quarta-feira, dezembro 23, 2009

Se me permitis, insignes leitores, um sincero desabafo em tom turpiloqüente...




FODA-SE a Conferência de Copenhagen!

FODA-SE a consciência ecológica!

FODA-SE a preservação ambiental!

FODA-SE o desenvolvimento sustentável!

FODAM-SE os produtos ecologicamente 'corretos'!

FODAM-SE o Greenpeace, a PETA e todas essas malditas ONG's!

FODA-SE a Humanidade, espécie inelutavelmente fracassada e credora de toda danação!

FODA-SE, por fim, este planeta hediondo, que já deveria ter acabado há muito tempo!



Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

terça-feira, dezembro 01, 2009

Breve nota a propósito de Ernst Jünger

Alphonse van Worden - 1750 AD






Ao lado de autores como Carl Schmitt, Julius Evola e Georges Sorel, assoma também a figura do militar, pensador e escritor alemão Ernst Jünger (1895 - 1998) como um dos elementos centrais tanto na superação definitiva d’uma cosmovisão ideológica que hodiernamente já não faz mais qualquer sentido – isto é, a clássica dicotomia entre ‘esquerda’ / ‘direita’; quanto, sobretudo, na formatação filosófica e política d’uma nova síntese dinâmica entre, de um lado, os valores da Tradição (honra, senso de dever, disciplina, abnegação, coragem e ascetismo) e, de outro, a constelação de perspectivas ideológicas, à ‘esquerda’ e à ‘direita’, cujo eixo de gravidade se estabelece a partir da rejeição radical do Liberalismo e do Capitalismo.

Homem cujo pensamento não pode ser enquadrado em categorias estanques (consoante bem assinala Otto Maria Carpeaux, a ideologia jüngeriana poderia ser descrita como um amálgama de “nacionalismo e cosmopolitismo estético, heroísmo e tecnocracia, violência física e nobreza d’alma, aristocratismo e neobarbarismo.”); testemunha privilegiada da vertiginosa miríade de transformações ocorridas durante sua longeva existência; bem como autor criativo, ousado e polêmico, cujo legado multifário assume um escopo veramente ‘renascentista’ (com tomos abrangendo temas que vão de reflexões sobre a sociedade industrial à entomologia), não pretendemos traçar aqui um panorama abrangente do opus jüngeriano; tratar-se-ia, ademais, de empreitada para a qual ‘inda não estamos devidamente preparados, mas que, sem dúvida, tencionamos levar a cabo no futuro. Destarte, tão somente teceremos algumas considerações preliminares a propósito de uma das claves axiais do pensamento de Jünger: o extraordinário descortino que revelou ao perceber, já nos primeiros decênios do século XX, que a verdadeira subversão da ordem instaurada pelo Iluminismo tão somente poderia ser lograda pela convergência entre revolta romântica como fundamento espiritual, por um lado; e as conquistas tecnológicas da Modernidade como instrumento de ação, por outro.

Assim sendo, o escritor alemão advoga, a um só tempo, teses aparentemente ‘antitéticas’, tais como o primado d’uma ‘Aristocracia do Espírito’, que floresceria, em sua potência máxima de realização, encarnada nos arquétipos do Guerreiro, do Pensador e do Poeta; e a premente necessidade, de maneira a proteger a nação de qualquer ameaça externa, de um Estado de ‘Mobilização Total’ (Die Totale Mobilmachung - 1930) da sociedade industrial em prol de um esforço de guerra permanente.

A esse respeito, destaca-se, como emblemático exemplo inicial de sua capacidade de trabalhar a partir de diferentes linhas de fuga, na obra de Jünger o extraordinário In Stahlgewittern (Tempestades de Aço - primeira edição em 1920 / edição definitiva em 1961). O supracitado volume constitui tanto um relato de vigoroso e implacável realismo (e, ao mesmo tempo, pejado de êxtase delirante) sobre suas experiências como tenente do exército alemão na I Guerra Mundial, quanto um dionisíaco ensaio sobre a guerra como veículo de sublimação ascética e realização espiritual.

