Trata-se d'uma obra de tal modo impressionante y idiossincrática que não resisto a registrar mais algumas observações a propósito.
- indagado anos mais tarde sobre o significado do título, Rivette declarou o seguinte: "Escolhi OUT em contraposição ao anglicismo 'In', então em voga na França, e que eu achava uma tolice. E como o filme tem uma estrutural serial, que poderia se desdobrar em vários episódios, acrescentei também o número 1." A resposta do cineasta demonstra a que ponto ele estava consciente do desafio que um filme como aquele representava, mesmo num contexto ainda plenamente receptivo às experimentações da Nouvelle Vague. É como frisei em minha resenha: Rivette decidiu levar às últimas e mais extremas consequências todo o universo estético, conceitual y espiritual da Nouvelle Vague, não apenas sem fazer qualquer tipo de concessão, mas indo muito além de tudo que fora proposto antes pelo movimento. Com OUT 1 ele dobra, triplica, quintuplica a aposta, traça a linha de demarcação definitiva: doravante somente os mais fiéis entre os fiéis o acompanharão.
- O poder encantatório do verbo; o condão taumatúrgico, a energia mística da palavra enquanto tal; a autoconsciência progressiva no tocante aos procedimentos e recursos da linguagem, tal como Paul Valéry advogava. Tais são as grandes coordenadas do universo de OUT 1.
- De resto, volto a sublinhar: "cheguei a um estágio em minha trajetória como espectador y ouvinte em que a circunstância de 'gostar' ou não de um filme, uma peça de teatro, um disco está longe de ser o mais importante: importa antes o ASSOMBRO, o espanto, o pasmo, a infinita perplexidade." OUT 1 é se calhar o mais consumado exemplo desta disposição.
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Ten. Giovanni Drogo
Forte Bastiani
Fronteira Norte / Deserto dos Tártaros