Alphonse van Worden - 1750 AD
Ao longo das últimas duas décadas, a violência, em toda a sua perversa multiplicidade de formas e modalidades, se tornou um elemento estrutural da sociedade brasileira, uma patologia renitente que não se limita a surtos episódicos, mas se converte mais e mais numa tétrica aberração, algo como uma feroz endemia que se perpetua em estado de permanente epidemia. Latente ou manifesta, a violência grassa no Brasil contemporâneo sem fronteiras ou limites de ação, contaminando a totalidade do organismo social.
Todavia, causa-me profunda consternação verificar, seja nos meios acadêmicos ou jornalísticos, o reducionismo, a tacanha estreiteza conceitual, a superficialidade assombrosa que caracterizam as reflexões de nossos ‘intelectuais’ sobre um fenômeno tão multifacetado e complexo como o da violência. Em sua esmagadora maioria, tais análises se limitam a definir a violência como uma espécie de ‘corolário lógico’ do problema socioeconômico. Em outras palavras: a violência seria tão somente uma decorrência necessária da pobreza. “Somos violentos porque somos pobres e desiguais”, parecem proclamar nossos ‘teóricos’ da violência o tempo todo! Parece-me evidente o caráter primário, limitado e mesmo falacioso de semelhante abordagem. Vejamos como essa fraude pode ser demonstrada a partir de um simples exemplo: partindo-se de uma hipotética veracidade do ponto de vista acima esboçado, como poderíamos explicar a existência de países com problemas socioeconômicos mais graves que os do Brasil, e que no entanto apresentam índices de violência muito menores? E, por outro lado, como compreender a ocorrência de escabrosos índices de violência em países muito mais desenvolvidos que o nosso? Não pretendo aqui, claro está, dizer que os problemas socioeconômicos não estão envolvidos na gênese da violência; mas tampouco posso admitir a redução de um fenômeno multidimensional a uma causa unilateral.
É de facto uma tarefa árdua, ainda que de saída descartemos os reducionismos e simplificações mal-intencionadas, estabelecer o intrincado conjunto de causas que se conjugam na gestação da violência. Gostaria de tecer aqui, contudo, algumas considerações sobre este tema fundamental, ainda que certamente me faltem sabedoria e capacidade para tanto.
A meu juízo, o fenômeno primordial que se encontra na raiz, na origem, no âmago constitutivo de todas as formas de violência é o que chamo de ‘MISÉRIA’. E em que consiste esta instância que aqui denomino como ‘Miséria’? Salientarei inicialmente um detalhe que me parece óbvio, mas que não o é para muita gente: trata-se de algo que de modo algum está restrito ao plano socioeconômico. O que entendo por ‘Miséria’ é, na verdade, um fenômeno que se divide em quatro manifestações fundamentais: a ‘miséria socioeconômica’, a ‘miséria cultural’, a ‘miséria moral’ e a ‘miséria espiritual’. A primeira delas é a manifestação mais evidente e superficial do fenômeno; a última, a mais sutil e profunda. Uma sociedade violenta é, portanto, uma estrutura que está contaminada pelas 4 manifestações da ‘miséria’.
Verifiquemos agora alguns aspectos dos elementos que acabei de apresentar. A meu ver, as 4 facetas da ‘miséria’ são, de certo modo, igualmente graves e preocupantes. No entanto, é mister ressaltar uma distinção de caráter crucial existente entre elas. As duas primeiras manifestações da ‘miséria’, a ‘socioeconômica’ e a ‘cultural’, podem ser identificadas e caracterizadas de um modo relativamente simples; as demais formas, a ‘moral’ e a ‘espiritual’, já não podem ser diagnosticadas com a mesma facilidade. A ‘miséria socioeconômica’, sendo um problema objetivo, tangível, pode ser mitigada através de medidas e procedimentos de cunho político e administrativo. A ‘miséria cultural’, ainda que apresente um maior grau de complexidade, é também um problema que está no âmbito da razão prática, da ação política humana. Mas com o advento da ‘miséria moral’, já estamos nas trevas de um terrível abismo, uma região abissal que não mais pode ser iluminada pela mera ação institucional do Estado ou dos demais agentes sociais. Se no espectro da ‘miséria socioeconômica’ temos a carência material, e com a ‘miséria cultural’ enfrentamos a carência de informação, a ‘miséria moral’ traz à tona um espectro ainda mais sombrio: a carência de ‘valores’. Como pode um homem viver em harmonia sem um acervo de valores morais solidamente adquiridos e consolidados? E como pode uma sociedade erigir-se sobre alicerces ‘humanos’ destituídos de valores?
Tendo atravessado as 3 primeiras etapas de nosso percurso, desembarquemos neste momento no último círculo do Inferno: a ‘miséria espiritual’. A ‘miséria espiritual’ se configura como o estágio final de degradação, o fruto maldito dos mais depravados e abjetos miasmas da ‘miséria moral’. O indivíduo que é dominado pela ‘miséria espiritual’ se transforma num orco cinéreo onde nada mais pode vicejar, vagando sem rumo pelos desertos da ‘terra devastada’, “(...) What is that sound high in the air, Murmur of maternal lamentation, hooded hordes swarming Over endless plains, stumbling in cracked earth Ringed by the flat horizon only...”, tal como descreve T.S. Eliot, em admirável passagem de sua obra-prima The Waste Land. O ‘miserável espiritual’ não está apenas carente de valores morais; a própria capacidade de adquirir e mensurar valores morais, inerente à condição humana, foi nele destruída de forma irremediável. A ‘miséria moral’, a despeito de sua gravidade, ainda pode ser revertida, no quadro de uma ampla revisão dos valores morais sobre os quais desejamos cimentar nossa sociedade; já no tocante ao câncer que é a ‘miséria espiritual’, acredito que o máximo que podemos fazer é lutar, com todas as forças à disposição de nossos corações e mentes, para que sua metástase corrosiva não se alastre ainda mais por nosso já debilitado organismo social.
Voltando a falar das manifestações epidérmicas da ‘miséria’, é necessário salientar que a miséria ‘sócio-econômica’, além de ser, em comparação à suas ‘irmãs’, a manifestação mais passível de identificação e caracterização, é também aquela que pode ser encontrada com mais facilidade: aloja-se nos setores da população sem acesso a padrões dignos de saúde, habitação, alimentação e educação. No que tange à ‘miséria cultural’, a questão já se torna um pouco mais complicada. Acredito ser patente a constatação de que a ‘miséria cultural’ está presente, na maioria das vezes, no mesmo contingente que é afetado pela ‘miséria sócio-econômica’. E quando, entrementes, nos deparamos com formas mais sofisticadas, discretas e sorrateiras de ‘miséria cultural’? Como diagnosticar estas emanações insidiosas que silenciosamente aluem as orgulhosas e fúteis ‘certezas’ de uma parcela significativa de nossa pretensa ‘elite’ intelectual? Esta ‘miséria cultural’ versão ‘luxo’ parece atingir de forma mais contundente, diga-se de passagem, precisamente os setores que mais se arrogam o papel de ‘salvadores da pátria’, posição que jamais se lhes atribuiu e que sequer possuem condições de ocupar, mas que usurpam e defendem com uma arrogância inaudita!
Mas se ainda podemos, com alguma segurança, mapear os itinerários e movimentos das ‘misérias’ sócio-econômica e cultural, o que fazer diante das ‘misérias’ moral e espiritual? Onde estas bestas imundas se refugiam, de que sórdidos expedientes e sortilégios se servem para melhor se disfarçarem? É com melancólica ironia que enuncio o seguinte paradoxo: sendo dentre as quatro manifestações mencionadas as de mais árdua determinação e localização, as ‘misérias’ moral e espiritual são, contudo, de sobejo as mais ‘democráticas’, espalhando-se sem preconceitos de qualquer espécie por todos os setores da sociedade. É decerto civilizado e de ‘bom tom’ demonstrar indignação quando as ‘misérias’ moral e espiritual são encontradas nas classes menos favorecidas. Mas e quando se ocultam no imo, no ‘heart of darkness’ dos mais abastados, dos privilegiados? Sendo mais preciso e enfático: e quando as formas mais putrefactas de ‘miséria espiritual’ se aninham na alma dos intelectuais, dos pensadores, dos sacerdotes, dos artistas, daqueles que deveriam ser as ‘antenas da raça’, e não seus traiçoeiros Baalberiths, que deveriam engendrar sabedoria, bondade e beleza, mas que incubam em seu ventre bestial os mais estarrecedores ‘ovos da serpente’? A despeito do sem número de dificuldades que tal processo encerra, é preciso hoje, mais do que nunca, denunciar os falsos profetas, desmistificar suas patranhas e hipócritas ‘tendas dos milagres’, desvelar, enfim, o “Mal que há por trás da Máscara”, na flamejante imagem que Herman Melville colocou nos lábios de seu Capitão Ahab.
