* O presente artigo foi escrito a propósito da final do Campeonato Carioca de 2009, em partida ocorrida a 3 de maio; não obstante, como o ethos primordial do Glorioso jamais mudará, penso que não há problema em publicá-lo por aqui já há algum tempo após o sucedido.
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Hmmmm...
Senão vejamos: Flamengo 2 x 0 no primeiro tempo, com plena justiça, registre-se; voltamos para a etapa final e, logo no minuto inicial, o Botafogo tem uma penalidade máxima à sua disposição, naturalmente desperdiçada, ça va sans dire...; não obstante, é óbvio que a coisa não seria assim tão simples: com dois tentos em seqüência, aos 16 e 18 minutos, empatamos o prélio. Escusado sublinhar que, caso estivéssemos a falar dum scratch 'normal', na verdade já deveríamos estar em vantagem, com 3 x 2 no score.
Muito bem: logo por ocasião do empate, dois cenários de imediato delinearam-se em minha mente:
a) 'levaremos o terceiro gol aos 48, 49 minutos do segundo tempo, por ocasião d'um tiro de canto, onde a bola, após uma despretensiosa rebatida do adversário, ricocheteará numa das traves; depois nas costas de nosso arqueiro; e, por fim, rolará suave, graciosa e caprichosamente para o fundo da meta';
b) 'caso a hipótese a) não se concretize, decerto perderemos a disputa de tiros livres da marca do penalty, de preferência consagrando o guarda-redes inimigo.'
E foi precisamente o que ocorreu, é claro.
Isto posto, excelsos irmãos d'armas, em verdade vos digo:
Estou plenamente convicto de que o Botafogo de Futebol e Regatas não é, na verdade, um clube de futebol; trata-se tão somente d'uma fachada, à guisa de encobrir a vera natureza da instituição: uma ordem hermética, uma sociedade arcana e secreta, cujo talante é exercitar os aspectos mais fatalistas e sombrios da índole dos kshatriya, a casta dos GUERREIROS na tradição védica.
O kshatriya é um homem para quem a guerra assume os contornos d'um veículo de realização espiritual; uma esfera que vai muito além das causas e circunstâncias que condicionam cada conflagração em particular, estabelecendo-se, pois, como dimensão cósmica, que se projeta na ETERNIDADE, sem preocupar-se com o fluxo errático e transitório do TEMPO.
Enfim, tal é o cruel, malgrado egrégio, fado da Estrela Solitária, como admiravelmente o sintetiza Gabriele d'Annunzio (ou se calhar Mussolini, há controvérsias):
O resultado da batalha tem, para nós, pouca importância. Para nós, o combate tem a sua recompensa em si mesmo, ainda que não seja coroado pela vitória ... Enquanto isso, navegar é preciso. Mesmo contra a maré. Mesmo contra o rebanho. Mesmo que o naufrágio espere os solitários e orgulhosos emissários de nossa heresia.
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Ten. Giovanni Drogo
Forte Bastiani
Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros
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