Alphonse van Worden - 1750 AD
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Segue abaixo uma crônica que escrevi a propósito de meu venerável e mui estimado mestre Fernando Baptista Gonçalves, texto que se reveste de significado 'inda mais importante neste momento em que (oxalá!) inicio minha trajetória como escritor profissional.
No transcurso de solitário passeio pela Floresta da Tijuca há alguns meses, visitado fui de forma particularmente vívida pela deusa Mnemosine; e na confluência de sentimentos a um só tempo melancólicos e felizes, recordava algumas jornadas de minha infância e mocidade, quando gradativamente minhas reminiscências centraram-se na excepcional figura do professor Fernando Baptista Gonçalves, figura axial em minha trajetória no decorrer do ginásio e do secundário. Notável educador, figura humana de primeiríssima plana, modelo de conduta moral e intelectual, o velho 'Gonça', como carinhosamente era chamado por seus alunos, foi de sobejo o melhor professor que já tive em qualquer nível, magnífico tanto em termos acadêmicos quanto humanos. O amor que tenho à literatura e às artes devo em grande medida aos ensinamentos deste homem notável, que com imensa erudição e flamejante entusiasmo, logrou inculcar-me grande devoção ao que de melhor nossa civilização produziu. No que tange à sua personalidade, foi para mim um verdadeiro modelo de caráter, sempre justo e solidário, bem como, malgrado severo, dono de enorme sensibilidade.
Gonça tinha o admirável hábito de apresentar a seus alunos as obras-primas da música erudita, as quais executava por intermédio de uma vetusta e inesquecível eletrola vermelha. Lembro-me, pois, como se fosse hoje, d'uma determinada vez em que colocou para tocar a "Abertura 1812", de Tchaikovski. Podeis bem imaginar, é claro, como era árdua a tarefa de despertar o interesse de um bando de adolescentes irrequietos pelo rarefeito universo da música erudita, não é mesmo? Pois o saudoso prof. Gonçalves mesmerizou a turma com uma interpretação simplesmente memorável, digna de um ator da Comédie-Française em grande forma: não satisfeito em explicar o contexto artístico e histórico da composição, ele literalmente interpretou-a, ilustrando de modo vívido e contagiante o que cada passagem tencionava evocar. Num espetáculo formidável, inolvidável, saltava ele para lá e para cá, narrando e ilustrando os factos abordados pela peça: "eis o troar dos canhões do Marechal Murat nas colinas de Borodino!"; "agora a vanguarda de Kutuzov está perseguindo o que restou da Grande Arméé!". Ah grandíssimo mestre, lux sapientiae, primus inter pares!!!
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Segue abaixo uma crônica que escrevi a propósito de meu venerável e mui estimado mestre Fernando Baptista Gonçalves, texto que se reveste de significado 'inda mais importante neste momento em que (oxalá!) inicio minha trajetória como escritor profissional.
No transcurso de solitário passeio pela Floresta da Tijuca há alguns meses, visitado fui de forma particularmente vívida pela deusa Mnemosine; e na confluência de sentimentos a um só tempo melancólicos e felizes, recordava algumas jornadas de minha infância e mocidade, quando gradativamente minhas reminiscências centraram-se na excepcional figura do professor Fernando Baptista Gonçalves, figura axial em minha trajetória no decorrer do ginásio e do secundário. Notável educador, figura humana de primeiríssima plana, modelo de conduta moral e intelectual, o velho 'Gonça', como carinhosamente era chamado por seus alunos, foi de sobejo o melhor professor que já tive em qualquer nível, magnífico tanto em termos acadêmicos quanto humanos. O amor que tenho à literatura e às artes devo em grande medida aos ensinamentos deste homem notável, que com imensa erudição e flamejante entusiasmo, logrou inculcar-me grande devoção ao que de melhor nossa civilização produziu. No que tange à sua personalidade, foi para mim um verdadeiro modelo de caráter, sempre justo e solidário, bem como, malgrado severo, dono de enorme sensibilidade.
Gonça tinha o admirável hábito de apresentar a seus alunos as obras-primas da música erudita, as quais executava por intermédio de uma vetusta e inesquecível eletrola vermelha. Lembro-me, pois, como se fosse hoje, d'uma determinada vez em que colocou para tocar a "Abertura 1812", de Tchaikovski. Podeis bem imaginar, é claro, como era árdua a tarefa de despertar o interesse de um bando de adolescentes irrequietos pelo rarefeito universo da música erudita, não é mesmo? Pois o saudoso prof. Gonçalves mesmerizou a turma com uma interpretação simplesmente memorável, digna de um ator da Comédie-Française em grande forma: não satisfeito em explicar o contexto artístico e histórico da composição, ele literalmente interpretou-a, ilustrando de modo vívido e contagiante o que cada passagem tencionava evocar. Num espetáculo formidável, inolvidável, saltava ele para lá e para cá, narrando e ilustrando os factos abordados pela peça: "eis o troar dos canhões do Marechal Murat nas colinas de Borodino!"; "agora a vanguarda de Kutuzov está perseguindo o que restou da Grande Arméé!". Ah grandíssimo mestre, lux sapientiae, primus inter pares!!!
O mui querido Gonça
desafortunadamente não mais está entre nós já há muitos lustros, mas continuará sempre vivo no afeto
e na memória deste seu eternamente grato discípulo.
4 comentários:
Como estou me preparando para ingressar no sacerdócio da educação, foi muito proveitoso ver como um professor pode ser uma figura marcante, e duradoura, na vida de um ser humano.
Fico joliz em saber que o texto suscitou em ti tal efeito, caríssimo. Há que recuperar a nobreza do apostolado magisterial.
Querido Sr. Alphonsen van Worden,
Primeiramente gostaria de me identificar, sou neto do Professor Gonçalves, e tambem ex-aluno do Colegio Padre Antonio Vieira, estou lhe escrevendo com uma imensa alegria e orgulho, pois sua homenagem ao meu avo, significa muito para mim e para minha familia, sabemos o quanto ele dedicou a sua vida na arte de ensinar, disciplinas e principalmente valores e como ele transformou muitas vidas. Tenho certeza que a sua homenagem, foi sentida por ele, pois foi feita com amor. Muito obrigado pelas suas palavras.
Grande abraço, Frederico Ribeiro Gonçalves Rangel
Prezado Frederico,
Antes de mais nada gostaria outrossim de me identificar: chamo-me Alfredo Rubinato Rodrigues de Sousa. Alphonse van Worden e Giovanni Drogo são meus pseudônimos literários.
Com efeito, tua mensagem não poderia me deixar mais satisfeito. Há já muitos anos tenho vontade de entrar em contato com alguém da família do Prof. Gonçalves, e ora finalmente isto está a ocorrer. Fico gratíssimo e extremamente envaidecido com a aprovação da família, por terdes apreciado meu modesto tributo, de facto pejado de emoção e gratidão. O nosso mui querido 'Gonça' efetivamente teve um papel fundamental em minha formação intelectual e moral, algo cuja magnitude fica até difícil de exprimir em palavras.
Muito obrigado pela atenção e carinho dispensados, com um fraterno abraço,
Alfredo RR de Sousa
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