Jünger encara a experiência bélica, portanto, como derradeira oportunidade para o homem contemporâneo, ser avesso ao substrato mítico e religioso que lastreia seus alicerces históricos e culturais, livrar-se do pragmatismo medíocre e conformista, para então alçar-se à olímpica esfera das virtudes de um legítimo Kshatrya (o arquétipo védico do Guerreiro), para quem o combate tem sua recompensa em si mesmo, ainda que não seja coroado pela vitória; ou, em outras palavras: um homem para quem a guerra é uma esfera que vai muito além das causas e circunstâncias que condicionam cada conflagração em particular, estabelecendo-se, ao contrário, como dimensão cósmica que se projeta na ETERNIDADE, onde os autênticos kshatriya não podem ser derrotados pelos escravos do 'Reino da Quantidade' (Guenón), das sombras voláteis e fugidias do ‘Agora’, submetidos ao fluxo errático e transitório do TEMPO.

Para Jünger, portanto, mesmo que a vertiginosa evolução tecnológica da arte da guerra na modernidade acabe, ao fim e ao cabo, por minimizar a iniciativa individual do guerreiro, sua glória o projeta nos páramos da Eternidade. O mesmo acervo de idéias seria retomado mais tarde, vale dizer, n’outro texto do autor, o flamejante e exaltado ensaio Der Kampf Als Inneres Erlebnis (A Guerra como experiência interior - 1922), onde Jünger, à luz do Bhagavad Gita, reafirma sua concepção da guerra como transfiguração coletiva do conflito primordial entre o BEM e o MAL, dimensões presentes no espírito de cada ser humano e que, no âmbito em pauta, atingem seu mais elevado grau de depuração.






Frolic Froth: vertigens alucinógenas de 'Tarahumaras sônicos'




Ontem este vosso escriba estava a escutar o álbum Snailking , titânica obra-prima de psyched out heavy stoner space rock urdida pelos mestres piemonteses do Ufomammut, quando comecei a divagar sobre possíveis conexões estilísticas que poderiam ser estabelecidas fora d'um universo de referência mais óbvio (Electric Wizard, Yob, Neurosis, Kyuss).

Primeiramente vieram-me à mente os norte-americanos do Subarachnoid Space, e depois os suecos do Spacious Mind; não obstante, logo descartei tais hipóteses, pois ao grupo norte-americano falta o peso cataclísmico que caracteriza o Ufomammut e, aos suecos, a atmosfera de estupefaciente paranóia. Eis então que, de súbito, me ocorreu à mente a formação mexicana Frolic Froth, e ao revisitar seu disco de estréia, Eponymous (1996), confirmou-se minha intuição: se Ufomammut é 'Electric Wizard on acid meets a martian Neurosis in the 'no man's land' of sonic neverness' , Frolic Froth é a variante psych avant kraut de tal cópula bestial, estraçalhando cérebros desavisados com catadupas de lisergia guitarrística e avalanches de magma percussivo.

Por mais que a globalização tenha nos habituado a estes curiosos fenômenos de transposição de formas culturais exógenas para contextos tradicionalmente insuspeitos, confesso-vos que ainda me causa espécie constatar a existência de uma banda como o Frolic Froth: Raios partam, como é possível o México parir um petardo tão avassalador e transtornado de psychedelic avant metal como Eponymous?! Mas o facto é que o disco existe, e que tranquilamente se qualifica como um dos melhores do gênero já feitos na América Latina, se não for O melhor.

U.F.O.L.O.G.Y., faixa de abertura, é a pièce de résistance do álbum, um inolvidável maremoto de 22 minutos em sonic evisceration full mode ON, desde a espectral ambiência de sua introdução, à moda de um Black Sabbath from outer space, até a estupefaciente aterrissagem final em compasso de lisergia kraut, com imponentes sobretons de Guru Guru goes cosmic doom (sobretudo em se tratando das estupendas tramas de guitarra elétrica urdidas por Jorge Beltran), efeitos eletrônicos alucinógenos e tonitruantes explosões rítmicas.

Malgrado não sejam tão arrebatadoras, as duas faixas complementares não deixam a peteca cair: Loop Us soa como um implausível (mas fascinante) híbrido entre a obsessiva geometria sonora do math rock, assimetrias R.I.O , samples de violinos e o peso obnubilado do stoner doom; a hipnótica Moonmole, por fim, de fatura mais atmosférica e rarefeita, encerra o álbum numa nota de índole contemplativa, mas nem por isso menos poderosa.

Enfim, confrades: um excelente disco no âmbito da sempre estimulante fusão entre as fronteiras mais extremas da psicodelia e do metal, e que deixa no ar uma pergunta que não quer calar: por que cargas d'água não vemos bandas brasileiras desenvolvendo um trabalho da mesma qualidade e ousadia?



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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros