quarta-feira, agosto 01, 2007

Rock ON, Stone IN, Freak OUT!!!




Confusão, exagero e indulgência.Tais seriam, não seria desarrazoado supor, os aspectos mais evidentes num primeiro contato com as walpúrgicas emanações de maximum overdrive ultimate carnage fuzz noise destruction da psicodelia hellraiser nipônica; e malgrado as propriedades supracitadas decerto façam parte da garage hermétique das Ilhas do Sol Nascente, um olhar mais atento poderá desvelar duas características deveras insuspeitas a princípio, mas igualmente importantes nesta brutal alquimia: 1) uma obsessiva demanda pela pureza formal, depurando radicalmente o rock'n'roll de seus elementos circunstanciais e/ou contingentes, no intuito de atingir seu âmago mais primevo e catártico; 2) o ostinato rigore (Da Vinci / Poe / Valéry) com que tal intento é perseguido.

A estréia do Mainliner, imaculado power trio da maçonaria psicossônica japonesa, inner sanctum supino da descerebração elétrica nos confins do cosmic inferno, urdido por  Asahito Nanjo (High Rise), Makoto Kawabata (AMT) e Shimura Koji, é porventura o álbum onde os excelsos desígnios acima esboçados logram atingir sua mais consumada realização estética. Mellow Out é, portanto, o mais blasfemo grimoire, o luciferino Graal de toda uma insigne linhagem, iniciada pelos míticos Hadaka no Rallizes, e dedicada às lides da obliteração sônica via muralhas rutilantes de ruído terminal e maremotos percussivos. Há também que louvar a determinação e coragem necessárias à criação de uma obra como essa, cuja espartana, monocromática unidimensionalidade, não permite o recurso a quaisquer expedientes diversionários de aliciamento, tal como sói ocorrer mesmo com os mais temerários argonautas do delírio übber-rockist: o que temos aqui, sem disfarces, adornos ou estratégias de sedução, é toda a selvageria primordial do rock'n'roll, desde o primeiro uivo lancinante de shoutin' blues a trovejar nos algodoais do deep south, concentrada / sublimada em inolvidáveis 35 minutos de êxtase psych.

Cockamamie, breve descarga de desvario protopunk à la Stooges, é sem dúvida um belo cartão de visita, mas funciona apenas como prelúdio aos inclementes exercícios de devastação psicodélica in extremis que completam o álbum.

Black Sky é, a meu ver, a mais irretocável demonstração do genial modus operandi da banda: a pulsação hipnótica instaurada por Nanjo (baixo elétrico) e Hajime Koizumi (bateria) proporciona ao ouvinte uma conveniente ilusão de continuidade rítmica, enquanto Kawabata (guitarra elétrica) paulatinamente vai conjurando suas brumas de feedback púrpura... e então, de súbito, tudo se desmancha numa inaudita tempestade de white noise sulfuroso, avalanche abstrata de ruído desenhando espirais de caos eletromagnético; o pulso rítmico adrede erigido então retorna, mas o ouvinte já não mais consegue se sentir 'amparado'... e com toda razão, diga-se de passagem, uma vez que os minutos finais da peça irão precipitá-lo, sem dó nem piedade, no vero báratro tonitruante de uma supernova de esmerilhação guitarrística em search & destroy full hate mode ON.

M, por seu turno, é Albert Ayler meets High Rise in the land of sonic evisceration. Assim sendo, muito embora a estrutura forjada por Black Sky seja mantida, temos o trio num registro mais jammin', com a bateria de Koizumi abrindo os trabalhos de maneira mais free antes de estabilizar o compasso; em seguida, Nanjo entra em cena, novamente tentando nos mesmerizar com a densa hipnose de seu baixo e vocais ecoantes; e a Kawabata cabe, uma vez mais, dilacerar a fugaz promessa de devaneio opiáceo oferecida por seus confrades, dessa feita com rajadas e mais rajadas de wah wah's alucinados em combustão instantânea. A duras penas, Nanjo e Koizumi restabelecem o beat inicial, numa derradeira quimera de 'normalidade' musical, que será, enfim, pulverizada pela feroz motosserra lisérgica de Kawabata, implacável lança-chamas sonoro em razzias sucessivas de microfonia over the top, bem como por um aterrador terremoto de fuzz bass a cargo de um Asahito Nanjo absolutamente on fire.

Chapeau, meus caros confrades, e uma última observação: Mellow Out é "só para raros, só para loucos" (Hermann Hesse), 'Teatro Mágico do Lobo da Estepe' larger than life para acidheads irrecuperáveis, vagando através dos labirintos siderais do alheamento transpsicodélico. Isto posto, sentencio: que os 'normais' mantenham distância!



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Ten. Giovanni Drogo

Forte Bastiani

Fronteira Norte - Deserto dos Tártaros

2 comentários:

Anónimo disse...

Quem é você?

Alphonse van Worden disse...

Eu sou o Senhor da Montanha; não que isso signifique algo, caso queira dizer alguma coisa.