Alphonse van Worden - 1750 AD
O panorama atual
Amiúde associava-se em outros tempos a figura da 'função' a uma postura ideológica e existencial classe 'mérdia', em geral amorfa, indistinta, sem aprofundamento suficiente para ser classificada como 'progressista' ou 'conservadora' mas simplesmente fluindo entre esses dois conforme a conveniência. Não obstante, tem que estar muito atento, sobretudo no Brasil, à existência crescente d'uma subespécie de 'seres-função': os 'funções' da nova esquerda. A maioria dos estudiosos de funcionologia concorda que a chamada "Era Lula" foi o elemento mais importante para o agravamento do fenômeno em tela.
Com a ascensão do petismo, uma colocação no serviço público passou a ser algo cada vez mais almejado por parcelas crescentes da população. Tal dinâmica, por seu turno, permitiu que o 'funcionalismo de esquerda', que antes via de regra permanecia incubado - já que o indivíduo considerava desonroso trabalhar para o Estado 'burguês' - , tornou-se progressivamente manifesto. Assim sendo, ao tradicional contingente dos 'funções-concurseiros', agregou-se a subespécie dos 'funções' de esquerda que, com o advento de um presidente pretensamente da classe trabalhadora e de um partido tradicionalmente forte entre os servidores públicos, passaram a julgar meritório trabalhar para o 'governo'.
Em décadas passadas, a esquerda costumava valorizar a formação universitária, mormente nas áreas História, Sociologia e filosofia política. Isso ainda ocorre no meio acadêmico, saliente-se; existe, todavia, entre a nova geração dos 'funções' de esquerda lulopetistas egressos das classes C e D, uma considerável ojeriza em relação à figura do 'intelectual' e á necessidade do estudo formal. Tal manifestação de repúdio ao saber sempre foi relativamente comum entre os elementos conservadores da classe média baixa; todavia, com a eleição de Lula-Dilma, passou a contar com um verniz 'progressista', já que o presidente teria demonstrado que o preparo acadêmico não é importante para um bom governante.
Ironicamente (ou, se calhar, emblematicamente...), contudo, à medida que as classes C e D atingiram um padrão de vida mais confortável, os homens-função que até então estavam cerrando fileiras com o liberalismo de esquerda paulatinamente rumaram para o liberalismo de direita; e com o massacre midiático sistemático a que foram submetidos os governos Lula-Dilma, hoje estes ex-‘funcionalistas’ da nova esquerda se sentem mais confortáveis dentro d’um espectro mais conservador e entreguista, condizente com nosso cenário politico atual. A era Lula-Dilma e o advento de Temer atualmente evidenciam a facilidade do homem função, essa criatura onde tudo é conveniência, de se camuflar e trocar de parâmetros políticos como quem troca de roupa.
Por fim, é instrutivo observar que a esquerda intelectual, iludida pelo fetiche da ascensão da classe trabalhadora, não conseguiu perceber como estes lhe são profundamente hostis e daí sua atual impotência no Brasil atual.
Em suma: o Funcionalismo hoje é liberal e entreguista nos moldes clássicos do tiozão reacionário que escreve em caps lock no Facebook; amanhã, quem sabe, poderá assumir uma configuração totalmente diferente. Não obstante, devemos sempre estar prontos a mapear tais entidades, não importa a camuflagem que usem, e uma vez identificadas, devemos inapelavelmente destruí-las.