Alphonse Van Worden - 1750 AD
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The road of excess leads to the palace of wisdom
William Blake (1757-1827), "Proverbs of Hell" (1790)
Afoot and light-hearted I take to the open road
Healthy, free, the world before me
Walt Whitman (1819-1892), "The Song of the Open Road" (1855)
Lather (1968)
Jefferson Airplane
Lather was thirty years old today,
They took away all of his toys.
His mother sent newspaper clippings to him,
About his old friends who'd stopped being boys.
There was Harwitz E. Green, just turned thirty three,
His leather chair waits at the bank. And Sergeant
Dow Jones, twenty-seven years old,
Commanding his very own tank.
But Lather still finds it a nice thing to do,
To lie about nude in the sand,
Drawing pictures of mountains that look like bumps,
And thrashing the air with his hands.
But wait, oh Lather's productive you know,
He produces the finest of sound,
Putting drumsticks on either side of his nose,
Snorting the best licks in town,
But that's all over...
Lather was thirty years old today,
And Lather came foam from his tongue.
He looked at me eyes wide and plainly said,
Is it true that I'm no longer young?
And the children call him famous,
And the old men call him insane,
And sometimes he's so nameless,
That he hardly knows which game to play...
Which words to say...
And I should have told him, "No, you're not old."
And I should have let him go on...smiling...babywide
Lather tem hoje 63 anos. Sente-se cansado e, definitivamente, já não é mais um jovem. Podemos afirmar, com um razoável grau de certeza, que já não sente prazer em fazer as coisas descritas pela bela voz de Grace Slick; é também muito provável que seus licks façam agora parte de um outono de indistintos murmúrios dissolvidos nas brumas do passado. Talvez Lather tenha se transformado num cínico membro do Establishment antes tão repudiado, ou então, quem sabe, apenas num homem amargurado e impotente, que deseja ter o que não mais irá reecontrar, algo que só passou a ter real importância para ele quando foi indelevelmente perdido...
Houve um tempo, contudo, em que Lather, embora disso não tivesse muita consciência, tinha à sua frente um imenso horizonte de esperanças e perspectivas. Seu sonho estava ligado ao dínamo turbilhonante do Universo, a alma arremessada na voragem febril de um Quasar de novas sensações e subversões, e tudo era energia, movimento, experimento e tentativa, fervilhando num Summer of Love eterno e resplandecente. Em seu lúcido delírio, Lather, assim como vários outros companheiros de viagem, embarcava numa odisséia alucinógena imprevisível, não à ínclita procura de um Santo Graal ou de um Velocino de Ouro, mas sim na busca irremediável de si mesmo ("when your head is feeling fine, you can ride inside our car, I will give you caps of blue and silver sunlight for your hair, all that soon will be is what you need to see, my love, won't you try, won't you try..."); um si mesmo que deve ser, entretanto, necessariamente compartilhado, como se o sentido mais profundo da existência só pudesse ser desvelado no plano geral de uma vida coletiva e integrada, todos juntos reunidos numa pessoa só, nas palavras de um grande amigo de Lather, Arnaldo Baptista.
Essa fascinante mandala de devaneios, revoluções e metamorfoses iria se refletir, de modo significativo, na história do cinema, sobretudo no final dos anos 60, especificamente com o apogeu do último grande gênero narrativo gestado pela Sétima Arte, o road movie, e num panorama mais amplo, com o surgimento de um cinema psicodélico, em retratos polifônicos que vão da utopia ao pesadelo. Obviamente, a maior parte desses filmes não resistiu à erosão dos anos. Todavia, as poucas obras que permaneceram incólumes, que conseguiram captar o zeitgeist desses anos memoráveis, adquiriram ao longo dos anos um fôlego épico, lendário, um significado que se torna, à medida que o tempo passa, mais forte e importante, ainda que, num paradoxal efeito de estranhamento, pareçam vir de muito longe, de uma insólita
dimensão paralela, resgatados das fossas abissais de uma galáxia nos confins do Cosmos. O fascínio que despertam nesse final de século não depende de uma mera questão de qualidade cinematográfica. O que verdadeiramente garante sua permanência é a vitalidade de seu testemunho, que hoje é mais vigoroso do que ontem, e que será amanhã ainda mais intenso.
Is everybody in?
The ceremony is about to begin....
The Trip (1967), dirigido por Roger Corman, é o filme definitivo sobre o LSD. Melhor dizendo: não é apenas o melhor filme sobre o LSD, mas também o melhor já realizado a partir do LSD e para o LSD. Começo calmo, no máximo um andante maestoso; situação arquetípica: burguês entediado com a vida pessoal e profissional (no caso em questão um diretor de TV interpretado por Peter Fonda) procura caminho para a redenção. Fonda encontra um guru chamado John (Bruce Dern), que sugere um tratamento à base de LSD. E então... Aldous Huxley abre as portas da percepção, e através delas um vertiginoso caleidoscópio de luzes estroboscópicas explode numa policromia de névoas oscilantes, onde Kubla Khan nos convida para conhecer The shadow of the dome of pleasure Floated midway on the waves; Where was heard the mingled measure From the fountain and the caves. It was a miracle of rare device, A sunny pleasure-dome with caves of ice!..., desagüando no oceano iridescente de radiações solares, Interstellar Overdrive de reflexos flamejantes numa infernal fornalha de nácares sanguíneos, trovões cintilantes de energia vulcânica, So there goes Zero the Hero, turning on around the spiral wheel of births and deaths, and meanwhile the Octave Doctors and the Pot Head Pixies and all the other characters of Planet Gong have to leave you now with a last little song... Why don't you try?..., é, pode ser..., Aleph pulsante do Universo em Um grão de areia, curvatura infinita do espaço-tempo onde a existência se contrai no espasmo de um segundo, easy, easy..., entropia crescente que pulveriza o transitório em incontáveis partículas de eternidade, Turn on, Tune in, Drop out, moléculas de Deuses extintos, fragmentados em sonhos, caldo primordial dos aminoácidos da memória, vórtice de caos e destruição, he took a face from the ancient gallery and he walked on down the hall..., eterno retorno de espectros que na alma não encontram perene sepultura, condenados a errar inclementes por intermináveis labirintos, a caminho da ruína metafísica, miríade de horrores na aurora das eras glaciais, escorrendo, translúcidos, por longos corredores plenos de terror e de magia, onde 'Alice in Wonderland' toca cogumelos caminhando por uma diáfana floresta de flautas, e termina por encontrar, transbordando de felicidade, Syd Barrett, Ken Kesey e Timothy Leary dançando sobre flores sorridentes and setting the Controls for the Heart of the Sun...................................STOP, Dave..........I’m afraid.....................I’m afraid...............stop, Dave.....
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..................my mind is goiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiing............
A partir de uma famosa canção de Arlo Guthrie, Alice's Restaurant Massacre (1967), o cineasta Arthur Penn concebeu e dirigiu Alice's Restaurant (1969), delicada anatomia do ideal hippie de uma vida livre e comunitária, explorando todas as suas possibilidades de realização e, numa certa medida, os amargos limites desse sonho. Trata-se, no entanto, de um filme caloroso, solar, ondulando em emanações luminosas que projetam um ideal rutilante e infinito em sua sutil geometria onírica. Penn conseguiu reproduzir, com rara felicidade, a exuberância selvagem e volátil da contracultura ("I do know that I should be here with you this way, and it's new, so new, I see changes, changes, all around me are changes. It's a wild time! I see people all around me changing faces! It's a wild time! I see love all the time!..."); é um filme datado, e por isso mesmo atemporal, porque apenas o que pertence intrinsecamente a uma época é capaz de pertencer a todas as épocas. Penso que é, sobretudo, uma obra genuína e sincera, cujos erros flagrantes se transformaram em elementos geniais com o passar dos anos. "ÓÓÓÓ, ilusões retrospectííívass!!", diria talvez algum filosofante de fancaria perambulando sem rumo entre as Palavras e as Coisas... mas quem se importa? Alice's Restaurant é uma fita muito especial, inexplicavelmente relegada às prateleiras empoeiradas do esquecimento. Porra, por que cargas d'água ninguém mais fala neste filme?!?!?
Get your motor runnin', Head out on the highway, Lookin' for adventure and whatever comes our way, Yeah Darlin' go make it happen, Take the world in a love embrace, Fire all of your guns at once and explode into space, I like smoke and lightning, Heavy metal thunder, Racin' with the wind And the feeling that I'm under, Like a true nature's child, We were born, born to be wild, We can climb so high, I never wanna die...Born to be wiiiiiiild!, Born to be wiiiiiiiiiild!!! ...., roncam as estridentes guitarras do Steppenwolf, enquanto Wyatt Captain America (Peter Fonda) e Bill (Dennis Hopper), sob um poente escarlate, aceleram suas Harleys voando pelas estradas do mito na mais emblemática seqüência de Easy Rider (1969), concebido pela dupla e dirigido por Hopper. Difícil escrever sobre este filme extraordinário, não apenas um dos pontos culminantes da contracultura, mas também um capítulo essencial da nobre estirpe aventureira e libertária de Herman Melville, Henry David Thoreau, Walt Whitman e Mark Twain, que se encarna, por exemplo, na fotografia de Laszlo Kovacs: intensa, radiante, ampla, límpida, altaneira, generosa, espraiando-se por desertos majestosos, desfiladeiros profundos e crepúsculos incandescentes.
Bill e Wyatt, heróis involuntários de uma nova era, maravilhosamente livres e irresponsáveis, desejam apenas viver de acordo com seu ideário hedonista: We want to be free! We want to be free to do what we want to do! We want to be free to ride! We want to be free to ride our machines without being hassled by the man! And we want to get loaded! And we want to have a good time! E é neste contexto que reside a essência de Easy Rider: dois homens buscando uma vida alternativa numa sociedade reacionária e intolerante, onde a diferença só é admitida se puder ser embrulhada e vendida para presente, onde a liberdade é meticulosamente planejada e vigiada. É comovente a patética perplexidade de Fonda e Hopper frente à violência ressentida que encontram pelo caminho. Em sua até certo ponto surpreendente inocência, não conseguem entender por que seu desprendimento libertário é tão inaceitável aos olhos vigilantes da boa consciência, que quer cortar o mal pela raiz.
Depois de ter faturado uma grana alta vendendo uma generosa partida de cocaína para um ricaço de Los Angeles (interpretado pelo produtor musical Phill Spector), a dupla começa sua peregrinação para New Orleans, onde querem chegar a tempo de curtir o Mardi Gras. Logo no início da viagem, dão carona a um hippie que está voltando para sua comuna rural. Wyatt e Bill passam uma temporada na comunidade hippie, onde experimentam a utopia possível de uma vida fora dos padrões da sociedade, sem as amarras do Mercado e do trabalho assalariado. Wyatt sente-se tentado a ficar navegando indefinidamente naquele plácido oceano dourado de paz e lisergia, mas Bill, o cowboy inquieto e elétrico, quer permanecer livre de todo e qualquer compromisso, e os dois caem na estrada mais uma vez. Em uma pequena cidade esquecida na poeira do deserto, Wyatt e Bill são detidos por participarem ilegalmente de uma parada local. Sua mera presença é insuportável para a letargia mórbida e agressiva da América interiorana e paranóica, que quer sustentar, a qualquer custo, uma visão de mundo em estágio irreversível de putrefação. Encontram então George Hanson (interpretação arrebatadora de Jack Nicholson), um advogado beberrão que está dormindo na cadeia depois de um porre homérico; um Peter Pan etílico, sabe que não mais agüenta a vida que leva, mas não sabe o que fazer e nem para onde ir, talvez porque nunca tenha tido a oportunidade de agir livremente; quer mudar, mas não sabe como, pois seu horizonte é limitado; nascido e criado no obscurantismo, quer encontrar a luz, mas tudo o que conhece são reflexos de sombras fugidias.
George, usando suas conexões locais, consegue soltar nossos heróis e decide seguir viagem com eles, acalentando o sonho de conhecer um famoso bordel de New Orleans, a House of Blue Lights. Numa seqüência digna de qualquer antologia rigorosa, Hanson, à luz de uma fogueira, fuma com os novos amigos seu primeiro baseado, e desfia uma série de abstrusas elucubrações sobre como os venusianos teriam desembarcado na Terra e já estariam ocupando diversos cargos importantes. Em outra passagem notável, o trio entra numa lanchonete de beira de estrada para tomar algo. Um grupo de meninas olha de soslaio e lhes sorri timidamente. Uma cumplicidade silenciosa se estabelece entre as duas partes. Contudo, há um terceiro grupo no local: a escumalha do mais abjeto conservadorismo sulista, white trash interiorano, rednecks dispostos a eliminar qualquer manifestação de vida independente ou criativa, o furor maníaco faiscando em seus olhos. As adolescentes estão, podemos dizer, na mesma situação do advogado George: querem outra vida, outras sensações, novos caminhos e perspectivas, mas os meios para tanto lhes são negados. Uma delas pede para dar uma volta na moto do charmoso Captain America. É o suficiente para a ululante polícia do pensamento se decidir a agir: à noite, já adormecidos à beira da estrada, Billy, Wyatt e Hanson são brutalmente espancados pelo bando de rednecks; o advogado morre, mísero pássaro abatido antes de realmente começar a voar; Billy e Wyatt, embora muito feridos, conseguem escapar. Seu ideal começa a se trasformar em tétrico pesadelo: já não podem exercer sua liberdade sem serem ameaçados por outros homens. Na America demolidora de sonhos e utopias, não há lugar para eles.
