segunda-feira, janeiro 02, 2006

Banzai!!! - I

Alphonse van Worden - 1750 AD





Meus caríssimos confrades, em verdade vos digo, em bom, curto, castiço e escorreito português: FODEU...

... pois o que de todo parecia inconcebível enfim parece ter ocorrido: os limites extremos do que poderia ser feito em termos de rock’n’roll foram alcançados. É isto mesmo, senhoras e senhores: a derradeira fronteira foi transposta, rompeu-se a barragem do som, a obliteração sônica de todos os sentidos via implacável devastação übber rockist foi levada a efeito. O grande culpado? Blame it on Makoto Kawabata, Grã-Ronin do estraçalhamento psíquico de garagem, Shaman Warrior King dos báratros do pesadelo psicodélico e Custódio Transfinito dos Arcanos Sônicos do Apocalipse.

Por ocasião do décimo aniversário de sua cria mais dileta, a anárquica comuna místico-musical Acid Mothers Temple & The Melting Paraíso U.F.O., Kawabata parecia um tanto quanto entediado com o facto de seu assombroso terremoto estético de estimação ter de certa forma assumido um contorno mais high profile (AMT high profile?!?!? Bem, talvez para junkies terminais vagando pelos labirintos cibernéticos do Império do Sol Nascente, ou então para congêneres escandinavos hibernando n’alguma caverna gelada sob a sombra cônica do Sneffels...); assim sendo, decidiu bagunçar um pouco o coreto, arregimentando figuras egressas de formações como Boredoms, Ghost, Mainliner e Zeni Geva para formar o Acid Mothers Temple & The Cosmic Inferno. E o resultado é Just Another Band From The Cosmic Inferno.

São duas faixas: a primeira, Trigger In Trigger Out (com 'somente' 20 minutos) é um maelstron de microfonia inclemente e brutalismo percussivo ao estilo das rajadas eletromagnéticos presentes em Electric Heavyland, ou seja, o terrorismo sonoro de rigueur que já caracterizava a faceta mais turbulenta da encarnação anterior do AMT; é portanto na segunda faixa, minhas senhoras e meus senhores, que o caldo entorna de vez...: com singelos 44 minutos de duração, They're Coming from the Cosmic Inferno desafia qualquer descrição ou análise; como já salientei, Kawabata e sua gang de propagadores de ruído patafísico abandonam as últimas paragens conhecidas do rock para precipitar-se numa ignota e ominosa nebulosa de caos, um massacre ultra/mega/hiper/meta/trans-psicodélico, descomunal, ciclópico e rigorosamente insano, sem um segundo sequer de pausa; não há, pois, aqueles interlúdios 'táticos' para que a peça volte à carga com mais intensidade depois, mas sim a banda trovejando ininterruptamente em 'full power flat out noise terror atack' mode ON. Confesso que por volta dos 25, 26 minutos a ‘coisa’ já havia me derrotado, deixando-me de todo prostrado, inerte e entorpecido, incapaz de esboçar qualquer reação, e assim submergindo em definitivo num oceano magmático de white noise oriundo do próprio Inferno. Trata-se, confrades, de ultraviolência sônico/sadomasoquista em aterrorizantes espasmos de crueldade e, em conseqüência e última instância, nazifascista... é, quiçá esta seja exatamente a metáfora mais adequada: caso Heinrich Himmler, Reinhard Heydrich, Karl Maria Wiligut e Julius Evola fossem fanáticos por rock’n’roll e viciados em heroína, Just Another Band From The Cosmic Inferno decerto seria o álbum registrariam ao cabo de uma delirante jornada embalada por toneladas de brow sugar e sanguinolentos rituais neopaganistas.

Se gostei? Hmmm... creio que esta questão poderia ser melhor respondida no âmbito da noção kantiana de ‘sublime’, isto é, fenômenos incomensuráveis à escala humana, que nos fascinam e horrorizam em grau máximo ao mesmo tempo; ou então, como diria o crítico musical Dominique Leone, a propósito, aliás, de outro petardo do grupo de Kawabata, e porventura de forma mais sintética e eficaz: ”how much is too much?”. 




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