Tendo enumerado os 4 aspectos que constituem o fenômeno em questão, quero reiterar que a violência não se produz com a presença de apenas um ou outro de seus componentes, ou mesmo com a mera justaposição de todos eles, mas somente a partir do entrelaçamento dinâmico de suas quatro causas. Se pretendemos mudar alguma coisa, o primeiro passo é pararmos de mentir para nós mesmos: a violência nunca foi, não é nem tampouco jamais será tão somente um epifenômeno acidental da pobreza, mas foi, é e sempre será a conjunção dialética das ‘misérias’ sócio-econômica, cultural, moral e espiritual.
À guisa de conclusão a esta breve exposição, ó diletos confrades, lanço aqui uma advertência, porventura ingênua, evidente para os que simplesmente olham com olhos de ver, mas invisível para os que buscam abrigo nos devaneios da ilusão ou nos torpes labirintos da mentira: as quatro manifestações da ‘Miséria’ que acima descrevi, estas quatro aterradoras ‘amazonas do Apocalipse’ secular e sua trajetória de ódio e desolação, estão presentes de forma avassaladora no Brasil contemporâneo, bem como em todas as sociedades onde a violência sem limites instala seu primado. E aqueles que possuem o dom, transfigurado em sagrada missão, de celebrar a Cerimônia Solar da Verdade e do Bem, não podem jamais se transformar em macabros oficiantes da Missa Negra da Mentira e Perversidade!
Ao longo das últimas duas décadas, a violência, em toda a sua perversa multiplicidade de formas e modalidades, se tornou um elemento estrutural da sociedade brasileira, uma patologia renitente que não se limita a surtos episódicos, mas se converte mais e mais numa tétrica aberração, algo como uma feroz endemia que se perpetua em estado de permanente epidemia. Latente ou manifesta, a violência grassa no Brasil contemporâneo sem fronteiras ou limites de ação, contaminando a totalidade do organismo social.
Todavia, causa-me profunda consternação verificar, seja nos meios acadêmicos ou jornalísticos, o reducionismo, a tacanha estreiteza conceitual, a superficialidade assombrosa que caracterizam as reflexões de nossos ‘intelectuais’ sobre um fenômeno tão multifacetado e complexo como o da violência. Em sua esmagadora maioria, tais análises se limitam a definir a violência como uma espécie de ‘corolário lógico’ do problema socioeconômico. Em outras palavras: a violência seria tão somente uma decorrência necessária da pobreza. “Somos violentos porque somos pobres e desiguais”, parecem proclamar nossos ‘teóricos’ da violência o tempo todo! Parece-me evidente o caráter primário, limitado e mesmo falacioso de semelhante abordagem. Vejamos como essa fraude pode ser demonstrada a partir de um simples exemplo: partindo-se de uma hipotética veracidade do ponto de vista acima esboçado, como poderíamos explicar a existência de países com problemas socioeconômicos mais graves que os do Brasil, e que no entanto apresentam índices de violência muito menores? E, por outro lado, como compreender a ocorrência de escabrosos índices de violência em países muito mais desenvolvidos que o nosso? Não pretendo aqui, claro está, dizer que os problemas socioeconômicos não estão envolvidos na gênese da violência; mas tampouco posso admitir a redução de um fenômeno multidimensional a uma causa unilateral.
É de facto uma tarefa árdua, ainda que de saída descartemos os reducionismos e simplificações mal-intencionadas, estabelecer o intrincado conjunto de causas que se conjugam na gestação da violência. Gostaria de tecer aqui, contudo, algumas considerações sobre este tema fundamental, ainda que certamente me faltem sabedoria e capacidade para tanto.
