbvio ou singelo. 

S/ fornecer quaisquer detalhes sobre o enredo, estamos falando d’uma obra que em numerosas passagens lança mão d’uma dicção densamente alegórica e poética; que abarca múltiplas camadas de símbolos e significados, envolvendo tópicos filosóficos como o Mito da Caverna e o Paradoxo da Regressão Infinita, aspectos da semiótica, da psicanálise e da linguística, bem como uma vasta plêiade de questões de âmbito esotérico: a Jornada do Herói, a Thelema crowleyana, a Theosis, as diversas fases da operação alquímica, a Árvore Sephirotica e a Árvore Qliphotica etc. E tudo isso emoldurado por uma imaginação exuberante, transbordante, capaz de gerar uma profusão inesgotável de cenários, episódios e sobretudo personagens verdadeiramente extraordinários e rigorosamente inolvidáveis.   

Em suma: se és devoto de obras como The Lord of the Rings ou Chronicles of Narnia, diria eu que perigas encontrar um novo favorito para o panteão.


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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte / Deserto dos Tártaros 


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