Cada vez mais angustiados, prosseguem em sua viagem para New Orleans. Ao chegarem, se encaminham para o bordel mencionado pelo amigo morto. Com duas putas (Karen Black e Toni Basil) a tiracolo, vão até um cemitério próximo, e lá acabam por promover uma festinha regada a LSD........ BAD TRIP, terror, paranóia, visões funéreas, acenos alucinógenos de Kenneth Anger, litanias sepulcrais, basiliscos venenosos, Missa dos Vermes, na floresta um Sabbath infernal, onde o Bode Negro, ereto em seus pés bifurcados, vociferando maldições terríveis, traça um pentagrama com sangue impuro, enquanto, em louvor a seu Mestre, mulheres nuas e corrompidas profanam um crucifixo sob o eflúvio de miasmas lunares, O toi, le plus savant et le plus beau des Anges, Dieu trahi par le sort et privé de louanges, O Satan, prends pitié de ma longue misère! (...) Toi qui mets dans les yeux et dans le coeur des filles Le culte de la plaie et l'amour des guenilles, O Satan, prends pitié de ma longue misère!...
Deixando para trás New Orleans e o que restou da utopia em frangalhos, a dupla retorna mais uma vez à estrada, para morrer estupidamente nas mãos de dois caminhoneiros, certamente respeitáveis cidadãos da America ordeira e civilizada. Síntese áspera e definitiva: junto aos corpos sem vida de Wyatt e Bill, dispersos na poeira das esperanças desfeitas, estão os despojos do sonho de toda uma geração.
Michelangelo Antonioni, tendo sido, entre 1960-64, o aristocrático e glacial encenador de hipnóticos ballets sobre o vazio espiritual da burguesia italiana, e mais tarde, em 1966, o cronista irônico e elegante da Swinging London, decidiu, em 1970, partir para a guerrilha com Zabriskie Point. Nas memoráveis seqüências iniciais, Antonioni joga o espectador no olho do furacão: California, Universidade de Berkeley, 1969. Rebelião estudantil, repressão policial, resistência. Tensos, os debates entre os estudantes se sucedem como rajadas de metralhadora, percorrendo, de modo direto ou indireto, as esquinas da revolução: guerra do Vietnã, Vietcongs, direitos civis, racismo, sublevação jovem, contracultura, I want everybody to kick up some noise! I wanna hear some revolution out there, brothers! I wanna hear a little revolution! Brothers and sisters, the time has come for each and every one of you to decide whether you are gonna be the problem, or whether you are gonna be the solution? You must choose, brothers, you must choose!! Brothers , it's time to testify and I want to know, Are you ready to testify?!?!?..., Youth International Party, Abbie Hoffmann, Jerry Rubin, Students for a Democratic Society, Jane Alpert, Mario Savio, sit-ins, Black Panthers, Bobby Seale, Huey P. Newton, Eldridge Cleaver, yeah..., I'm mad like Eldridge Cleaver..., maio de 68, C'est interdit d' interdire!, Le droit bourgeois est la vaseline des enculeurs du peuple!!, Marx/Mao/Guevara/Ho Chi Minh, a Révólução Sóvyétika, a Ré-vólução Sóvyétika, a Ré-vó-lu-ção Sóvyétika de 1917 comandada por Lénine, Trótski e Staline subverte completamente o discurso kapytalysta norte-americano, marxismo, anarquismo, anarco-sindicalismo, feminismo, terrorismo, situacionismo, Guy Debord, "O tédio é sempre contra-revolucionário. Sempre!", maoísmo, a grande Revolução Cultural Proletária cantando 'O oriente é vermelho!', 'Todos os reaccionários são tigres de papel!!!', 'Longa vida ao Grande Timoneiro!!!', Da da da Da dao Liu Shaochi Bao bao bao Bao wei Mao Zhu Xi Liu Shaochi Fan dui Mao Zhu Xi Wang Guang Mei Ni ai chou mei!!!!