A meu juízo, o fenômeno primordial que se encontra na raiz, na origem, no âmago constitutivo de todas as formas de violência é o que chamo de ‘MISÉRIA’. E em que consiste esta instância que aqui denomino como ‘Miséria’? Salientarei inicialmente um detalhe que me parece óbvio, mas que não o é para muita gente: trata-se de algo que de modo algum está restrito ao plano socioeconômico. O que entendo por ‘Miséria’ é, na verdade, um fenômeno que se divide em quatro manifestações fundamentais: a ‘miséria socioeconômica’, a ‘miséria cultural’, a ‘miséria moral’ e a ‘miséria espiritual’. A primeira delas é a manifestação mais evidente e superficial do fenômeno; a última, a mais sutil e profunda. Uma sociedade violenta é, portanto, uma estrutura que está contaminada pelas 4 manifestações da ‘miséria’.
Verifiquemos agora alguns aspectos dos elementos que acabei de apresentar. A meu ver, as 4 facetas da ‘miséria’ são, de certo modo, igualmente graves e preocupantes. No entanto, é mister ressaltar uma distinção de caráter crucial existente entre elas. As duas primeiras manifestações da ‘miséria’, a ‘socioeconômica’ e a ‘cultural’, podem ser identificadas e caracterizadas de um modo relativamente simples; as demais formas, a ‘moral’ e a ‘espiritual’, já não podem ser diagnosticadas com a mesma facilidade. A ‘miséria socioeconômica’, sendo um problema objetivo, tangível, pode ser mitigada através de medidas e procedimentos de cunho político e administrativo. A ‘miséria cultural’, ainda que apresente um maior grau de complexidade, é também um problema que está no âmbito da razão prática, da ação política humana. Mas com o advento da ‘miséria moral’, já estamos nas trevas de um terrível abismo, uma região abissal que não mais pode ser iluminada pela mera ação institucional do Estado ou dos demais agentes sociais. Se no espectro da ‘miséria socioeconômica’ temos a carência material, e com a ‘miséria cultural’ enfrentamos a carência de informação, a ‘miséria moral’ traz à tona um espectro ainda mais sombrio: a carência de ‘valores’. Como pode um homem viver em harmonia sem um acervo de valores morais solidamente adquiridos e consolidados? E como pode uma sociedade erigir-se sobre alicerces ‘humanos’ destituídos de valores?
Tendo atravessado as 3 primeiras etapas de nosso percurso, desembarquemos neste momento no último círculo do Inferno: a ‘miséria espiritual’. A ‘miséria espiritual’ se configura como o estágio final de degradação, o fruto maldito dos mais depravados e abjetos miasmas da ‘miséria moral’. O indivíduo que é dominado pela ‘miséria espiritual’ se transforma num orco cinéreo onde nada mais pode vicejar, vagando sem rumo pelos desertos da ‘terra devastada’, “(...) What is that sound high in the air, Murmur of maternal lamentation, hooded hordes swarming Over endless plains, stumbling in cracked earth Ringed by the flat horizon only...”, tal como descreve T.S. Eliot, em admirável passagem de sua obra-prima The Waste Land. O ‘miserável espiritual’ não está apenas carente de valores morais; a própria capacidade de adquirir e mensurar valores morais, inerente à condição humana, foi nele destruída de forma irremediável. A ‘miséria moral’, a despeito de sua gravidade, ainda pode ser revertida, no quadro de uma ampla revisão dos valores morais sobre os quais desejamos cimentar nossa sociedade; já no tocante ao câncer que é a ‘miséria espiritual’, acredito que o máximo que podemos fazer é lutar, com todas as forças à disposição de nossos corações e mentes, para que sua metástase corrosiva não se alastre ainda mais por nosso já debilitado organismo social.
