Alphonse van Worden - 1750 AD
Egrégios irmãos d'armas:
Certa feita defini como modelos paradigmáticos de excelência intelectual aqueles indivíduos que fossem capazes de articular exemplarmente as 6 virtudes que reputo como cardeais no exercício da atividade intelectual:
CRIATIVIDADE
RIGOR
OUSADIA
LUCIDEZ
CLAREZA
PROFUNDIDADE
A excelência intelectual seria idealmente alcançada mediante a perfeita coordenação entre estas seis virtudes. Digo 'idealmente' por estar cada vez mais convencido da inexequibilidade prática desse paradigma, que no fundo existe tão somente como possibilidade teórica, 'estrela-guia' a servir de farol de orientação. Destarte, o que há são combinações parciais desses elementos. Inclusive, tenho cá para mim que um patamar realista de notável excelência intelectual já é obtido quando três dessas virtudes atingem máxima potência de realização.
Pois bem: La Tradizione Ermetica: nei suoi simboli, nella sua dottrina e nella sua «Arte Regia» (1931), obra de lavra do filósofo italiano Giulio Cesare Andrea Evola, dito Julius Evola, é precisamente um desses casos. Nela o autor de "Gli uomini e le rovine" logra um amálgama particularmente feliz entre RIGOR, PROFUNDIDADE e CLAREZA, o que não deixa de ser sobremaneira surpreendente, tanto em virtude das asperezas notoriamente características do acervo de questões abordado no volume quanto no que tange às idiossincrasias de seu autor. Explico: se profundidade e rigor são qualidades que encontramos em praticamente toda a longa trajetória intelectual de Evola, quero crer que o mesmo juízo não pode ser feito quando se está a falar em clareza; muito pelo contrário, vale dizer: malgrado escreva maravilhosamente bem, malgrado o ínclito pensador peninsular é penosamente hermético (sem duplo sentido, se faz favor), o que também se deve, há que reconhecer, às dificuldades inerentes aos temas habitualmente tratados por ele.
Mas enfim, não é o caso deste livro em particular, o que torna Evola digno de todos os encômios e louvores: converter as crípticas, labirínticas e polissêmicas sendas do simbolismo alquímico num itinerário relativamente compreensível e cristalino para leigos definitivamente NÃO é uma tarefa NADA fácil. Sobre o tema já li tomos de incontestes sumidades tais como Fulcanelli, Mircea Eliade, C. G. Jung, Titus Burckhardt, Serge Hutin etc. e posso afirmar com tranquilidade: nenhum deles ilumina o monólito negro da alquimia com a mesma amplitude que este precioso volume de Evola. Pela primeira vez estou a compreender de maneira visceral, íntima, uma verdade essencial que eu intuía apenas no plano teórico como mero conceito: a dimensão fundamentalmente ESPIRITUAL e METAFÍSICA da tradição hermética, a profunda correspondência existente entre os processos alquímicos e os processos espirituais, entre o 'exterior' e o 'interior', o 'visível' e o 'invisível', o 'material' e o 'imaterial', o 'imanente' e o 'transcendente', o 'natural' e o 'sobrenatural'.
La Tradizione Ermetica é, em suma, uma leitura transformativa, no sentido mais recôndito e crucial desta palavra.