Um dos estudantes, Mark (Mark Frechette), o cérebro imerso num borbulhante lago de névoa púrpura, está alheio a tudo. Sai da reunião, rouba um aeroplano, sobrevoa o deserto californiano e encontra a freak Daria (Daria Halprin), linda, louca e pronta para amar alucinadamente ou então destruir a Terra, o que for mais excitante. Juntos rumam para o mefistofélico Death Valley, o verdadeiro Heart of Darkness da América. A fotografia de Alfio Contini, megatons fulgurantes de luz implodindo as fronteiras entre o tangível e o intangível, prepara a liturgia. E aí, ladies and gentlemen,... o cineasta italiano resolve nos brindar com o mais absoluto desregramento de todos os sentidos, exibição legítima de Teatro da Crueldade, Maldoror anfetamínico a 24 quadros por segundo: brandindo as serpentes Hopi, o Xamã da Grande Cuenca invoca os elementos sagrados, exorciza os cachinas e inicia a Dança dos Espíritos em louvor de Wakonda, tremores cabalístiscos de Tarahumaras, ritos animistas, cânticos sacrificiais, transes místicos, visões de entidades polimórficas se dissipando nos olhos faiscantes da escuridão, demônios voadores, Senhor Invisível do Peyotl invocando Huiracocha, fluido imaterial das tonitruantes batidas do inviolável Coração da Terra, Pachamama alimentada pela chicha produzida nas planícies vermelhas da cidadela perdida..., raios cósmicos de Inti inundando o Vale das Sombras desenhado no céu cravejado de chagas, capachuchas onde se celebra o sangue derramado pelos inocentes para lavar a alma dos pecadores, Mistérios de Elêusis na madrugada sangrenta de íncubos e súcubos, magia lasciva das orgias órficas nas florestas helênicas, diáfana sinfonia de reflexos luminosos, etéreos vapores coloridos compondo um bailado cintilante de devaneios em forma de hamadríades, sílfides, naíades e orestíades, volúpia sagrada de entidades sedutoras e letais..., a aura tenebrosa de Alesteir Crowley pairando entre a revoada de espectros, 666, Do what thou wilt shall be the whole of the Law!, RA-HOOR-KHUIT MPH ARSL GAIOL RAAGIOSL BATAIVAH TEAA BAPHOMET OIP PDOCE AEDLPRNA HERU-RA-HAHA IO IO IO KYRIE ABRASAX AGAPH QELHMA BAHLASTI ANKH-AF-NA-KHONSU MEITHRAS KYRIE PHALLE!...........................
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......AAAAAAAAAAAAAAAAAUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUMGN......
Antonioni então orquestra o desenlace de seu terremoto psicodélico: Mark está morto; Daria contempla uma mansão debruçada sobre o abismo; massas de ar inerte; a atmosfera imóvel, assustadoramente imóvel, encarcerada numa paralisia de morte; força de expansão concentrada que não se dispersa. Movimentos espasmódicos que se anulam; a animação suspensa de uma tempestade congelada; aves do inferno num vôo que já não terá fim; o intenso olhar de Daria dispara centelhas flamejantes de ódio e devastação. A última sacerdotisa desencadeia, por fim, o Apocalipse anunciado desde a longa noite escura antes da Criação..... bombardeio de napalm psíquico, explosões contínuas, polifonia das trombetas dissonantes vertendo cataratas de lava fervente, singularidade gravitacional do espaço-tempo atravessando a colisão cataclísmica de sistemas estelares gigantescos, a Prostituta da Babilônia e seu metuendo dragão apagando miríades de galáxias, enquanto GOG e MAGOG tragam planeta após planeta, despejando incontáveis almas no ardente mar dos mortos, espíritos fulminados por um fogo sem luz, a música das esferas naufragando no Báratro Primordial, e nesse momento o Lobo Fenrir devorará a Lua ensangüentada, e a Serpente de Miðgarðr separará a Terra do Firmamento, provocando, com um urro medonho, a cavalgada derradeira dos filhos de Múspell; e então Surtr, seu majestoso Senhor, sobre os despojos do próprio Óðinn e entre as ruínas fumegantes de Ásgarðr, empunhando uma magnífica espada, reluzente como cem mil supernovas, arrojará fogo sobre a Terra e irá submergir todo o Universo em labaredas colossais... "o Sol escurecerá; a terra no mar afundará; o céu será arrancado de suas brilhantes estrelas; a fumaça da ira e a fumaça do fogo alimentarão a chama que lamberá os Céus".....and what rough beast, it's hour come round at last, Slouches towards Bethlehem to be born?. ....Hey!!.................Beware!!!....................
.........Careful with that Axe, Eugeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee..............