Voltando a falar das manifestações epidérmicas da ‘miséria’, é necessário salientar que a miséria ‘sócio-econômica’, além de ser, em comparação à suas ‘irmãs’, a manifestação mais passível de identificação e caracterização, é também aquela que pode ser encontrada com mais facilidade: aloja-se nos setores da população sem acesso a padrões dignos de saúde, habitação, alimentação e educação. No que tange à ‘miséria cultural’, a questão já se torna um pouco mais complicada. Acredito ser patente a constatação de que a ‘miséria cultural’ está presente, na maioria das vezes, no mesmo contingente que é afetado pela ‘miséria sócio-econômica’. E quando, entrementes, nos deparamos com formas mais sofisticadas, discretas e sorrateiras de ‘miséria cultural’? Como diagnosticar estas emanações insidiosas que silenciosamente aluem as orgulhosas e fúteis ‘certezas’ de uma parcela significativa de nossa pretensa ‘elite’ intelectual? Esta ‘miséria cultural’ versão ‘luxo’ parece atingir de forma mais contundente, diga-se de passagem, precisamente os setores que mais se arrogam o papel de ‘salvadores da pátria’, posição que jamais se lhes atribuiu e que sequer possuem condições de ocupar, mas que usurpam e defendem com uma arrogância inaudita!
Mas se ainda podemos, com alguma segurança, mapear os itinerários e movimentos das ‘misérias’ sócio-econômica e cultural, o que fazer diante das ‘misérias’ moral e espiritual? Onde estas bestas imundas se refugiam, de que sórdidos expedientes e sortilégios se servem para melhor se disfarçarem? É com melancólica ironia que enuncio o seguinte paradoxo: sendo dentre as quatro manifestações mencionadas as de mais árdua determinação e localização, as ‘misérias’ moral e espiritual são, contudo, de sobejo as mais ‘democráticas’, espalhando-se sem preconceitos de qualquer espécie por todos os setores da sociedade. É decerto civilizado e de ‘bom tom’ demonstrar indignação quando as ‘misérias’ moral e espiritual são encontradas nas classes menos favorecidas. Mas e quando se ocultam no imo, no ‘heart of darkness’ dos mais abastados, dos privilegiados? Sendo mais preciso e enfático: e quando as formas mais putrefactas de ‘miséria espiritual’ se aninham na alma dos intelectuais, dos pensadores, dos sacerdotes, dos artistas, daqueles que deveriam ser as ‘antenas da raça’, e não seus traiçoeiros Baalberiths, que deveriam engendrar sabedoria, bondade e beleza, mas que incubam em seu ventre bestial os mais estarrecedores ‘ovos da serpente’? A despeito do sem número de dificuldades que tal processo encerra, é preciso hoje, mais do que nunca, denunciar os falsos profetas, desmistificar suas patranhas e hipócritas ‘tendas dos milagres’, desvelar, enfim, o “Mal que há por trás da Máscara”, na flamejante imagem que Herman Melville colocou nos lábios de seu Capitão Ahab.
Tendo enumerado os 4 aspectos que constituem o fenômeno em questão, quero reiterar que a violência não se produz com a presença de apenas um ou outro de seus componentes, ou mesmo com a mera justaposição de todos eles, mas somente a partir do entrelaçamento dinâmico de suas quatro causas. Se pretendemos mudar alguma coisa, o primeiro passo é pararmos de mentir para nós mesmos: a violência nunca foi, não é nem tampouco jamais será tão somente um epifenômeno acidental da pobreza, mas foi, é e sempre será a conjunção dialética das ‘misérias’ sócio-econômica, cultural, moral e espiritual.
À guisa de conclusão a esta breve exposição, ó diletos confrades, lanço aqui uma advertência, porventura ingênua, evidente para os que simplesmente olham com olhos de ver, mas invisível para os que buscam abrigo nos devaneios da ilusão ou nos torpes labirintos da mentira: as quatro manifestações da ‘Miséria’ que acima descrevi, estas quatro aterradoras ‘amazonas do Apocalipse’ secular e sua trajetória de ódio e desolação, estão presentes de forma avassaladora no Brasil contemporâneo, bem como em todas as sociedades onde a violência sem limites instala seu primado. E aqueles que possuem o dom, transfigurado em sagrada missão, de celebrar a Cerimônia Solar da Verdade e do Bem, não podem jamais se transformar em macabros oficiantes da Missa Negra da Mentira e Perversidade!
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